Categoria Politica  Noticia Atualizada em 10-04-2010

Serra foca em temas sociais, mira nos pobres e evita confronto direto
Serra durante lan�amento de candidatura em Bras�lia
Serra foca em temas sociais, mira nos pobres e evita confronto direto
Foto: AE

Adriano Ceolin e Marcelo Diego

O primeiro discurso p�blico oficialmente como pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica mostrou um Jos� Serra com menos n�meros, mais piadas, propositivo, preocupado em se mostrar construtor do di�logo e de continuar conquistas que, segundo ele, s�o frutos de 25 anos de lutas e "n�o de um homem, de um governo e muito menos de um partido". O discurso e o lan�amento da candidatura s�o o primeiro passo para nacionalizar a fala do tucano e mostr�-lo como mais preparado para suceder ao presidente Luiz In�cio Lula da Silva.

Serra n�o polemizou com o presidente, que at� recebeu elogios de outros tucanos. As cr�ticas ao PT tamb�m foram suavizadas em alguns momentos por caciques sociais-democratas. A estrat�gia do partido � evitar, pelo menos no in�cio desta campanha, choque e bipartidarismo.

O discurso de Serra mirou tamb�m em um eleitor que gosta do presidente Lula, mas n�o necessariamente manifesta inten��o de votar na candidata petista Dilma Rousseff. Enquanto a aprova��o do presidente e do governo margeiam os 70%, a inten��o de votos de Dilma est� na casa de 30%.

Por essa raz�o, Serra colocou a boa condi��o do Brasil hoje _de crescimento econ�mico, maior distribui��o de renda e diminui��o da pobreza, entre outros indicadores_ como fruto do trabalho de 25 anos, iniciados pelos que lutaram pela redemocratiza��o na campanha das "Diretas J�".

Listando conquistas como o direito a voto, a estabilidade econ�mica e o avan�o em �reas sociais, o ex-governador de S�o Paulo disse: "Todas (as conquistas) s�o resultado de 25 anos de estabilidade democr�tica, luta e trabalho. E n�s somos militantes desta transforma��o".

Serra tamb�m aproveitou para dar amostras, ainda imprecisas, de seu potencial esbo�o de programa. Seu discurso, preparado por ele mesmo e que teve palpites de pessoas pr�ximas ao pol�tico, foi recheado de temas que precisariam de aten��o especial da m�quina p�blica.

Ele se deteve longamente nos itens educa��o, sa�de, seguran�a p�blica e trabalho. Pesquisas internas do PSDB mostram que esses s�o os assuntos que recebem pior avalia��o dentro do atual governo federal. Por isso, quer mostrar ser capaz de lidar com problemas que o governo petista n�o foi.

Seu discurso tamb�m enfatizou o voto das mulheres, dos jovens (mirando principalmente o fato de 20% desse segmento estar atualmente desempregado), os mais pobres e os portadores de defici�ncia f�sica. Em outro momento, para mostrar que n�o fala apenas de S�o Paulo, disse que aprendeu a fazer pol�tica "andando pelo pa�s", notoriamente nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.

Contrariando uma caracter�stica tradicional de sua orat�ria, Serra usou poucos n�meros em sua fala. Em pelo menos tr�s momentos fez brincadeiras com a plat�ia. Num deles, chegou a usar uma met�fora futebol�stica, dizendo que divis�o s� � boa no campo do esporte e que pessoalmente ele gostava quando havia verdes de um lado e "preto e branco de outro". O governador � torcedor do Palmeiras, cujo principal rival � o Corinthians. A brincadeira se referia as cores das camisas das duas equipes.

Serra tamb�m fez gestos de aproxima��o, dizendo que n�o jogar� o governo contra a oposi��o, nem ir�, caso eleito, olhar para carteira partid�ria de quem propuser emendas de libera��o de verbas. "Sempre olhei para a qualidade, nunca para a filia��o", disse.

Essa declara��o foi entendida como um gesto de entrada para o PMDB, partido que ap�ia Dilma Rousseff, mas que vive dissid�ncias internas que podem resultar em migra��o de apoio para a campanha tucana.

No evento, estavam presentes os presidentes do DEM, Rodrigo Maia, do PPS, Roberto Freire, legendas que j� declararam apoio ao tucano. Mas tamb�m estavam representantes do PTB, do PSC e do PMN, partidos que hoje integram a base de apoio do governo Lula.

Serra pretende aumentar o escopo de aliados, a fim de garantir tempo maior na propaganda de r�dio e televis�o e mais palanques e estruturas no Estado. Tanto que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, foi tratado com defer�ncia. Jefferson foi autor das den�ncias de que o governo federal corrompia aliados, por meio de pagamentos a deputados em troca de votos em temas importantes, um esc�ndalo que ficou conhecido como "mensal�o".

Ao final, o deputado disse que teria maioria no partido para assegurar apoio a Serra, mas pretende negociar, sob o risco de criar uma disputa interna na legenda.

O tucano adotou tom por vezes emotivo. Fez uma homenagem a seu pai, um "modest�ssimo comerciante de frutas no mercado municipal", que carregou frutas para que ele "pudesse carregar livros".

Ao falar de sua biografia, Serra procurou ressaltar sua origem modesta, cujo crescimento sempre foi vinculado ao trabalho e ao esfor�o. Tamb�m lembrou Zilda Arns, ex-coordenadora da Pastoral da Crian�a, e Ruth Cardoso, ex-primeira dama, morta em 2008. Ela era casada com Fernando Henrique Cardoso. A men��o ao nome da mulher arrancou discretas l�grimas do ex-presidente.

As cr�ticas ao governo apareceram de maneira velada. Em um momento, disse que � necess�rio preservar o estado de direito no Brasil, nunca afront�-lo. Em outro, revelou o desejo de que no Pa�s as leis sejam aplicadas para todos. "Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o presidente da Rep�blica tamb�m tem essa obriga��o.

Em nosso pa�s, nenhum brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja". Tamb�m disse que � necess�rio ao pa�s defender os direitos humanos "sem vacila��es". "N�o cultivemos ilus�es: democracias n�o t�m gente encarcerada ou condenada � forca por pensar diferente de quem est� no governo". Recentemente o presidente Lula foi criticado por estar em Cuba no mesmo dia em que um dissidente do regime implementado por Fidel Castro morria ap�s greve de fome. Lula condenou o uso da greve de fome como instrumento pol�tico e defendeu a autonomia cubana para resolu��o de seus problemas internos.

O ex-governador se preocupou em pontuar suas declara��es sempre com a necessidade de uni�o. E terminou com a declara��o de que o "Brasil n�o tem dono".

"Elei��o � uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha hist�ria pol�tica e com. esperan�a no nosso futuro", disse o pr�-candidato, que ainda precisa ser referendado em conven��o partid�ria em junho. Serra agora deve percorrer o Pa�s apresentando suas propostas, al�m de tentar negociar uma amplia��o de seus apoios partid�rios.

Al�m de saber quem ser� seu vice, defini��o que s� deve ficar para o m�s que vem, segundo o presidente do PSDB, senador S�rgio Guerra (PE). O DEM pede a vaga. Neste s�bado, militantes tucanos pediram em coro que A�cio aceitasse o posto, mas o ex-governador de Minas Gerais desconversou.

Pretende com isso ter um final diferente do que teve em 2002, quando numa campanha cheia de problemas acabou sendo derrotado por Lula. Mas j� prev� que ser� uma caminhada "longa e dif�cil".

Ao final de sua fala, a primeira pe�a publicit�ria mais concreta de sua campanha. Um jingle em que mostra que Serra � do bem e que n�o tem contra-indica��o _numa alus�o indireta aos advers�rios, mas j� buscando tamb�m atar sua imagem � da gest�o da Sa�de.

Serra foca em temas sociais, mira nos pobres e evita confronto direto

Serra durante lan�amento de candidatura em Bras�lia


 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir