Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 16-08-2010

Os sons da Alma e a sociedade ouvinte (I)
É digna de respeito e louvor a biografia da célebre ativista social, escritora e conferencista norte-americana Helen Keller (1880-1968). Embora se saiba que, aos dezoito meses de vida, estava cega e surda, tornou-se, com o imprescindível apoio de sua amig
Os sons da Alma e a sociedade ouvinte (I)
Foto: www.maratimba.com


É digna de respeito e louvor a biografia da célebre ativista social, escritora e conferencista norte-americana Helen Keller (1880-1968). Embora se saiba que, aos dezoito meses de vida, estava cega e surda, tornou-se, com o imprescindível apoio de sua amiga e professora Anne Sullivan Macy (1866-1936), um dos mais importantes ícones da luta pela qualidade de vida dos que têm deficiência. Um de seus pensamentos que mais admiro adverte: "Até que a grande massa de pessoas seja preenchida com o senso de responsabilidade para o bem-estar de todos, a justiça social jamais será alcançada".

CORAGEM E PERSEVERANÇA
Apesar do encantamento que histórias como essa despertam, enganam-se os que acreditam que se trata de acontecimentos esporádicos da coragem e perseverança humanas. Na verdade, exemplos semelhantes ao de Helen estão por todo lugar, habitando, com frequência, o cotidiano. No que se refere à perda da audição, temos, atualmente no Brasil, quase 6 milhões de pessoas nesse estado.
Numa entrevista conduzida por Daniel Guimarães, no programa "Sociedade Solidária", da Boa Vontade TV (canal 23 da SKY), os atores Sueli Ramalho e Rimar Segala, irmãos surdos de nascença, narraram belas experiências da trajetória de vida de ambos.
Ao ser indagada sobre de que modo encarava ausência de som na infância, Sueli comentou: "Sou filha de pais, avós paternos e bisavós surdos. Para mim, era normal. Minha língua materna sempre foi a de sinais. Eu achava que o mundo lá fora era deficiente. A gente morria de dó das crianças na rua, pois achava que mexiam a boca porque estavam com fome, porque não tinham chiclete ou bala na boca. Que mundo diferente é esse que não tinha chiclete? (risos) Queria ensinar todas essas pessoas a falar com as mãos. Era essa a minha preocupação".
Por sua vez, Rimar Segala, por gestos traduzidos pela irmã, comentou: "A trajetória da Sueli foi diferente da minha. Embora sejamos surdos, a forma de comunicação é totalmente diferente. Sueli aprendeu [com ajuda de aparelho] a falar. Eu ainda não desenvolvi a fala. Quero muito falar com a sociedade ouvinte [termo que utilizamos para a pessoa que normalmente escuta]". Sueli complementou: "Foi muito difícil aprender a língua portuguesa. Levei muitos anos para aprender a me comunicar com a sociedade ouvinte, porque o nosso recurso é totalmente visual. Ainda ‘apanho’ da língua portuguesa!". (risos)

COMPANHIA ARTE E SILÊNCIO
Fundadores da Companhia Arte e Silêncio, eles perceberam, desde muito cedo, pela influência do pai, que a educação e a arte poderiam ser instrumentos valiosíssimos no auxílio ao deficiente auditivo. Rimar explicou: "Em minha casa tinha muita cultura. Meu pai ficava contando histórias da Bíblia, de Moisés, e quando fui para a escola especial de surdos, percebi a falta de sensibilidade com a parte didática, da história da educação do surdo. Consegui com a minha família tudo o que aprendi. Então me sobressaía nessa escola. Quando me graduei em Matemática, acabei criando uma história, uma adaptação através dela. Comecei a ser um criador de histórias. Isso acabou me direcionando para o teatro".
Ainda sobre o papel da educação, Sueli afirmou que "a maior dificuldade que as crianças surdas têm é da comunicação na própria família. É nela a primeira educação. Muitos pais querem aprender a se comunicar com seus filhos, mas não sabem como. Alguns deles ‘jogam’ as crianças na escola achando que o professor tem que fazer um milagre, como se a surdez fosse uma doença, por não possuírem a correta informação. Daí termos montado a peça ‘A Orelha’".
Com o relato corajoso e pleno de esperança desses jovens, presto tributo ao Dia da Juventude, 12 de agosto, deixando claro que a mocidade não está perdida coisa nenhuma!
Na próxima coluna, continuaremos esta incrível viagem a um universo silencioso, mas repleto dos mais expressivos sons na alma dos que escutam com os olhos do coração.

LBV — AO LADO DE QUEM PRECISA
As chuvas que vêm atingindo a capital gaúcha levaram transtornos principalmente às famílias que habitam as ilhas Grande dos Marinheiros e do Pavão.
A escassez de alimentos e de itens de higiene pessoal sensibilizou ouvintes da Super RBV — AM 1.300, de Porto Alegre, e empresários, que procuraram a LBV, doando agasalhos, cobertores e alimentos não perecíveis.
O Portal www.boavontade.com registrou a distribuição dos donativos: "O pescador aposentado sr. Edson Bonapasse expressou seu reconhecimento: ‘Eu só vejo a LBV aqui ajudando o povo. Obrigado muito por tudo que fazem!’. A sra. Liane Farias, líder comunitária das ilhas, fez coro: ‘A LBV está sempre presente para ajudar a comunidade’".
O Centro Comunitário e Educacional da LBV em Porto Alegre (Av. São Paulo, esquina com a Av. São Pedro, 722, bairro São Geraldo), continua arrecadando doações para as vítimas das enchentes. Para mais informações, ligue: (51) 3325-7036.

José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor.
[email protected] — www.boavontade.com


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Por:  José de Paiva Netto     |      Imprimir