Categoria Politica  Noticia Atualizada em 22-05-2009

Guantánamo é tortura política para Obama
Detentos de Guantánamo rezam dentro da prisão
Guantánamo é tortura política para Obama
Foto: AP

Caio Blinder

NOVA YORK- Em um discurso na quinta-feira, Barack Obama mais uma vez lamentou a herança maldita da era Bush. Mas é isso aí, presidente: a economia, duas guerras e o limbo penal e judicial que é Guantánamo são seus problemas agora. Na quinta-feira, Obama reafirmou a decisão de fechar a prisão que fica em Cuba e onde estão suspeitos de terrorismo, mas não repetiu a promessa de fazê-lo até janeiro. Na prática e nos detalhes, como reconheceu o presidente no seu discurso, é bem complicado.

Ainda são 240 homens na prisão militar. Em muitos países europeus, onde existe uma gritaria sobre violação de direitos humanos em Guantánamo, inexiste disposição para receber prisioneiros e, dentro de casa, os congressistas não querem ajudar Obama a resolver o problema, que significaria acolher suspeitos de terrorismo em seus distritos eleitorais.

Como disse o presidente, Guantánamo é uma sujeira e não será fácil limpar os problemas legais, éticos e políticos desta decomposição orgânica da guerra contra o terror. Existem medo, vergonha e hipocrisia envolvendo o destino da prisão e de seus prisioneiros.

O site Politico.com tentou destrinchar algumas das questões. Por exemplo: o problema mais espinhoso, como observou Obama, não são os piores entre os piores prisioneiros. Líderes da rede Al Qaeda, como o arquiteto dos atentados de 11 de setembro, Khalid Sheikh Mohammed, dão medo, mas não são uma dor de cabeça moral ou política. Basicamente todos concordam que ele e gente de sua laia devem, no mínimo, ficar atrás das grades para sempre.

O drama é a massa genuinamente perigosa da rede Al Qaeda e do Taleban que não participou de atentados terroristas, mas teve treinamento e promete fazer o possível para matar os "inféis". No jargão de Guantánamo, o grande problema não é Khalid Sheikh Mohammed, mas Mohammed Mohammed, ou seja, o extremista comum.

Haverá novas regras para comissões militares que julgarão alguns suspeitos e um punhado de detidos serão julgados em cortes civis federais. Aqui há outra drama para Obama: evidências obtidas através de tortura serão inadmissíveis em tribunais civis. Como então levar a julgamento estes suspeitos? Eles podem se safar graças a tecnicalidades. E aqueles que não serão levados a julgamento? Congressistas não querem acolhê-los em prisões em seus distritos e rechaçam a idéia de muitos deles serem libertados.

Há retórica e promessas de Obama para alterar o modus operandi da guerra contra o terror e a perpectiva do ex-professor de Direito Constitucional de que os valores democráticos podem imperar apesar do desafio à segurança nacional. Mas, de certa forma, ele está amarrado em uma camisa-de-força. Não pode parecer fraco, dando munição ao Senhor Escuridão Dick Cheney (o ex-vice-presidente que hoje é o líder visível da oposição) e combate ao terrorismo é barra pesada mesmo.

Obama sugere, diante deste cenário, uma linha mais dura do que na campanha eleitoral, para o desencanto de setores liberais, e fala da necessidade de um compromisso com o Congresso para que alguns suspeitos sejam trazidos para solo americano para ficarem detidos de forma indefinida, sem acusação formal ou jugalmento.

Dezenas de suspeitos podem terminar em países árabes e aí só Alá sabe o que acontecerá com eles. E existe o pesadelo conveniente para os setores conservadores liderados pelo ex-vice presidente Dick Çheney: libertados podem voltar ao terrorismo. Numa estimativa do Pentágono, isto já aconteceu com 1 em 7 soltos em Guantánamo. Morbidamente, Cheney se prepara para o dia em que poderá dizer: bem que eu avisei.

Guantánamo é uma tortura política para o governo Obama. Vai doer e não adianta chorar que foi culpa de Bush.

Guantánamo é tortura política para Obama.

Detentos de Guantánamo rezam dentro da prisão.

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir