Categoria Educação  Noticia Atualizada em 23-07-2010

Professores perseguidos em Marataízes
Os professores Fernanda dos Santos Lourenço Martins, Sociologia e Cleidson Frisso, Língua Portuguesa...
Professores perseguidos em Marataízes
Escola José Veiga

Por Luciana Maximo

Os professores Fernanda dos Santos Lourenço Martins, Sociologia e Cleidson Frisso, Língua Portuguesa, ambos residentes em Marataízes vêm sofrendo uma série de retaliações na escola onde atual, a EEFM José Veiga, localizada na localidade de Jacarandá.

Indignados com a perseguição resolveram impetrar denúncias na Superintendência Regional de Educação – SER - pólo Cachoeiro contra a diretora Norma Lígia Brumana. Eles alegam que foram duramente constrangidos e humilhados em um episódio vergonhoso para uma instituição de ensino.

Fernanda assumiu recentemente as aulas de Sociologia na escola após ser chamada pela SRE. Logo em seguida percebeu que não agradara a então diretora que é acusada por ela de ter orientado três alunas do Ensino Médio a questionar suas práticas, gravando e filmando através de um aparelho celular.

Por outro lado, Cleidson acabou sendo envolvido no episódio quando redigiu a crônica "Quando você encara o abismo, o abismo encara você" e leu para os alunos, foi o pivô para a situação se agravar. Advertido e humilhado pela diretora na presença de pais e alunos, o professor resolveu também denunciar a diretora Norma na SER.

Fernanda relata que assumiu recentemente as aulas e que não tinha experiência com sala de aula, mesmo assim não poderia ter sido constrangida como foi.

"Ao chegar à escola dia 05/07 entreguei o restante dos documentos que faltavam à diretora Norma e fui para minha sala. Quando estava passando no quadro a matéria, fui chama por ela para ir até sua sala. Ao entregar os documentos, ela se dirigiu a mim com arrogância, dizendo que eu deveria estudar bastante, e que minhas aulas deveriam ser mais dinâmicas, pois, o antigo professor era dinâmico. Falou ainda que os pais e os alunos da escola são muito questionadores e já haviam reclamado sobre a minha falta de experiência no último plantão pedagógico. Minha reação foi apenas balançar a cabeça e aceitar", relatou.

Minutos depois sair da sala da diretora Fernanda conta que percebeu que a pedagoga estava na sala dela e assistindo suas aulas. "Estava me sentindo insegura e apreensiva com a fala da diretora, quando a vi fiquei apavorada e me perguntando se ela estava ali para me vigiar. Uma aluna percebendo que a pedagoga permanecera me perguntou se ela iria ficar o tempo todo ali assistindo a aula. Como não conseguia entender o que estava acontecendo, perguntei a aluna se ela agia dessa forma com os demais professores e a mesma me respondeu que não. E ela assistiu às duas aulas", explicou.

Se sentindo incapaz e arrasada a professora voltou para casa, "sem saber por que as pessoas estavam me perseguindo e com tamanha implicância comigo. Chorei a noite toda e pensei até em desistir", confessou.


A humilhação

A professora ressaltou que houve uma apresentação dos grupos em um determinado trabalho para avaliação.

"Logo após os grupos terminarem suas apresentações uma aluna se dirigiu a mim e me perguntou se os temas que não foram apresentados à turma iriam ficar sem saber, pois, o conteúdo do primeiro trimestre já estava atrasado e eles estavam sendo prejudicados. Respondi que não, que eu poderia estar passando para eles. Então ela me pediu para fazer um resumo de tudo que estava faltando naquele exato momento, minha resposta foi que naquele momento eu não estava preparada para resumir todo aquele conteúdo, mas, que na próxima aula eu estaria trazendo um resume de tudo. Neste meio tempo entraram na conversa as outras duas alunas que também me questionaram perguntado se eu então não sabia o conteúdo. Respondi que eu havia olhado, mas, não havia estudado a fundo cada tema, e que eu precisava estudar um pouco melhor. Sem perceber que estavam com o celular em cima da mesa gravando toda a conversa.

Daí em diante uma das três alunas continuou me questionando e falou que não entendia como que o sistema aceita uma pessoa como eu, que fez apenas pedagogia, para dar aula de sociologia, enquanto o ex-professor era habilitado e capacitado, com tanta experiência não pode continuar dando aula. Pediu-me desculpas pelas palavras, e me perguntou quantas vezes eu tinha visto sociologia na faculdade, citando ainda a minha falta de experiência. Disse que não tinha culpa pelo que estava acontecendo com o conteúdo, e que eu não poderia ser responsável pelo que tinha ocorrido no primeiro trimestre. O que cabia a mim iria desenvolver junto com eles, e que o sistema estava a par de tudo que estava acontecendo, inclusive da minha graduação e da minha falta de experiência.

O sinal bateu e eu saí da sala, duas alunas me chamaram e me avisaram que toda a conversa que tive com as alunas havia sido gravada. Neste momento eu me desesperei e fui direto para a coordenação em prantos, pronta para entregar minhas aulas, pois, não conseguia entender o porquê da diretora me colocar entre a parede, a pedagoga me vigiar e agora os alunos agirem dessa forma comigo.

As alunas foram chamadas, a coordenadora juntamente com a pedagoga falou da gravidade que tinha ocorrido e perguntaram por que elas agiram dessa forma, foi aí que umas das alunas me falaram que a diretora "Norma" pediu para que os alunos me vigiassem e me questionassem na sala de aula. Eu perguntei por que elas gravaram a nossa conversa e elas me responderam que não era para nada. Pediram-me desculpas e foram liberadas. Mais tarde quando Norma chegou à escola me chamou em sua sala tentado se explicar, e dizendo que ela não pediu para gravar nada, porém pediu sim que A juntamente com os alunos questionassem todos os professores, para que a escola tenha sempre um ensino de qualidade", detalhou.


Crônica é o pivô para o nocaute dos professores

Enquanto a professora era humilhada passando por todo o drama, Gleidson Frisso acabou entrando de gaiato na confusão. "Envolvi-me como todos os outros professores. Contudo, sou DT nesta escola e os demais professores que repudiaram o ato infracional das alunas, sobre a orientação da diretora, são efetivos, por isso tiveram tratamento diferenciado. Apenas um foi questionado em particular pela pedagoga e nada mais, nenhum constrangimento e descriminação como eu sofri", disse.

Frisso assegura que todos os professores se comoveram com a situação. "Após sabermos do constrangimento que Fernanda havia sido submetida, nos pronunciamos prontamente contra isso. Escrevi uma crônica (componente curricular literário, passivo de múltiplas interpretações) sobre Ética. Um dia após a leitura do texto, fui chamado pela coordenadora a comparecer à sala da pedagoga. Lá estavam reunidos quatro pais, das referidas alunas, sua prole (três alunas), duas pedagogas - uma inclusive do turno vespertino que não me supervisiona - a coordenadora e a diretora. Nesta sala fui acusado pela diretora e pais das alunas de me "meter" (fala chula da própria gestora), ser antiético, bode expiatório dos demais professores, entre outras acusações que duraram cerca de 45 minutos. Esta acusação me pôs sobre constrangimento mediante aos pais, às alunas e todos que ali estavam me acusando, sem deixar margem à minha defesa, sem perguntar a outros alunos, sem sequer lerem à crônica. Senti-me ofendido, não consegui trabalhar depois disso", frisou Cleidson.

Professora efetiva da José Veiga e advogada está horrorizada com o que fato

Com absoluta exclusividade a professora de Língua Portuguesa e advogada Ana Beatriz Rangel da Silva, 35, está horrorizada com o que vem ocorrendo na escola José Veiga e afirma que o ato da diretora contra os professores trata-se de assédio moral – crime prescrito na forma da lei. "Os dois professores foram vítimas da falta de competência e de preparo da administração da escola em resolver de forma justa situações relevantes entre professores e alunos, que preferiu usa-los de "bode expiatório" para cobrir sua falta de preparo e autoritarismo. Desde a vinda de Fernanda, a direção demonstrou certa rejeição à mesma, tecendo comentários com outros professores, pedindo a pedagoga para que fiscalizasse a aula da professora.

Ana Beatriz confirmou que foi realmente a diretora quem induziu as alunas a provocar a professora: "segundo as alunas sim, fato confirmado diante do professor por um pai que disse que a diretora havia errado ao pedir isso às alunas", contou.

Para Beatriz, não é preciso ser advogado para reconhecer a atitude da diretora como assédio moral, "apesar de nossa legislação estadual não tratar diretamente do assunto, através da jurisprudência reconhece a prática, tanto que há no TJ-ES decisões favoráveis ao servidor tratando desse assunto, uma envolvendo o ambiente escolar ocorrido no município da Serra também causado por uma diretora".

Alunos se vestem de preto para protestar contra a diretora

Indignados e revoltados com a atitude da diretora para com o professor Cleidson os alunos do Ensino Médio foram à escola vestido de preto num ato de preto. "Os alunos do professor se sensibilizaram com a agressão sofrida pelo professor e em ato de solidariedade foram à aula na sexta-feira 09 de julho vestidos de preto em sinal de protesto quanto à atitude da direção, sendo os mesmos retaliados pela diretora", comentou.

Ana Beatriz afirmou que embora a diretora tivesse dito à reportagem que o assunto já estava encerrado, isso não procede. "Os representantes dos professores no Conselho de escola ainda não sabem dessa reunião, ela reuni-se apenas com as pedagogas e talvez com um representante de pais, que por sinal é irmã da diretora. Se houve a reunião, os professores não foram ouvidos, ou seja, não participaram", respondeu.

Segundo a professora, não houve reunião alguma com os pais, onde a diretora esclarece com eles e o Conselho e o problema com os professores.

O clima na escola está pesado, é de indignação e revolta. "Nós professores e alunos aguardamos um esclarecimento da administração e que a situação seja resolvida de forma justa, não com privilégios ou humilhações", adiantou.

Estarrecida e horrorizada é a forma que a professora está. "Na sociedade em que vivemos princípios e valores andam em declínio, principalmente os éticos. É na escola que muitos jovens constroem o seu caráter, a sua personalidade e aprendem o exercício da cidadania, pois aprendem com os exemplos difundidos na escola de práticas de respeito, de solidariedade, de justiça; com o exemplo daqueles que estão ali não apenas para transmitirem o conhecimento científico, mas que com sua conduta transmitem também valores. Qual o exemplo que a diretora está dando a essas jovens?! Aos demais alunos? Que tipo de pessoas estamos moldando? Que cidadãos estamos formando para nossa sociedade? Chega exemplo ruim, já temos demais", desabafa Ana Beatriz.


Diretora nega as acusações

A Reportagem conversou com a diretora por telefone e ela fez questão de afirmar que não orientou as alunas a gravarem a conversa com a professora Fernanda. Disse também que o professor não deveria ter feito a crônica que supostamente havia conseguido provocar mais ainda exposto as estudantes.

Norma Ligia assegurou que o que houve foi apenas um fato isolado e que já teria resolvido a questão, inclusive reunindo pais, Conselho da Escola e professores. Que teria encaminhado a SRE o fato.

"O que eu prezo é uma educação de qualidade, oriento aos meus alunos questionarem o professor visando o fazer pedagógico da instituição. Quero o melhor para eles. Não mandei as alunas gravarem conversa alguma. Já está tudo resolvido", disse Norma.

SER recebe denúncia, mas, ainda não apurou os fatos

Estivemos na SRE de Cachoeiro para averiguar as denúncias contra a diretora Norma Ligia Brumana e lá foi constatado que realmente os professores Fernanda e Cleidson entraram com ação contra ela, muito embora o superintendente Roberto Lopes ainda não tivesse conhecimento dos fatos.

A supervisora pedagógica da SRE Celeida Chamão estava com as denúncias sobre a mesa, mas não tinha averiguado ainda, uma vez que, cabe a inspetora que está licenciada rever a questão in loco.

"A SRE vai investigar e o couber a esse órgão será feito com absoluta transparência, o que não nos competi a encaminharemos para a SEDU, mas certamente medidas serão tomadas. Isso não pode passar em branco", afirmou.


Professor Cleison



Diretora Norma


    Fonte: A Autora
 
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