Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 03-08-2009

O JOGO
Todo jogo mistura arte e ciência
O JOGO

Manoel Manhães [email protected]

Todo jogo mistura arte e ciência. O jogo político resume-se a quem ganha o quê, quando, onde e como. É um jogo onde vários atores disputam o poder, onde para assegurar vantagens é comum barganhas, favoritismos, tramóias e conchavos.

A Constituição cidadã de 1988 diz: "todo poder emana do povo". Portanto, no jogo político, o principal beneficiário deveria ser o povo. Deveria. Na verdade, o povo é deixado de lado. A política objetiva o alcance de interesses nada públicos.

O período eleitoral é o momento para ver como são dadas as cartas no jogo. A participação dos financiadores está diametralmente relacionada aos ganhos que se pode obter.

Nas eleições os políticos fazem de tudo para conquistar o apoio do povo, após o pleito os esforços se concentram em acomodar os interesses dos financiadores. O apoio deles nas campanhas se converte em cargos, favores, privilégios e participação no governo. A vontade do eleitorado fica de lado. Primeiro é preciso saciar a sede dos financiadores, ou governar e/ou legislar será impossível. O político é presa de seus financiadores. Daí as relações obscuras, clientelistas, corruptas.

A política deveria se voltar para o povo. No entanto, entre o que é e o que deveria ser há um umbral, onde só entra quem conhece e faz parte do jogo da política. Ao cidadão comum, que só participa do processo político quando vota, cabe ficar esperando a definição de um jogo do qual ele não atua ativamente.

O cidadão comum e alheio à política não é só alijado do jogo. Pior. Ele é uma peça manejada de acordo com as conveniências dos jogadores. Na política grupos organizados, influentes e informados conseguem maiores recursos. Não é à toa que, pelos lobbies, grandes empresas, movimentos, sindicatos, associações impõem seus pleitos com facilidade. Por outro lado, o povo amorfo, inerte e inerme, sem rosto só tem suas demandas assistidas quando estas não colidem nem obstruem as dos jogadores.

Para o político a escolha de uma política pública em sintonia com seus eleitores se dá apenas quando ele percebe que o seu voto contrário envolve risco eleitoral e se dá apenas com anuência dos financiadores. É fato. Escolhas contrárias às pretensões dos eleitores, se sofrerem retaliações, estas se darão apenas de quatro em quatro anos (nas eleições), isso quando a bondosa alma cristã do povo não perdoa, esquece. Por sua vez decisões não-favoráveis aos financiadores são retaliadas quase que imediatamente, o capital não tem alma. A sobrevivência do político está em apaziguar os financiadores, muito mais do que satisfazer os eleitores.

Para entender essa engrenagem é preciso visualizar como se dão as escolhas públicas, as regras do jogo e os jogadores. Ademais, antes que qualquer demanda pública se torne uma ação governamental, ela deve se adequar às regras e passar pelas mãos dos jogadores. A presença dessas regras é o grau que o governo se afasta da provisão de bens e serviços tão caros à sociedade.

O cidadão comum não tem vez no jogo político porque sua participação limita-se ao período eleitoral. E quem pouco participa, pouco sabe jogar. Para que o placar se reverta em prol dos cidadãos, eles devem deixar de ser meros espectadores, mas por se tratar de um jogo de cartas marcadas isso jamais acontecerá. É triste, é pouco idealista, mas é a nossa realidade.

O jogo está posto, façam suas apostas senhores!

    Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir