Categoria Policia  Noticia Atualizada em 21-10-2010

Vigia acusado de matar Mércia nega participação
Mizael é fotografado ao chegar ao Fórum de Guarulhos para audiência nesta quinta-feira (21)
Vigia acusado de matar Mércia nega participação
Foto: André Lessa/Agência Estado/AE

Marcelo Mora

O vigia Evandro Bezerra Silva, de 39 anos, negou na tarde desta quinta-feira (21) ter participado do assassinato da advogada Mércia Nakashima, em maio deste ano. Em depoimento no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo, ele afirmou que chegou a confessar o crime após ser submetido a tortura. Apesar do fim da audiência, neste quarto dia, os réus só saberão se serão pronunciados (irão a júri) após o TJ julgar o pedido da defesa para que o caso seja apreciado em Nazaré Paulista, onde o corpo dela foi encontrado, e não por Guarulhos.

Antes de começar o interrogatório, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano ofereceu delação premiada ao vigia, que recusou o benefício, no qual uma pessoa presta informações com o compromisso de ter a pena atenuada. O advogado José Carlos da Silva, que defende o réu, disse que não é do "feitio do cliente dele mentir, ainda que isso pudesse beneficiá-lo".

Além de negar envolvimento na morte da vítima, Evandro afirmou que o delegado Antônio de Olim, que presidiu o inquérito, mentiu sobre o episódio da tortura na delegacia em Aracaju. O delegado foi ouvido na terça-feira (19).

O vigia relembrou que foi preso em Canindé de São Francisco, em Sergipe, onde prestou um primeiro depoimento. Depois, foi transferido para Aracaju. Ao encontrar o delegado, Evandro disse que Olim falou: "Vim para te ajudar e para ser ajudado". O vigia afirmou que o depoimento em que faz a confissão foi gravado depois de ele ter sido torturado. "Ele [Olim] mentiu em seu depoimento".

Segundo Evandro, dois policiais o levaram até uma sala no distrito policial e Olim ficou em outra, ao lado. Na sala para onde foi levado, Evandro afirmou que tinha dois delegados, quatro policiais e os outros dois policiais que o levaram para a sala. Lá, colocaram fita adesiva nos pés dele, mas não apertaram, disse.

Evandro afirmou ainda que os policiais viraram para ele e disseram: "Vai colaborar ou não? Aqui, você não fala o que você quer, você fala o que a gente quer. É melhor você falar porque você não vai aguentar". O vigia contou que colocaram uma fita na boca dele e disseram para ele que, se quisesse falar alguma coisa, batesse os pés.

Segundo relato do réu, em seguida, começaram a colocar saco plástico na cabeça dele. Na quarta vez, ele disse ter desmaiado e, depois de acordar, foi levado para outra sala onde estava o delegado Olim com câmera e gravador. Foi aí, afirmou Evandro, que ele confessou. "Antes do doutor Olim chegar a Aracaju, não aconteceu nada", disse Evandro, ligando o delegado que investigou o caso à tortura.

Nesta quinta-feira (21), a Justiça também interrogou o policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, ex-namorado de Mércia. Ele negou o crime.

Mizael respondeu a várias perguntas sobre o dia 23 de maio, data do desaparecimento. Primeiro, ele disse que ligou "duas ou três vezes" para a ex-namorada. As investigações apontam, no entanto, que ele telefonou 16 vezes para ela de um telefone cadastrado no nome de outra pessoa. Mizael confirmou que esse telefone pertencia a ele.

"Agora, sim, eu me recordo, comprei no shopping. Não era de uso contínuo, mas de uso pessoal", afirmou. Questionado por que não falou sobre o aparelho, ele disse que esqueceu. "Não lembrei. Com toda aquela pressão, a gente acaba ficando sem muita noção das coisas. Devo ter ligado [as 16 vezes], mas completadas foram três."

O réu continuou alegando que esteve com uma prostituta na data do desaparecimento de Mércia. Em outros depoimentos, ele afirmou ter ficado três horas com a mulher. À Justiça disse que o encontro durou cerca de uma hora e meia. Ele afirma ter encontrado a prostituta em uma alça de acesso da Rodovia Hélio Smidt. Houve uma conversa rápida, de cerca de "cinco segundos", e a mulher seguiu com ele de carro, até o ponto onde estacionaram o veículo. Mizael disse que a mulher tem olhos claros, cabelo preto, é morena clara e mede cerca de 1,67 metro.

Mizael confirmou que esteve com Mércia na noite do dia 22 de maio, um dia antes do desaparecimento, e que os dois foram ao cinema. Uma semana antes, no dia 16, eles se encontraram e dormiram juntos em um local na Rodovia Fernão Dias, ainda segundo o réu. Ele lembrou que, na manhã do dia 23, a ex-mulher ligou para ele várias vezes dizendo que a filha tinha sido sequestrada. Depois, o rapto não se confirmou, mas ele ficou abalado com o fato.

Ele nega ter estado na represa de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo da advogada foram encontrados. "Nunca estive na represa de Nazaré, ninguém me viu lá", afirmou. Mizael disse que não costuma usar sapatos no fim de semana – a perícia encontrou uma alga compatível com as existentes na represa em um dos calçados dele. Ele afirmou que a descarga elétrica que afetou a mão dele também prejudicou o pé e, por isso, só usa tênis nos dias de folga.

O advogado também confirmou conhecer Evandro, porque "passava alguns bicos" ao vigia. Em duas ocasiões durante o interrogatório, houve discussão entre os advogados de defesa e os responsáveis pela acusação, principalmente durante as perguntas da Promotoria.

Vigia acusado de matar Mércia nega participação durante depoimento
Evandro Bezerra Silva disse que só confessou participação após tortura.
Réus foram interrogados nesta quinta, no Fórum de Guarulhos.


Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir