Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 02-07-2009

Michael Jackson: Funeral à vista e pai excluído do testamento
Um trabalhador de Neverland rega a coroa de rosas brancas que enfeita a porta de entrada no antigo rancho de Michael Jackson
Michael Jackson: Funeral à vista e pai excluído do testamento
Foto: Carolyn Kaster/AP

Ainda não se sabe onde Michael Jackson será sepultado: uma campa citadina é mais previsível que Neverland, o rancho utópico, distante e incompatível com peregrinações de fãs. No testamento, o pai do rei da pop foi olimpicamente ignorado.

Não sei o que um testamento revela sobre uma pessoa mas, no caso de Michael Jackson, quase se adivinha uma inclinação conservadora, como se ele, pai de família acima de mais nada, estivesse cansado de não pertencer a lugar nenhum após uma vida errante marcada pelo sucesso internacional.

Os filhos, a quem ele desejava, claramente, uma vida mais estável, foram deixados aos cuidados da avó, mãe dele, o que não deixa de ser um gesto tranquilizante. Havendo falta dela por morte ou incapacidade, ficou estipulado que os garotos deveriam ser entregues à guarda da cantora Diana Ross, que tem 65 anos e sempre foi muito amiga de Michael Jackson.
Os bens foram deixados à supervisão materna, com apenas 5% de controlo reservado aos advogados, que, bem avisados, foram imediatamente ao juiz pedir um congelamento de movimentos e decisões em tudo que estivesse relacionado com o imenso espólio cultural deixado pelo cantor.

O pai, Joseph Jackson, foi olimpicamente ignorado aquando da redacção do documento sucessório, que os advogados do cantor dizem datar de 2002. É o último testamento assinado por Michael Jackson e não deverá ser contestado.

Ainda não se sabe onde é que a família Jackson decidirá sepultar o filho Michael. O rancho utópico que Jackson tinha perto de Santa Bárbara, baptizado Neverland e aninhado nas vinhas do vale de Santa Inez, continua a ser visto como possibilidade. Mas é provável que o legado cultural e comercial do rei da pop não seja compatível com campas distantes.

Quem vai a Santa Bárbara não é necessariamente fã eterno do cantor. Michael Jackson não gostaria de ser abandonado assim sem mais, debaixo de um sobreiro sombrio situado nos confins de uma casa museu. Uma campa na cidade é talvez melhor ideia, se a ideia for manter a imagem viva na mente dos admiradores. É preciso haver peregrinações, um jazigo expressivo feito de mármore trabalhado, um bocado de drama, muitas flores frescas o ano todo, fazer parte do roteiro turístico e manter o lugar na banda sonora geral.

Para já, o corpo de cantor mantém-se na câmara frigorífica no cemitério Forest Lawn de Hollywood Hills, que é uma espécie de miradouro relvado sobre os estúdios do rato Mickey.

O velório público terá de ser em recinto que acolha multidões. Jackson era adepto de uma certa etiqueta imperial e gostava de aparecer a cerimónias na Casa Branca em estilo ditador-disco. Por isso, é provável que a vistoria fúnebre tenha lugar no Staples Center, a arena de espectáculos desportivos e musicais, que, caso fique decorado em estilo Disney com seda branca e rosas brancas, num instante se torna apresentável para que Jackson faça, pela última vez, a sua entrada em grande diante das câmaras.

Foi igualmente noticiado que a Drug Enforcement Agency já faz parte do processo de investigação. A morte de Michael Jackson passou a ter gabarito federal. Como a agência agora envolvida lida com o tráfico ilícito de narcóticos, presume-se que esteja a ser feito um esforço extra no sentido de entrevistar todos aqueles que passaram receitas médicas ao ídolo falecido.

Não foi assim há tanto tempo que os jovens urbanos, sobretudo os negros, só ouviam hip hop enquanto iam ao volante. Janelas abertas, carro implodindo de potência stereo e muito hip hop para acordar a vizinhança. Yo, testosterona! Wassup? Não havia alma que se atrevesse a ouvir Michael Jackson, o magro, o branco, o fraco, o antigo. Hoje, é só ele quem canta em cada viatura que passa aos gritos. Em cada carro, uma homenagem. Los Angeles rende-se à despedida do invencível com hinos a 100 à hora. De facto, um thriller.

Michael Jackson: Funeral à vista e pai excluído do testamento.

Um trabalhador de Neverland rega a coroa de rosas brancas que enfeita a porta de entrada no antigo rancho de Michael Jackson.

Fonte: http://aeiou.expresso.pt
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir