Categoria Tecnologia  Noticia Atualizada em 25-05-2009

Preconceito é coisa do passado, dizem nerds assumidas
Popularização das tecnologias deixa geeks um passo a frente. Games e quadrinhos entram na lista de prioridades das garotas.
Preconceito é coisa do passado, dizem nerds assumidas
Foto: G1/Arquivo Pessoal (Mariana Amaro)

Já diz a piada que existem 10 tipos de pessoas no mundo: aquelas que entendem linguagem binária e aquelas que não podem ser consideradas nerds – ou geeks. Seja culpa da "evolução da sociedade", da "explosão da internet" ou de qualquer outra expressão questionável, o fato é que os nerds se livraram dos estereótipos que os condenavam em filmes adolescentes da década de 80.

Eles têm vida social, saem para se divertir, têm amigos (nerds ou não), sabem se comunicar e, no quesito tecnologia, estão passos adiante de boa parcela da população. Dominam redes sociais, montam seus próprios computadores (consertam os de amigos e familiares), derrubam o mundo com um smartphone em mãos e criam blogs e podcasts quando querem. Como diz aquela frase, erroneamente atribuída a Bill Gates: "Seja gentil com os nerds – você pode acabar trabalhando para um deles".

Mariana, Gabriela e Viviane são nerds e geeks assumidas. Jogam videogame, colecionam quadrinhos e falam sobre cinema e literatura com a naturalidade de que se sente à vontade com o rótulo que um dia foi pejorativo. Elas conversaram com o G1 sobre como é ser nerd ou geek, em tempos de Twitter, Facebook e videogames.
Convertendo o namorado

"Fui salva pela Tectoy. Ela lançou o Master System rosa!", comemora Mariana Amaro, 20 anos, estudante de jornalismo e uma dos seis filhos da família de Porto Alegre. Ela conta que sempre gostou de videogames, mas sua mãe achava que era "coisa de menino". "Queriam que eu brincasse de Barbie e de casinha". O Master System "personalizado" foi sua salvação.

"Minha mãe não teve como dizer não. Mas quem me deu o videogame foi minha tia. Eu jogava ‘Monica no castelo do dragão’, ‘Pyscho fox’, ‘Sonic’ e outros. Mas sempre com meus amigos – nenhuma guria jogava game quando eu tinha essa idade", conta.

Hoje Mariana tem professores geeks, compartilha games com o namorado (que converteu depois de algum esforço), compra edição de colecionador de games "blockbusters" ("Fallout 3") e tem um blog sobre games com outras três garotas. "Estou me especializando em games", conta. Está sempre on-line, seja no PC ou no Xbox 360.

Ela é uma das integrantes do blog "Warpgirls", que provoca já na apresentação: "Garotas que jogam videogame são raras? São nerds? São geeks? São estranhas? São alienígenas? São zumbis alienígenas, estranhamente nerds, geeks e raras?" O blog foi formado através de um concurso de um blog maior, o Warpzona, e desde então vem dando certo para as garotas.

"Só nos falamos on-line", diz Mariana. "Há uma semana conheci uma das meninas ao vivo, foi demais. São amigas verdadeiras que a internet me trouxe". Mariana diz que hoje ser nerd, ou geek, deixou de ser motivo de exclusão. "Hoje em dia ser conectado ao mundo, saber muito de coisas geeks – que virou cultura pop – é cool. Geek é cool".
Montanha de quadrinhos

"Quarenta horas por semana trabalhando com mangás, entre atividades de revisão e diagramação". No final de semana, Xbox 360 com o namorado – de "Resident evil 5" a "Gears of war". Gabriela Kato, 22 anos, é assistente editorial, cursa editoração e ainda se considera novata no mundo dos jogos de tiro. Usa Twitter, mas não tem blog, nem muito tempo para correr atrás desses outros interesses.

"Gosto de ler sobre alguns produtos curiosos na área de tecnologia, mas não acompanho todas as novidades", explica. Ela tem notebook, iPod nano, celular "simplezinho" e, para trabalhar, um tablet e um scanner.

Para ela, as redes sociais aproximam as pessoas, e os "nerds" não são tão distantes como a sociedade gosta de acreditar. "Conheço muitos que não só têm amigos e se relacionam socialmente sem problemas, como têm mais amigos e contatos do que muitas pessoas consideradas ‘normais’".

Gabriela lê seus livros, "mais para estudo do que lazer", organiza a coleção de quadrinhos, pergunta no Twitter se o enredo de "Gears of war" faz algum sentido e encerra: "Se há comemorações para mulheres, orgulho gay, consciência negra, por que não uma para o orgulho nerd?".
Geek, com orgulho

Viviane conheceu o namorado em um jogo de RPG, e com ele compartilha a maior parte dos interesses. Aos 30 anos, ela é bacharel em direito e interpretação teatral. Lê J.R.R. Tolkien, joga "World of warcraft" e se considera "geek, com orgulho".

"Sou uma pessoa com muitos amigos e costumo me encontrar com eles sempre que posso. E quando não dá para ser pessoalmente, principalmente durante a semana, há como manter contato pela internet e afins", explica.

Viviane cumpre as tarefas rotineiras do dia-a-dia e, nas horas livres, gosta de ler quadrinhos e livros de fantasia e jogar jogos de computador "dos mais variados". Ela também assiste a séries de TV, mas diz que "a coisa nerd que mais adora" é jogar RPG. "Sempre que posso tento achar um espaço na minha rotina para participar de uma roda, mesmo durante a semana, nem que seja à noite".

Foi em um desses jogos que Viviane conheceu o namorado, que compartilha a maioria de seus gostos. Ela não tem fascínio pelas novas tecnologias, "se o celular receber ligações, para mim já está legal", mas diz que não vive sem computador.

O namoro não tem obstáculos. "A relação é ótima. Um não enche o outro quando vai fazer suas ‘coisas nerds’. Como gostamos das mesmas coisas, não há sacrifício algum em ter de ir junto. Pelo contrário, é um prazer".

Preconceito é coisa do passado, dizem nerds assumidas

Fonte: G1
 
Por:  Robson Souza Santos    |      Imprimir