Categoria Policia  Noticia Atualizada em 20-03-2010

Casal Nardoni: inocente ou culpado?
Isabella com a m�e, que ser� testemunha
Casal Nardoni: inocente ou culpado?
Foto: Arquivo pessoal

Lecticia Maggi

Na pr�xima segunda-feira, dia 22, quase dois anos ap�s a morte de Isabella Nardoni, ocorrida em 29 de mar�o de 2008, ap�s cair da janela do 6� andar do Edif�cio London, os dois acusados pelo crime ir�o a j�ri popular no F�rum de Santana, na zona norte de S�o Paulo. No banco dos r�us, estar� Alexandre Alves Nardoni (pai da menina) e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatob� (a madrasta).

Eles s�o acusados de homic�dio triplamente qualificado � meio cruel, impossibilidade de defesa da v�tima e para encobrir crime anterior � al�m de fraude processual, por supostamente terem alterado a cena do crime. O Minist�rio P�blico diz que Anna Carolina agrediu a menina e a asfixiou at� perder a consci�ncia e o pai foi o respons�vel por cortar a tela de prote��o da janela do quarto dos filhos, no apartamento 62, e jog�-la pela janela. J� a defesa alega que uma terceira pessoa entrou no apartamento e cometeu o crime.
Esta � apenas uma das muitas pol�micas que envolvem o julgamento, um dos maiores j� realizados no Pa�s. Especialistas ouvidos pelo iG afirmam que s�o poucos os crimes que ultrapassam as barreiras municipais e ganham destaque nacional e mais raros ainda aqueles que chegaram perto da como��o causada pelo caso Isabella.

Todos s�o un�nimes em dizer que, de todos os crimes conhecidos das �ltimas d�cadas no Brasil, apenas o planejado por Suzane von Richthofen � condenada, em 2006, a 39 anos de pris�o pela morte dos pais - assemelha-se ao que acabou com a vida de Isabella.

Na internet, multiplicaram-se comunidades, blogs e sites para debater o assunto. S� no site de relacionamentos Orkut s�o mais de mil. Nunca um crime causou tanta como��o popular. Internautas sentem-se verdadeiros ju�zes e alguns contaram � reportagem que passam duas horas di�rias em busca de informa��es sobre a morte da menina.

Diante de tamanha repercuss�o, o promotor Cembranelli afirma que o julgamento deve ser "uma opera��o de guerra", que, al�m de refor�o policial no entorno do F�rum, exigir� assist�ncia da Subprefeitura e da Companhia de Engenharia de Tr�fego (CET).

Localizado na avenida Engenheiro Caetano �lvares, 594, na Casa Verde, o F�rum de Santana � modesto. A sala onde acontecer� o julgamento do casal Nardoni conta com apenas 77 lugares, sendo que 20 deles foram destinos � imprensa e o restante � fam�lia dos r�us e a interessados de alguma das partes. Milhares de pedidos de acompanhamento do j�ri foram negados.

De acordo com o Tribunal de Justi�a, foi solicitado ao juiz Maur�cio Fossen que transferisse o julgamento para o F�rum da Barra Funda. Com 31 Varas Criminais, 5 Varas de Execu��es Criminais, o 1�, 3�, 4� e 5� Tribunais do J�ri, o local � considerado o maior complexo judici�rio da Am�rica Latina e teria melhores condi��es de receber um julgamento de grande porte como este.

No entanto, Fossen negou o pedido e manteve o local do j�ri. Segundo o TJ, ele disse que se sentiria mais confort�vel em uma comarca onde j� atua. Como n�o h� lugar para todos os ve�culos de imprensa interessados em cobrir o julgamento � houve diversos pedidos de outros Estados - eles ter�o que se revezar no plen�rio. Haver� distribui��o de senha e cada um permanecer� por cerca de uma hora na sess�o. O juiz proibiu a capta��o de imagens e �udio. Todos os equipamentos eletr�nicos ficar�o do lado de fora.

A partir das 18h do domingo, dia 21, ser� interditada uma faixa da avenida Engenheiro Caetano �lvares para o estacionamento de carros/ links de emissoras de TV. Na segunda-feira, novas faixas ser�o fechadas pela CET e outras monitoradas.
O 9� Batalh�o da Pol�cia Militar foi requerido pelo juiz Maur�cio Fossen para refor�ar a seguran�a nas imedia��es do F�rum. � a primeira vez que o Batalh�o � mobilizado por causa de um julgamento. "N�s cobrimos a �rea do f�rum, mas n�o temos not�cia de julgamentos que repercutiram assim e precisaram de refor�o", explica ao iG o capit�o da PM Ivan Pieslak.

J� est� certo que pelo menos uma base m�vel da Pol�cia Militar, com cinco pessoas, ficar� de prontid�o no local 24h. Outras cinco patrulhas tamb�m estar�o nas proximidades e, dependendo do n�mero de pessoas presentes, o contingente de policiais pode aumentar a qualquer momento. "Teremos viaturas passando sempre na �rea e as que ficam estacionadas em outros locais podem ser realocadas", afirma Pieslak. "Temos capacidade grande de nos mobilizar instantaneamente", acrescenta.

Para a seguran�a dentro do tribunal, h� uma equipe pr�pria da pol�cia, conhecida como PM TJ, mas o n�mero de homens solicitados para o julgamento n�o foi divulgado.

Uma ambul�ncia com um m�dico e uma enfermeira estar� de prontid�o no F�rum para qualquer emerg�ncia.

Os personagens

A acusa��o conta com o promotor Francisco Jos� Tadeu Cembranelli, de 48 anos, h� 22 na Promotoria e que afirma ter participado de 1.075 julgamentos. Ele diz estar tranquilo e confiante com as provas produzidas at� o momento e garante que n�o conta com a confiss�o dos r�us. "� praxe os acusados negarem".

A principal testemunha de acusa��o � a m�e de Isabella, Ana Carolina Cunha de Oliveira. Al�m dela, Cembranelli escolheu para depor tamb�m o m�dico do Instituto M�dico Legal (IML) Paulo S�rgio Tieppo Alves, a perita Ros�ngela Monteiro, e a delgada do 9� DP, que investigou o caso, Renata Helena da Silva Pontes.

J� na defesa dos acusados est� o advogado Roberto Podval, de 42 anos, tendo 12 de carreira. Ele, que j� participou de 15 j�ris e perdeu somente dois, assumiu a defesa em abril de 2009, ap�s a equipe do advogado Marco Pollo Levorim deixar o caso.

Na tentativa de absolver o caso, Podval arrolou todas as 20 testemunhas poss�veis, sendo principalmente m�dicos, peritos e pessoas que participaram da investiga��o. Entre elas, est� tamb�m o ex-advogado do casal Rog�rio Neres de Souza e o jornalista da Folha de S.Paulo Rog�rio Pagnan, que entrevistou o pedreiro Gabriel dos Santos Neto e publicou, em 10 de abril de 2008, uma reportagem onde Neto afirma que a obra nos fundos do edif�cio foi arrombada. Depois, em depoimento � pol�cia, o pedreiro negou a informa��o.

Neto ainda n�o foi localizado e, caso n�o compare�a ao Tribunal na pr�xima segunda-feira, o j�ri corre o risco de ser adiado. Podval pode alegar ao juiz Maur�cio Fossen, que presidir� a sess�o, cerceamento da defesa e, se atendido, a sess�o pode ser cancelada.

Caso contr�rio, �s 13h do dia 22, com todos os presentes no F�rum de Santana, ter� in�cio o julgamento. A expectativa � que ele prossiga at� por volta das 21h e seja retomado �s 9h de ter�a-feira. Os jurados passar�o a noite no F�rum da Barra Funda. O j�ri deve durar at� 5 dias.

Passo a passo do julgamento

O juiz Maur�cio Fossem sorteou 40 pessoas dentre as cerca de 6 mil inscritas. S�o 17 homens e 23 mulheres, todos maiores de 18 anos e moradores da cidade de S�o Paulo. O normal � que o magistrado sorteie apenas 25, mas por precau��o � para evitar a falta de qu�rum � foram sorteadas a mais. Antes do in�cio dos trabalhos no dia 22, ser�o sorteados os 7 jurados que far�o parte do Conselho de Senten�a. Tanto a defesa como a acusa��o podem negar at� tr�s pessoas sem justificar o motivo.

Escolhidos os jurados, come�ara o interrogat�rio das testemunhas de acusa��o e, em seguida, as de defesa. N�o h� tempo m�nimo ou m�ximo para isso.

Ao t�rmino de todas as testemunhas, os r�us ser�o interrogados. Ainda n�o se sabe quem ser� ouvido primeiro, se Alexandre Nardoni ou Anna Carolina Jatob�. A expectativa � que isso aconte�a apenas na quarta-feira, dia 24. Enquanto um responde �s perguntas, o outro n�o poder� permanecer na sala para n�o ser influenciado.

A �ltima fase do julgamento � o debate entre acusa��o e defesa. O promotor Francisco Cembranelli falar� por 2h30, per�odo em que deve apresentar v�deos, fotos e at� uma maquete do Edif�cio London para convencer os jurados do que se passou na noite de 29 de mar�o. Depois, ser� a vez de Podval, que tamb�m ter� 2h30, e promete levar ao tribunal a tela da janela e roupas do casal. A acusa��o ter� r�plica de 2h e a defesa tr�plica de mais 2h.

Terminado o debate, o juiz ler� em p�blico os quesitos e explicar� cada um deles aos jurados. Elas ir�o a uma sala secreta onde votar�o se o casal � culpado ou n�o pela morte de Isabella. Quem determinar� a pena, em caso de culpa, � o juiz.

Feita a vota��o, Fossen redigir� a senten�a e voltar� ao plen�rio para anunci�-la. Para homic�dio qualificado, a pena m�nima estabelecida em lei � de 12 anos. "Do jeito que est� a acusa��o ela prev� de 15 a 18 anos", afirma Cembranelli, sendo que, se condenado, Alexandre ter� uma pena superior a de Anna Carolina por ter cometido crime contra descendente.

Julgamento do caso Isabella ser� um dos maiores do Pa�s

Isabella com a m�e, que ser� testemunha



 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir