Categoria Cinema  Noticia Atualizada em 07-03-2010

Oscar 2010 revela uma Hollywood em busca de saídas
"Guerra ao terror" e "Avatar": dois caminhos para uma indústria que emerge da crise
Oscar 2010 revela uma Hollywood em busca de saídas
Foto: http://www.divirta-se.uai.com.br

João Paulo - EM Cultura

O Oscar é apenas uma estatueta dourada de 30 e poucos centímetros de altura. No entanto, se transformou num ícone da indústria do cinema dos Estados Unidos e, por efeito de contágio, de todo o mundo. Ganhar um Oscar não é garantia de nada, mas num terreno em que qualidade e quantidade (de dólares) procuram sempre a companhia um do outro, o troféu pode significar a diferença entre um bom filme e um fenômeno. Mas não é só isso. A festa de hoje à noite em Los Angeles, com transmissão pela televisão, literalmente, para todo o mundo, marca um momento de virada e tensão no universo do cinema. Os dois filmes com o maior número de indicações, Avatar e Guerra ao terror, ambos concorrendo em nove categorias, representam dois caminhos para a indústria que emerge da crise: a aposta na tecnologia e o arejamento do independentes.

Quando o ex-casal de diretores James Cameron e Kathryn Bigelow se encontrar no Kodak Theatre, estarão levando na bagagem filmes de guerra que sintetizam a batalha da Academia de Artes e Ciências de Hollywood para recuperar o público e a influência do cinema norte-americano. Avatar, sai na frente em termos de bilheteria, comemorando a maior marca da história, com mais de US$ 2 bi na caixa registradora. E a grana tem motivo de ser. Filme que emociona e diverte, Avatar reativou a velha experiência sensorial da terceira dimensão, o 3D, que chegou com mais definição e qualidade. E virou febre. Além de dezenas de novas produções anunciadas, filmes que já estavam prontos, como Fúria de Titãs, voltaram para os computadores para ganhar nova versão. Agora para ficar, o 3D tem ainda o condão de ser mais lucrativo, contar com ingressos mais caros e barrar o fantasma da pirataria. Pode conferir: as cópias do épico de Cameron mofam nos cavaletes dos vendedores da esquina. O público não aceita os guerreiros de pele colorida em míseras duas dimensões.

No caso de Guerra ao terror, o que há de novo é a valorização da via independente de produção. O filme tinha ainda a enfrentar um tema que, mesmo importante na história recente dos Estados Unidos, não havia emplacado um grande sucesso. A guerra do Iraque rendeu filmes de ficção, documentários e séries de TV que se contam às dezenas, mas nenhum passou perto do reconhecimento de Guerra ao terror. Sucesso merecido. A produção tem elenco pouco conhecido, mas rendeu indicação ao Oscar de melhor ator para Jeremy Renner, ator de seriados de TV. O ritmo lento e a carga política (não necessariamente contra a presença no Iraque, mas contra todas as ocupações) são ingredientes que denunciam a origem independente do trabalho. E mostram que gente de verdade é melhor para convencer do horror e do mal que monstros alienígenas ou seres azulados. Por um erro de cálculo dos exibidores brasileiros, Guerra ao terror estreou nas locadoras.

A maior novidade do Oscar 2010 é o aumento do número de produções indicadas a melhor filme, que salta de cinco para 10. Com isso, o cardápio de opções ganha em variedade de estilos e gêneros. Este ano, além dos dois favoritos, estão na parada fitas de ficção científica (Distrito 9), animação (Up – Altas aventuras), drama independente inglês (Educação), um inclassificável Tarantino (Bastardos inglórios, misto de filme de guerra, comédia, paródia e fantasia histórica), um legítimo filme de atores com temática política (Preciosa), outro petardo cético dos irmãos Cohen (Um homem sério) e narrativas convencionais no estilo que consagrou a indústria do entretenimento (o edificante Um sonho possível e o moderno até o limite permitido Amor sem escalas).

No capítulo das barbadas, é possível cravar os ganhadores dos prêmios de ator e atriz coadjuvantes para Mo’Nique, a mãe tóxica de Preciosa, e Christoph Waltz, de Bastardos inglórios, talvez o personagem do ano. Que os atores de suporte sejam tão bons é mais um mérito da indústria cinematográfica americana e um dos motivos que explicam por que ela se mantém mesmo em meio a tantos terremotos. Cinema, nos EUA, é coisa de profissional.

Oscar 2010 revela uma Hollywood em busca de saídas
Filmes com maior número de indicações, Avatar e Guerra ao terror representam a aposta na tecnologia e o cacife dos independentes

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir