Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 17-08-2009

SECRETINA VIRTUAL
Vez em quando eu fazia alguma pergunta s� para ter certeza que a voz doce era real.
SECRETINA VIRTUAL

Estava quieto no meu canto, utilizando meu computador e minha internet de 300k, quando tocou o telefone. Era uma mocinha de voz doce, consultora terceirizada da operadora de Telecom local, oferecendo um pacote de servi�os com um mega de transmiss�o, sem limites de utiliza��o. Ela falava muito, falava tanto que tive a impress�o de ser uma grava��o.

Vez em quando eu fazia alguma pergunta s� para ter certeza que a voz doce era real. Por somente R$ 209,00 mensais fixos, o pacote inclu�a um limite de 200 minutos para liga��es interurbanas, o que passasse seria pago como liga��o adicional. Fiz umas r�pidas continhas mentais e vi que valia a pena, pois a minha conta m�dia mensal era bem pr�ximo disso e eu teria 1 MEGA. Caramba! Perguntei ainda se 1 MEGA seria 1 MEGA mesmo e n�o os meus 300k atuais que, na realidade, eram 100 k.

O plano tinha validade de um ano, mas eu poderia cancel�-lo a qualquer momento e voltar � forma antiga de cobran�a. Tudo acertado, ela falou que no pr�ximo s�bado viria uma consultora em minha casa com o contrato para ser assinado.

O s�bado chegou, mas a consultora n�o. Tivera um problema, no pr�ximo viria, com certeza. Na quarta-feira, ligou um homem, com voz nada doce, e marcou para trazer o contrato no dia seguinte. Chegou com o contrato e mais dois chips que seriam instalados em dois celulares de minha propriedade para que os dois pudessem conversar completamente "de gr�tis".

Estranhei, n�o tinha pedido nada disso, nem mesmo aquela conta de celular para a minha mulher. Eu poderia colocar os chips nos aparelhos que estivessem desbloqueados e tudo bem. Tudo bem, disse eu depois que assinei o contrato e o rapaz da voz nada doce me garantiu que em 72 horas o plano estaria ativado e em quatro ou cinco dias minha internet j� estaria turbinada com 1 MEGA!

Passaram-se as 72 horas, oito dias al�m dos tr�s ou quatro, e eu continuava com os meus humildes 300 k que, na pr�tica, n�o passava de 100 k. Cansei, resolvi cancelar o plano. Liguei para o n�mero da primeira mocinha, aquela de voz doce. N�o estava, hora de almo�o. Poderia falar com outra pessoa? N�o, s� com ela mesma. Sete tentativas mais tarde a voz doce j� n�o soou t�o doce quando eu disse que queria cancelar o plano. "N�o � comigo, ligue para o 1257!" Ainda paciente liguei para o 1257.

- Oi!
- Por favor, eu gostaria...
- Bem-vindo, eu sou a sua secret�ria virtual. Fale ou disque pausadamente o n�mero do telefone que deseja atendimento...

Preferi discar, tenho a impress�o de ser algo idiota ficar conversando com uma grava��o.

- Tem certeza que o n�mero est� correto? � perguntou a secretina virtual.

N�o estava, havia esquecido o DDD. Disquei de novo, pausadamente. Ela n�o reconheceu o n�mero, pediu o CPF. Comecei a discar, mas ela disse que havia alguma coisa errada com o n�mero, pediu para digitar 4. Eu digitei 4 e ela repetiu: "3" e me mandou para outro lugar. Esperava uma atendente de carne e osso, mas apareceu outra grava��o e pediu para eu falar pausadamente o que desejava. Pausadamente eu falei: cancelamento de plano. "Ah, entendi � disque 5." Disquei 5 e ela repetiu: "4" e me mandou para outro lugar.

Mandei-a para aquele lugar e desliguei. Troquei de telefone e disquei novamente 1257 e l� estava ela de novo, a secretina eletr�nica! Desta vez preferi falar pausadamente o n�mero do meu telefone. "Ah, entendi, mas esse n�mero � de telefone fixo e este servi�o s� atende telefones m�veis, ligue para 1359". Voltei a ligar para a mocinha de voz doce, novamente ela n�o estava, atendeu outra, de voz ap�tica. Contei a hist�ria toda de novo e disse que queria cancelar o maldito plano.

- O senhor tem de ligar para o 1257.
- Eu j� liguei, n�o tem ser humano nenhum l�, n�o suporto mais falar com uma m�quina cretina.
- Sinto muito, mas o cancelamento s� pode ser feito por esse n�mero.

Adiantou reclamar? L� estava eu novamente frente a frente com a secretina virtual. Vinte e sete ou vinte e oito teclas depois, consegui esbarrar com uma voz de homem "on-line". Contei mais uma vez a mesma hist�ria e implorei para ser atendido por um ser humano de carne, osso, varizes, laringite, seja l� o que for, mas humano. Com toda delicadeza ele me explicou que eu deveria ligar para o 1257 novamente e falar o n�mero do chip que eu havia recebido, um numerozinho de 44 algarismos. Quando cheguei ao d�cimo, a secretina disse "n�o entendi", a liga��o caiu. Desisti, tomei dois Neosaldinas e deitei num quarto escuro.

Tr�s dias seguidos na mesma rotina e finalmente consegui encontrar a mocinha de voz doce que havia come�ado tudo. Com a voz mais doce ainda ela teve a coragem de dizer que j� havia cancelado o plano na primeira vez que eu havia solicitado, apenas esquecera-se de avisar-me. Por�m, em todo o caso, era melhor eu ligar no 1257 para confirmar. Segurei o palavr�o raspando na garganta.

No dia seguinte peguei a c�pia do contrato mais os dois chips e fui direto para Cachoeiro na captura da mocinha de voz doce. Procurei por ela na recep��o do pr�dio da operadora e fui informado que ela ficava num pequeno posto mais adiante, era s� descer e ver a placa no port�o, n�o tinha erro. Fui e voltei duas vezes e nada de achar a tal placa.

Perguntei numa barbearia e me indicaram o port�o da casa, a placa mais parecia um "bottom", de t�o pequena. Aguardei uns cinco minutinhos at� aparecer a mocinha de voz doce, que n�o era t�o mocinha e nem sequer tinha a voz doce. Devolvi os chips e sai com a c�pia do contrato com um enorme "CANCELADO" escrito � m�o. S� ent�o entendi o que significava o tal 1 MEGA! Uma megapaci�ncia! Infelizmente eu s� tinha uma paci�ncia de 300k, na pr�tica, 100k.


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    Fonte: O autor
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir