Categoria Politica  Noticia Atualizada em 20-05-2009

Petrobras: Dias nega corrupção no governo FHC
Os senadores Álvaro Dias e Sérgio Guerra, indicados pelo PSDB para integrarem a CPI da Petrobras
Petrobras: Dias nega corrupção no governo FHC
Foto: José Cruz/Agência Brasil

Thias Bilenky

O PSDB briga pela presidência da CPI da Petrobras. O autor do requerimento de instalação, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), assegura esforço máximo para driblar a desvantagem numérica da oposição. Tucanos e democratas, juntos, somarão cinco membros: três titulares e dois suplentes. O governo contará com oito vagas.

Caso a oposição vença a presidência, um possível entendimento seria o PSDB ceder ao DEM o posto de um titular em nome do comando da comissão. O nome do senador ACM Júnior (DEM-BA), contudo, já surgiu para o cargo. Dias localiza dificuldades de se trabalhar em minoria:

- Estamos cumprindo nosso dever, mas não podemos gerar uma falsa expectativa de que a CPI vai obter sucesso na apresentação de um diagnóstico complexo sobre a gestão da Petrobras.

Em entrevista a Terra Magazine, o senador Álvaro Dias afirma que não há nenhuma denúncia envolvendo a estatal durante a época do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Se houvesse denúncia, não tenha dúvida que o PT teria instalado CPI. Se não instalou é porque não encontrou nenhum ato de corrupção à época que justificasse a instalação de CPI", argumenta.

Terra Magazine - O PSDB resolveu não esperar a fala do presidente da Petrobras para instalar a CPI. Tem um afobamento?

Álvaro Dias - (Risos) Não. CPI é CPI. Não tem nada a ver a palavra do presidente da Petrobras com os objetivos de uma CPI. Qualquer que fosse o pronunciamento do presidente da Petrobras não anularia os atos praticados pela empresa, que justificam a instalação da CPI. Então, na verdade, foi uma tentativa de arrumar um pretexto para impedir a instalação da CPI, para evitar a CPI. E essa CPI é irreversível. O que tornou a CPI irreversível foi exatamente o comportamento da direção da Petrobras, que vem mantendo uma gestão claudicante já há algum tempo, que é resultante do loteamento da empresa entre os partidários do governo que acabou por comprometer a qualidade de gerenciamento. Não havia razão alguma para ouvir um depoimento no Senado do presidente da Petrobras. O local para o depoimento do presidente será a CPI.

A oposição deverá ter três titulares e dois suplentes na comissão. O governo terá número maior. Como o PSDB vai atuar em relação a isso?

Vai fazer o possível para investigar, propondo convocações, requisitando documentos. Embora com minoria, nós vamos propôr. O governo, se rejeitar, vai ter que assumir a responsabilidade de rejeitar as proposições da oposição com objetivo de apresentar um diagnóstico da realidade da empresa. Isso tudo para preservar a empresa. Este é o objetivo da CPI, o nosso enfoque é de preservação da empresa.

Espera qual comportamento do PMDB na comissão?

Não sei ainda quais serão os indicados do PMDB. Não tenho idéia de qual será o comportamento do partido.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) pode estar na comissão.

Não tenho essa informação. Espero que a presidência seja da oposição. Tem sido assim, é da tradição, e ontem (19) senti que boa parte da base aliada do governo é favorável a que a oposição fique com a presidência.

O líder do PT na Câmara diz que não há fato determinado para justificar a CPI. O senhor pode dizer qual é o fato determinado?

Todos os fatos estão elencados no requerimento. O fato determinado são aqueles que motivaram inclusive operação da Polícia Federal: Castelo de Areia, Royalties e Águas Profundas. Auditorias do Tribunal de Contas e denúncia do Ministério Público. São, portanto, fatos relevantes que determinaram essa CPI. Superfaturamento na refinaria em Pernambuco, ativos irregulares concedidos nas obras de plataforma de exploração de petróleo, pagamentos a usineiros de R$ 178 milhões, sonegação de R$ 4 bilhões e 300 milhões...

Em relação a isso, existem outras estatais que praticariam, segundo as denúncias sobre a Petrobras, manobras fiscais?

Estatais não se conhece. Há informações de que, em razão do exemplo da Petrobras, algumas empresas privadas adotaram esse procedimento em prejuízo dos Estados e municípios.

O presidente da Petrobras garantiu que uma medida provisória legaliza a tributação da variação cambial.

Isso é de responsabilidade do próprio governo. Quer dizer, o governo estimulando a sonegação.

Se é uma prática que, primeiro, o governo assume como correta, segundo, é disseminada, por que uma investigação para investigar especificamente a Petrobras?

Imagine se todos os contribuintes brasileiros adotassem esse procedimento? Até este momento, pelo menos, denúncia só em relação à Petrobras. Nós temos que discernir de outras empresas que teriam sonegado. E olha que é uma sonegação gigantesca.

Prevê alguma consequência ou respingo da CPI nas eleições de 2010?

Nenhuma. Não há objetivo da nossa parte. O nosso objetivo é preservar a empresa. Não estamos preocupados em explorar politicamente a corrupção que há na Petrobras. O que nós queremos é combater a corrupção.

Tentando combater a corrupção, haverá possibilidade de as investigações retrocederem à época do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)?

(Risos) Não há nenhuma denúncia sobre a época do Fernando Henrique. Não há nenhuma denúncia. Se houvesse, não tenha dúvida que o PT teria instalado CPI. Se não instalou é porque não encontrou nenhum ato de corrupção à época que justificasse a instalação de CPI.

Sobre estes possíveis efeitos econômicos... O senhor disse que a corrupção desvaloriza mais a empresa do que a investigação...

A CPI valoriza, não desvaloriza. Porque a CPI instalada e atuando mostra ao mercado que há autoridades dispostas a combater a corrupção. O que desvaloriza realmente é a corrupção e a má administração.

O senhor não está preocupado com esta questão?

Não há nenhuma razão para preocupação. Isso é discurso do governo.

A Federação Única dos Petroleiros promover ato na quinta-feira contra a CPI, sindicatos e movimentos sociais se posicionarem contra CPI, isso pode influenciar?

Quem é contra a CPI é a favor da corrupção. No Brasil existem aqueles que condenam a corrupção e aqueles que se aproveitam dela. Evidentemente aqueles que se manifestarem contra a CPI passam a se filiar neste batalhão dos coniventes ou dos que se beneficiam de corrupção. Existem aqueles que são cúmplices...

O governo é cúmplice ou beneficiário da corrupção?

Aqueles que não combatem a corrupção se tornam cúmplices ou se tornam beneficiários dela.

A Petrobras sofreu valorização nos últimos anos, cresceu por conta da descoberta do pré-sal, acaba de fechar acordo com a China. Ainda assim, o senhor vê que a suposta corrupção atingiu a Petrobras?

Atingiu e bastante. Veja que houve desvalorização de ações no ano passado que fez com que instituições financeiras internacionais cobrassem explicações da administração da Petrobras. A administração da Petrobras no mínimo devia explicações sobre o modelo de gestão que estava adotando. Depois a Petrobras foi à Caixa Econômica tomar emprestado R$ 2 bilhões para acertar o caixa. Portanto, uma empresa tão poderosa como a Petrobras chegar a ter dificuldades de caixa tem uma administração temerária. E, depois, no final do ano, para acerto de caixa também, sonegou R$ 4 bilhões e 300 milhões. O governo anunciou auto-suficiência em petróleo mas há uma previsão para este ano de um déficit da balança comercial de óleo e derivados de 8 bilhões de dólares. Então o discurso do governo não é verdadeiro em relação ao desempenho da administração da Petrobras nos últimos meses.

O senhor está confiante com relação aos resultados da CPI?

Não. Não gero nenhuma expectativa, porque somos minoria. Estamos cumprindo nosso dever, mas não podemos gerar uma falsa expectativa de que a CPI vai obter sucesso na apresentação de um diagnóstico complexo sobre a gestão da Petrobras. Mas nós temos que tentar.

Terra Magazine

Petrobras: Dias nega corrupção no governo FHC.

Os senadores Álvaro Dias e Sérgio Guerra, indicados pelo PSDB para integrarem a CPI da Petrobras.

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir