Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 14-12-2009

OS CAMPEÕES BRASILEIROS DE 87 E 88 (MILHÕES)
“Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã ‘futebologia’”, ensinou Shakespeare em Hamlet.
OS CAMPEÕES BRASILEIROS DE 87 E 88 (MILHÕES)
Foto: www.maratimba.com

Manoel Manhães [email protected]

"Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã ‘futebologia’", ensinou Shakespeare em Hamlet.

Quem trabalha com jornalismo e se interessa pelo assunto "apreende o todo em on e o detalhe em off", detalhes fazem a diferença entre a versão oficial e o fato.

Em 1987, a CBF, em crise financeira, anunciou que não realizaria o Campeonato Brasileiro daquele ano. Com isso, os treze principais clubes do futebol brasileiro na época (Vasco da Gama, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Santos, Fluminense, Botafogo, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Internacional, Grêmio e Bahia) decidiram fundar uma associação denominada Clube dos 13. Reunidos na nova associação, apesar das ameaças de desfiliação por parte da CBF, com o respaldo da FIFA, organizaram a Copa União, que substituiria o Campeonato Brasileiro daquele ano.

Depois de já ter iniciado a Copa União, a CBF resolveu organizar um outro módulo do Campeonato Brasileiro e alterar o regulamento da Copa União que já estava em vigor. O novo campeonato foi dividido em quatro Módulos, sendo o Módulo Verde - composto pelos 13 integrantes do Clube dos 13, que já estavam em disputa na Copa União, além de Goiás, Santa Cruz e Coritiba, deixando de fora o Guarani, vice-campeão do ano anterior e o América-RJ, 4º colocado - considerado como primeira divisão juntamente com o Módulo Amarelo. A CBF organizou ainda outros dois módulos: azul e branco, que classificavam 12 equipes para a segunda divisão de 1988.

Como forma de conciliar os interesses do Clube dos 13 com os da CBF a CBF colocou no regulamento do campeonato, que os campeões e vice dos módulos verde e amarelo se enfrentassem em um quadrangular final, de onde sairiam os representantes brasileiros na Taça Libertadores da América. Porém, os representantes do Clube dos 13 jamais concordaram em modificar o regulamento, valendo, então, o que já estava combinado, pois não se muda as regras do jogo durante o mesmo.

De acordo com a nova proposta de regulamento a CBF definia que o campeão e vice do Módulo Verde deveriam enfrentar em um quadrangular decisivo o campeão e vice do Módulo Amarelo que por fim decidiria o campeão do torneio daquele ano. No entanto, os finalistas do Módulo Amarelo Sport e Guarani após uma prorrogação empataram nos pênaltis em 11 x 11 e dividiram o título em um acordo.

Em dezembro de 1987, após a confirmação dos quatro times finalistas em cada módulo (Flamengo, Internacional, Sport e Guarani), a CBF anunciou a tabela deste quadrangular, que seria disputado em turno e returno. Alegando que o regulamento foi alterado à revelia do Clube dos 13, Flamengo e Internacional se recusaram a disputar com o apoio do então presidente do Clube dos 13, Carlos Miguel Aidar (que presidia o São Paulo Futebol Clube na época). Com isso Sport e Guarani disputaram o quadrangular, vencendo os jogos contra Flamengo e Internacional por WO.

A CBF acabou declarando o Sport como Campeão Brasileiro de 1987, enquanto o Clube dos 13 fez o mesmo com o Flamengo, campeão da Copa União.

A CBF proclamou Sport e Guarani, respectivamente campeão e vice daquele ano, como representantes do Brasil na Taça Libertadores da América. Tendo o caso sido levado à justiça comum, esta deu ganho de causa ao Sport Club do Recife, reservando os direitos do Guarani que em acordo, também, fora campeão.

É possível, ainda, encontrar no site da FIFA em espaço destinado ao Flamengo a confirmação de que o mesmo possuía 4 títulos brasileiros, além de deter a Copa União (que substituíra o Campeonato Brasileiro) do ano de 1987.

Em janeiro de 1988, quando o resultado do campeonato ainda estava em litígio, o Jornal do Commercio de Recife publicou uma grande reportagem, amplamente favorável aos interesses do Sport, sugerindo inclusive que o Internacional e o Flamengo deveriam ser rebaixados para a série B, o que nunca aconteceu porque não tinha qualquer base legal e sequer foi cogitado pela CBF que argumentou que "as regras não podiam ser mudadas uma vez começado o campeonato".

No ano seguinte, a CBF retomou a responsabilidade de organizar o Campeonato Brasileiro com os principais clubes do país novamente o chamando de Copa União, mantendo assim, o mesmo nome da competição que foi realizada pelo Clube dos 13, o que veio avalizar a Copa União de 1987 como substituta do Campeonato Brasileiro daquele ano.

Face a contradição da CBF a discussão permanece. Assim em 1988 o Bahia foi campeão da Copa União que segundo a CBF era o mesmo Campeonato Brasileiro. Ou seja, a discussão "futebol" vai existir para sempre, mas a discussão "politicagem / dinheiro" é quase desconhecida.

O fato é que a CBF não reconhece o título do Flamengo porque Ricardo Teixeira e Márcio Braga são inimigos mortais. Márcio Braga passou a perna em Ricardo Teixeira (genro de João Havelange, ex-presidente da FIFA) em algumas dezenas de milhões em 1986, daí a suposta falta de caixa da CBF em 87.

Nunca é demais lembrar que o Brasil "vendeu" a Copa de 2002 em troca de sediar a Copa em 2014. Todo mundo - sem exceção - tem seu preço. Enquanto no mundo dos poucos reais mata-se e não se recebe a dívida, no mundo dos milhões e bilhões aguarda-se e negocia-se a trapaça. Se Márcio Braga devolve-se a bolada, Ricardo Teixeira devolvia o título. Mas o que vale mais? Milhões na conta ou o título? -Tô com o Márcio Braga, fico com os milhões, que me desculpe o meu Flamengo.



    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir