Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 04-01-2010

Prefeito de Angra dos Reis proíbe novas construções em 15 morros
O prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão, anunciou, no fim da manhã desta segunda-feira, a assinatura de um decreto proibindo construções ou acréscimos em 15 morros.
Prefeito de Angra dos Reis proíbe novas construções em 15 morros
Foto: Custódio Coimbra

ANGRA DOS REIS E RIO - O prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão, anunciou, no fim da manhã desta segunda-feira, a assinatura de um decreto proibindo construções ou acréscimos em 15 morros do Centro da cidade. Segundo o prefeito, o decreto vale até que a equipe da Geo-Rio, que está no município há três dias, termine o levantamento das áreas de risco. De acordo com o prefeito, já se sabe que pelo menos 100 casas serão demolidas no Morro da Carioca. Ele calcula que, em todo o município, 500 casas deverão ser demolidas. As buscas por vítimas dos deslizamentos que atingiram a cidade no réveillon recomeçaram por volta das 7h da manhã. Mais dois corpos foram encontrado no Morro da Carioca, elevando para 48 o número de vítimas.

De acordo com Tuca Jordão, os moradores que terão suas casas demolidas no Morro da Carioca serão cadastrados e receberão um aluguel social de até R$ 510, o novo valor do salário mínimo. Ele disse que o governo federal garantiu a verba, mas que, enquanto espera a liberação do dinheiro, pagará os aluguéis com recursos próprios. Ainda de acordo com o prefeito, já existe um projeto de construção de moradias, faltando apenas a assinatura de contrato com a Caixa Econômica.

Sobre a construção de um muro de contenção no Morro da Carioca, anunciado pelo secretário de Meio Ambiente do município, Marco Aurélio Vargas, o prefeito disse que ainda não há nada definido, e que a palavra final será dada pelos técnicos da Geo-Rio. Até agora, foram feitas pela prefeitura 663 vistorias e 221 interdições, sendo 112 só no Morro da Carioca. O município, de acordo com o último boletim de ocorrências, tem 113 desalojados e 125 desabrigados.

Mais cedo, o vice-prefeito de Angra dos Reis, Essiomar Gomes, e o secretário de Meio Ambiente já haviam anunciado que pelo menos 80 casas em área de risco seriam demolidas no Morro da Carioca e outras dez no Morro Bullé. No Morro da Carioca, o secretário disse que poderão ser construídos dois prédios para 35 famílias cada, na área mais baixa da encosta, onde casas também serão demolidas.

Uma equipe da Geo-Rio esteve neste domingo em Angra para auxiliar a prefeitura a definir as soluções para os deslizamentos de terra ocorridos na cidade. Os técnicos visitaram o Morro da Carioca, a Avenida do Contorno, a BR 101, a Enseada do Bananal, na Ilha Grande e outros pontos de deslizamento para avaliar a situação e propor ações. A prefeitura, que decretou estado de calamidade pública no município, tem que enviar ao Governo Federal as reivindicações necessárias e os custos para sanar os problemas até esta terça.

(Mais um dia de dor para os familiares no enterro das vítimas dos deslizamentos em Angra dos Reis) Corpos encontrados no Morro da Carioca
No início da tarde desta segunda-feira, equipes de bombeiros de Angra localizaram o corpo de uma criança sob os escombros no Morro da Carioca. Desde o início das chuvas, morreram 70 pessoas em todo o estado.

Mais cedo, foi encontrado o corpo de um homem adulto no mesmo local. Faltaria ainda um corpos a ser encontrado na comunidade. Na Praia do Bananal, de domingo para esta segunda nenhum corpo foi achado. Mas os bombeiros, no entanto, trabalham com a hipótese de que mais três corpos devem ser localizados na praia, pois uma moradora e duas turistas estão desaparecidas. Os trabalhos de busca envolvem homens da Defesa Civil, Marinha, Polícia Militar e Instituto Estadual do Ambiente, além de mergulhadores, oito cães farejadores e quatro retroescavadeiras.

O dia amanheceu ensolarado na região, mas a Defesa Civil informou que pode voltar a interditar a Rodovia Rio-Santos, na altura do quilômetro 477, caso volte a chover, porque há risco de novos deslizamentos. Após a interdição total no sábado, a rodovia foi reaberta neste domingo. Apesar do calor e do sol forte, nuvens pesadas começam a aparecer no céu.

O vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, disse na manhã desta segunda-feira, durante entrevista a uma emissora de rádio, que sobrevoou a cidade com técnicos e foram detectados cerca de 40 pontos de possíveis deslizamentos, o que pode acontecer se voltar a chover na região. Ele informou que, numa reunião com o governador Sérgio Cabral serão definidas algumas ações emergenciais.

Para Pezão, há diferenças entre as situações do Morro da Carioca, no Centro de Angra, e da Ilha Grande. Segundo ele, no primeiro caso, o problema é a presença humana forte, com construções em áreas de risco e a retirada da cobertura vegetal da região. Já na Ilha Grande, avalia Pezão, a região é ocupada por uma colônia japonesa há cerca de 60 a 70 anos e, inclusive pelas fotos, percebe-se que não havia qualquer interferência do homem na área que deslizou.

Geólogos, meteorologistas e o próprio governador do Rio, Sérgio Cabral, são unânimes em afirmar que a situação na Costa Verde é preocupante . O Climatempo informa que a previsão para este mês na região é de um volume de precipitação superior à já alta média do período, de 276,4 milímetros.

( Veja imagens das buscas em Angra )

Para reconstruir a cidade, serão gastos de R$ 200 a 250 milhões
O vice prefeito disse que a prefeitura ainda não calculou os prejuízo das chuvas, mas acredita que custará em torno de R$ 200 a 250 milhões para reconstruir a cidade. Este valor, segundo ele, não inclui o que a cidade deixará de ganhar em turismo por causa da tragédia.

O Colégio Naval montou barracas de campanha com estrutura médica no estádio municipal para atender vítimas e desalojados. Moradores ainda retiram tudo o que podem. A auxiliar de serviços gerais Carmem dos Reis Maia precisou deixar sua casa depois de viver no Morro da Carioca por 19 anos. Ela ainda se emociona ao falar das crianças vítimas do soterramento:

- Sete crianças (morreram) que eu sei. Todas viviam na minha casa. Eu tinha mais contato com essas crianças do que com o meu filho, que chegava a ficar com ciúmes. Hoje eu tenho certeza que o que a gente mais tem que preservar é a vida. Os bens materiais, móveis, casa, não levam felicidade a ninguém. Eu vi as crianças. Peguei as crianças mortas. Foi horrível - contou Carmem, em entrevista à rádio CBN.

Prefeito de Angra dos Reis proíbe novas construções em 15 morros da cidade

Fonte: O Globo
 
Por:  Catarina Rezende de Carvalho    |      Imprimir