Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 13-01-2010

TANTO QUANTO POSSÍVEL
O filme “Lula, filho do Brasil”, lançado no mês passado em todo o país, narra a trajetória edificante de Luiz Inácio.
TANTO QUANTO POSSÍVEL
Foto: www.maratimba.com

O filme "Lula, filho do Brasil", lançado no mês passado em todo o país, narra a trajetória edificante de Luiz Inácio, filho da dona Lindu, pernambucano que experimentou seca e pobreza extrema no semiárido e veio com toda a família tentar uma vida melhor na grande São Paulo. Alcoolismo, violência doméstica, pai adúltero que abandonou o lar, desrespeito ao direito à saúde pública, viuvez, acidente de trabalho com mutilação, violação dos direitos trabalhistas, prisão inconstitucional... Esses dramas, que são muito comuns a milhões de brasileiros e brasileiras, foram sofridos na pele por Luiz Inácio, conhecido desde cedo como Lula.

A adaptação cinematográfica do texto de Denise Paraná não fala diretamente de um herói que escalou à força a mobilidade social para chegar a ser presidente da República. A história é principalmente sobre o heroísmo da matriarca pobre, analfabeta mas corajosa, que não fugiu diante da grande responsabilidade de educar na pobreza vários filhos; uma mulher simples, prática, sem ideologias, orgulhosa e cautelosa com os filhos como toda boa mãe.

A história é, sobretudo, sobre um ensinamento particular que dona Lindu dá a seu filho Lula (no filme, esse ensinamento aparece em seu leito de morte): "Só faça o que der para fazer. Se você sabe o que fazer, vá lá e faça. Se não der para fazer, espere"... Essa frase está no centro do filme e é a chave de compreensão de todo o pensamento político de Luiz Inácio Lula da Silva, já como líder sindical, depois como fundador de um partido político, parlamentar constituinte, candidato sucessivas vezes e como Presidente da República por dois mandatos, líder latinoamericano e uma das personalidades políticas mais influentes do mundo inteiro na primeira década deste século XXI.

Essa ideia de "fazer o que der e esperar quando não der" é simultaneamente a causa dos maiores elogios e das maiores críticas ao modo de Lula fazer política. Ele já era chamado de comunista pela ditadura e de traidor e pelego pelos sindicalistas radicais exatamente porque essa máxima decepciona todo tipo de extremismo. Foi essa paciência que tornou Lula capaz de dialogar com as mais variadas tendências ideológicas; ele, na verdade, talvez seja a única pessoa elogiada atualmente tanto por Hugo Chávez quanto por Barack Obama. Foi essa tolerância ensinada por Lindu que o ajudou a galgar, pleito a pleito, a escada da democracia, fazendo aliança com Deus e com o diabo, para chegar à Presidência da República.

Isso é, afinal, bom ou ruim? Para seguir a mesma estratégia de Lula, a resposta seria: depende do ponto de vista. Pela ótica literal do filme, dona Lindu será sempre a grande responsável pelos mais de 80% de aprovação do governo Lula e também pela decepção dos idealistas com o homem que negou muitas de suas ideias iniciais para manter a governabilidade. Ela terá sempre os créditos tanto pelo crescimento significativo da cobertura da assistência social no Brasil quanto pela incoerência das alianças de Lula com Sarney, Collor e outros ex-adversários.

Se Lula não tivesse aprendido isso com Lindu, será como seria o Partido dos Trabalhadores? Será que ele teria chegado a ser presidente do país? Lula sem Lindu seria politicamente como Chávez ou, quem sabe, um desaparecido a mais nos porões da ditadura militar brasileira.

    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir