Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 24-01-2011

CRÔNICA
Encontraremo-nos em breve
CRÔNICA
Foto: www.maratimba.com

Todos perplexos diante da calamidade que se abate no nosso estado vizinho. Perplexos com a tragédia, com a dor, com o grito da natureza e o desespero no olhar perdido sobre os restos que estão despejados as margens da beleza esculpida por Deus.

Eu só tenho medo da noite. Do pavor. Na medida em que vigio a montanha, o pessoal está dormindo a noite, diz uma mulher que acolhe seis famílias.

Eu vi um casal morrer junto segurando o álbum de casamento, nem a morte os separou. Eu estou vivendo um filme de terror, a minha casa caiu, e as pessoas que procuram e enterram seus mortos¿

A mulher içada por uma corda, os carros submersos, os galhos quebrados enterrados, a lama, os rios transbordando, máquinas não param de cavar em busca de cadáveres, máquinas furam centenas de covas, os caixões se aglomeram e a esperança, ah, a esperança!

O mais impressionante de tudo é a solidariedade, que lindo ver, emociona-me. Somos mesmos brasileiros. Torcemos na copa, sambamos no carnaval e na dor, nos unimos. A dor que arranca lágrimas de um povo e esse povo se convalesce e reparte o seu pão.

Os números não param de crescer é a maior tragédia no Brasil, mas não é a última. Enquanto perplexos assistimos as noticias, perplexos reproduzem a noticia, jornalistas heróis também no meio da lama e do horror que sucumbe o Rio de Janeiro.

541 pessoas mortas até as 21h13 de sexta-feira. O que me conforta nesses números é saber que no meio de tanta gente, ricos e pobres tiveram um fim muito semelhante. Geralmente desgraças como essa acomete sempre mais pobres, quem invade terreno, constrói casas em áreas de riscos e na maioria das vezes casas sem a projeção de um pós-graduado, mestre ou um doutor arquiteto.

Mas, os casebres não resistiram novamente e nem as mansões do cacifes que brindam com wisk importado a miséria alheia, multiplicada pela corrupção e humilhação de salários defasados e subempregos.

Dessa vez esperam encontrar os seus mortos ricos e pobres. No meio do lixo espalhado, carros importados, jóias e passagens aéreas a paraísos fiscais.

Morrem pretos, pardos, brancos, morrem pessoas boas e pessoas ruins. Morremos todos e todos perderam tudo porque não temos nada senão uma vaga ilusão de possuir o que a água lava e leva tudo.

Se eles, os ratos malditos se aproveitam da inocência e miserabilidade da maioria que se vende por nada, se eles, os malditos imundos fazem suas tramóias chamando de política, eles também têm parte de suas mansões flutuando na revolta da natureza que não se conforma o toque sujo de mãos leves.

Dinheiro para reconstruir, para prevenir existe, mas não há competência nas jogatinas regadas de gargalhadas em quatro paredes na delegação de funções. Os fantasmas das administrações são indicados por fazerem favores nojentos.

Os que assinam pastas nem sempre tem algum grau de instrução, quando não fazem nossas leis, analfabetos funcionais, tão ridículos como nós, patéticos acreditando na ressurreição de uma cidade que pode nunca mais esquecer a dor da maior tragédia e que não será a única, apenas a mais recente do ano que se inicia.

Roubem ladrões, construam mansões e enterrem seus mortos no mesmo cemitério onde jaz os inocentes que acreditaram em ti! Encontraremo-nos em algum lugar, sem nada, sem uma moeda que te faça melhor do que eu, ou que vista com grife mais sofisticada roupa. Pense nisso, enquanto não chega a nossa vez!



Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir