Irlandeses protestam em Dublin
Foto: AFP Andrew Bushe e Loic Vennin
DUBLIN — O governo irlandês apresentou nesta quarta-feira um drástico plano de ajuste quadrienal de 15 bilhões de euros (20 bilhões de dólares), elaborado como condição prévia à recepção de um bilionário resgate internacional.
"Estou otimista em relação ao futuro deste plano e à confiança que trará para a recuperação do país, sinalizando com o caminho da recuperação", disse o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, ao apresentar as medidas ao Parlamento.
O plano de ajuste inclui cortes do gasto público de 10 bilhões de euros ao que se acrescenta 5 bilhões de euros em receitas adicionais geradas pelo aumento dos impostos, representando cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), informou o governo em um documento entregue à imprensa.
Os primeiros 6 bilhões de euros (8 bilhões de dólares) de economia devem ocorrer em 2011, e estarão incluídos no orçamento que o governo apresentará no dia 7 de dezembro.
Como o governo havia prometido, o plano não afetará o sacrossanto imposto cobrado às empresas, que com uma taxa de 12,5% é um dos mais baixos do mundo e considerado pelos parceiros europeus da Irlanda uma concorrência desleal.
Entre as economias previstas, destaca-se uma diminuição dos gastos sociais de 2,8 bilhões de euros em quatro anos e a supressão de 24.750 empregos públicos.
Além disso, o salário mínimo por hora será reduzido de 8,65 euros para 7,65 euros (10,22 dólares).
O Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) aumentará para 22% em 2013 e 23% em 2014, contra os 21% atuais.
O governo irlandês informou que baseou seu plano de ajuste em uma previsão de crescimento médio de 2,75% entre 2011 e 2014, após um crescimento "levemente positivo" neste ano.
O objetivo é reduzir o déficit público irlandês aos 3% do PIB exigidos pela União Europeia. Em 2010 o déficit deverá atingir um recorde de 32% do PIB, devido aos 50 bilhões de euros (66,5 bilhões de dólares) que a Irlanda precisou injetar em seus bancos para salvá-los da quebra.
O plano de ajuste é considerado condição prévia imprescindível a uma ajuda da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI)
De acordo com a imprensa irlandesa, o plano de ajuda internacional deve alcançar 85 bilhões de euros (113,7 bilhões de dólares) e incluirá uma taxa a ser paga pelos bancos responsáveis pela crise.
Em contrapartida, a Irlanda deve demonstrar que pode sanar suas finanças. A ajuda está condicionada a "medidas necessárias para que o país volte ao caminho da estabilidade" das finanças públicas, advertiu a chanceler alemã Angela Merkel.
Os 4,3 milhões de irlandeses temem o impacto do quarto plano de austeridade a que são submetidos desde o início da recessão, em 2008.
"A vida será insuportável", estimou Eamon Devoy. Certamente provocará "desordens sociais", garantiu o responsável do TEEU, um dos principais sindicatos do país, que respalda uma manifestação convocada para o sábado.
Ao descontentamento com o plano de austeridade, soma-se à humilhação sentida pela população, orgulhosa da independência conquistada, por ter que pedir ajuda externa.
A crise financeira foi agravada, além disso, por uma crise política que pôs a coalizão governamental à beira do colapso.
O primeiro-ministro Brian Cowen anunciou na segunda-feira eleições antecipadas para o próximo ano, uma medida com a qual espera ganhar tempo para permitir a aprovação do orçamento que será votado pelos deputados no início de 2011. A oposição segue, no entanto, pedindo sua renúncia.
A Irlanda é o segundo país europeu a receber ajuda externa depois da Grécia. Longe de fornecer paz de espírito, o resgate reforçou os temores de contágio a outros países frágeis, como Espanha e Portugal.
Irlanda apresenta plano de ajuste quadrienal de 15 bilhões de euros
Irlandeses protestam em Dublin
Fonte: AFP
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