Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 25-09-2009

A QUEM, DE FATO, PERTENCE O AMANHECER?
Ouço o anúncio do raiar de um novo dia. É o contentamento dos pássaros que saúdam, em alvorada, o nascimento de mais uma oportunidade que teremos de "plantar" maracu-já.
A QUEM, DE FATO, PERTENCE O AMANHECER?
Foto: www.maratimba.com

Ouço o anúncio do raiar de um novo dia. É o contentamento dos pássaros que saúdam, em alvorada, o nascimento de mais uma oportunidade que teremos de "plantar" maracu-já.

Ouço também um barulho corriqueiro, mas ainda ignorado pelos poderosos: é o estômago a roncar a esperança, que velha se tornou, porque a algazarra que as aves faziam ao alvorecer, fora substituída por som de máquinas que ceifam vidas: revolveres na madrugada; motoserra na calada da noite. Silêncio! Assustador. Mas temos de "colher" maracu-taia.

É hora de sorrir, afinal, é um privilégio viver num planeta onde a metamorfose não é ficção cientifica, mas também, é hora de chorar, o final, onde nenhuma semelhança é mera coincidência. Penso que devamos pedir perdão... e amar! Continuo pensando também que devamos perdoar, para enfim, nos permitir doar, mesmo quando, por entre os dedos, escorrerem as forças e fugir, escapar. Já não dá mais para andar descalço, correr de encontro ao vento e agradecer, jogar-se ao mar (tão poluído). Há campos minados. Mas com o mínimo, nem mesmo uma "havaianas" dá pra comprar. Também já não mais dá para tomar banho de cascata e vislumbrar o verde da floresta, o colorido das flores... Ops! É melhor acordar, porque os sonhos dos inocentes, nada mais são do que terríveis pesadelos!

Rios-cascatas-cachoeiras. Encontros com os amigos. Piqueniques. Apenas fotografias. Matamos os mananciais. É cinza o Amazonas e as flores perderam seu encanto, sua magia, seu brilho. O homem? Seu orgulho! Apesar de tudo, ouço a voz da esperança dizendo que ainda devemos acreditar -... os senhores feudais que ainda vitimizam nas senzalas compartilharão dos banquetes e abrirão as portas das casas grandes para seus servos alimentar...

Seria uma doce ilusão esperar que os coronéis que ainda imperam, impedissem as lágrimas das crianças, que nem sabem que são gente, de rolar? Quanta dor! É o gemido camuflado da mãe que pari mais um desgraçado; são os suspiros de um pai que açoita sua cria na carvoaria, nos canaviais, nas pedreiras, ensinando-lhes a cruel lição, aquilo que lhe rouba o pão, enfim, aguardando a ressurreição. Resta a pergunta, então: a quem, de fato, pertence o amanhecer?


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  José Geraldo Oliveira (DRT-ES 4.121/07 - JP)    |      Imprimir