Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 25-11-2010

QUAL É A PRÓXIMA NOTÍCIA?
Cada dia que passa as manchetes são mais agressivas. Imprudência no trânsito e sangue no asfalto, abuso sexual...
QUAL É A PRÓXIMA NOTÍCIA?

Por Luciana Maximo
Sempre que abro os jornais diários fico apreensiva para saber qual é a manchete principal. Ao mesmo tempo em que as secundárias também me apavoram e me instigam. Gosto de ler jornais. Aprecio a informação. Sou quase ‘tarada’ por textos. Instiga-me todos os gêneros. Dos literários, aos não literários.

Cada dia que passa as manchetes são mais agressivas. Imprudência no trânsito e sangue no asfalto, abuso sexual, pedofilia, chacina, tráfico, espaçamento, todo o tipo de violência que mancha as páginas dos periódicos diariamente.

Lembro-me de um episódio em que precisava de um título que coubesse na página e não passasse de 29 caracteres, pois o formato daquele periódico, o qual comecei a trilhar no universo do jornalismo era esse.

O diagramador nervoso como sempre, não tinha paciência para esperar que encontrasse o título exato. Na ocasião a notícia era da prisão de um pedófilo, que não deve ter ficado nem mesmo um mês atrás das grades, ele era rico.

Contudo, naquele dia, reuni os colegas repórteres para escolhermos junto um título que coubesse na página. E chegamos a afirmar em um só coro: eu, Carol e Zé: "a porra do titulo é o satanás"! Nenhum coube...

Entretanto, a manchete da notícia da semana passada que me fez ficar apreensiva e compartilhá-la com meus alunos de 7ª e 8ª série foi esse: "menina de 9 anos é ‘mulher’ do padrasto".

Quando vi a manchete secundária na capa do jornal relutei e disse aos colegas professores que estavam à mesa comigo. "_ Recuso-me a ler essa noticia". No passar dos olhos, nas legras grandes e negras, não quis acreditar no que lia, porque imaginava uma menina de 09 anos, criança e revia essa mesma imagem com uma boneca nas mãos, ou um brinquedo qualquer. Era essa a imagem que eu via... Jamais a de uma mulher nua deitada em uma cama com um homem, e essa mesma menina usasse alianças de compromissos com esse indivíduo.

Li. Reli e não satisfeita copiei-a numa página do Word, a reeditei fiz um comando para uma produção de texto que chamaria Carta do Leitor. Quis abrir o discurso com meus alunos e neste, lembro-me que nenhum dos 30 e poucos respirava quando lia a matéria em sala de aula.

Solicitei que eles escrevessem um texto de opinião para que publicássemos e neste, dissessem o que pensam sobre esse fato.

As produções foram ótimas. Antes, havia dito para eles durante a explicação de um trabalho sobre tipos de texto que existem vários. Entre eles abordei o editorial, a carta do leitor, a reportagem, a síntese, a resenha, o resumo, a charge, bem como, a carta argumentativa, conteúdos sugeridos pelo Currículo Básico da Sedu, em gêneros textuais.

Eles entenderam a matéria dada. Claro, fiz uma ampla abordagem através de slides, mostrei o jornal, as partes, exemplifiquei com situações que vivi como repórter e editora. Levei exemplos práticos.

Não foi surpresa ao levá-los ao laboratório de informática da escola, pedi que digitassem os textos e que juntos revisássemos cada um. A partir de então, pude compartilhar com uma colega professora durante um trago no horário do recreio que ensinar Português tornar-se muito mais prazeroso quando o aluno compreende para que ele esteja aprendendo determinado conteúdo.

Agora a minha 8ª série já sabe que quando ele não concordar com uma notícia publicada, uma reportagem, ou quiser elogiar, criticar, questionar há um espaço para ele direcionado nos jornais, e para nós fica um alívio. Valeu a pena ter lido àquela matéria tão horrível, em que um homem tinha como sua mulher a enteada de 9 anos, sob a lupa dos vizinhos e o consentimento da mãe da menina, que fez questão de selar a união, a relação, nem que sei que nome dar, com um par de alianças. Qual é a próxima notícia?

    Fonte: A Autora
 
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