Categoria Esportes  Noticia Atualizada em 15-02-2011

Ronaldo, último degrau
Dores sem fim, decepções com a atual fase física/técnica e a eliminação do Corinthians na fase preliminar da Libertadores fizeram o atacante Ronaldo, 34 anos, antecipar oficialmente a aposentadoria dos gramados, prevista inicialmente para o fim de 2011. O
Ronaldo, último degrau
Foto: www.dgabc.com.br



O Fenômeno eternizou a reputação como um dos jogadores mais talentosos e carismáticos nas duas últimas décadas em números vistosos: marcou mais de 400 gols, foi eleito três vezes o melhor do mundo, garantiu dois títulos mundiais e a maior artilharia na história das Copas (15 gols).

"É muito difícil abandonar algo que te fez tão feliz, que você se doou tanto, e que poderia ainda seguir. Mentalmente, ainda quero muito continuar, mas também tenho de assumir algumas derrotas. E perdi para meu corpo. As dores musculares não cessam mais. Até para subir escadas é difícil. Esse é o momento certo (de parar)", afirmou, emocionado e ao lado dos filhos Ronald e Alex, ambos com a camisa corintiana.

Ronaldo, que teve seguidos problemas para controlar o peso, revelou que descobriu há quatro anos ter hipotireoidismo, doença causada por mau funcionamento da tireoide. O fato já havia sido abordado pela imprensa na época, inclusive na chegada do ídolo ao Timão. Mas até então nunca havia sido confirmado.

"Há quatro anos descobri que sofro deste distúrbio (hipotireoidismo), que desacelera o metabolismo. Para controlar isso, teria de tomar alguns hormônios, que no futebol não são permitidos por causa das consequências do antidoping", esclareceu.

Ao falar da torcida do Timão, o Fenômeno não segurou as lágrimas. Várias vezes o atacante pediu desculpas por não ter conseguido realizar o sonho de conquistar a Copa Libertadores e disse que vai continuar indo aos estádios para torcer pelo clube. "Não sei como fiquei tanto tempo sem o Corinthians.

Quero agradecer ao presidente (Andrés Sanchez, também presente na coletiva) e pedir desculpas publicamente por ter fracassado no projeto Libertadores, dizer que você (Sanchez) é meu irmão, que a história foi linda aqui, maravilhosa. Continuarei vinculado ao clube da maneira que você quiser", comentou.





Futuro inclui ONG e cargo como embaixador corintiano



Mesmo sem atuar mais pelos gramados no Brasil e no mundo, o agora ex-jogador Ronaldo confirmou que já tem futuro bem traçado e definido a partir de planejamento para a nova fase e funções que ocupará na vida profissional.

Ele dará prosseguimento às ambições com nova empresa, (a 9ine, que inicialmente gerencia e cuida da imagem do lutador Anderson Silva, campeão do UFC), será embaixador do Corinthians no Exterior e ainda anunciou a criação em breve de uma ONG.

"Vou me dedicar a minha agência, daqui a um tempo vamos anunciar a fundação Criando Fenômenos, que é algo que espero concretizar também para revelar novos talentos", disse.

Ronaldo explicou que, com a parada na carreira, ele agora terá o principal para se dedicar a esses projetos: tempo hábil, já que os compromissos com o futebol consumiam boa parte da agenda diária.

"São projetos que estão se desenvolvendo, mas precisaria de tempo pra me dedicar. A gente tem já o nome registrado e tudo que precisa para essa fundação funcionar. Agora, terei o principal que é a disponibilidade também", afirmou ele.

Durante a entrevista de despedida, Ronaldo não cansou de declarar amor ao Corinthians e garantiu que o clube também faz parte de planos para o futuro. O ex-jogador disse que será uma espécie de embaixador no Exterior. "Não quero nada de comissão técnica nem de diretoria. Serei um tipo de representante institucional, fazendo e levando nome do clube mundo afora. Vou ajudar a captar cada vez mais recursos e talentos para o Corinthians", disse.



Os dois lados da moeda no Corinthians



Assim como grandes jogadores em grandes clubes, a relação de Ronaldo com o Corinthians foi marcada por amor e ódio. Apresentado com pompa em 12 de dezembro de 2008, o Fenômeno foi recepcionado por milhares de fiéis em festa de gala organizada pelo Timão. "Agora é mais um louco para esse bando de louco", afirmou Ronaldo na época.

E o início foi promissor, com títulos e gols, sendo o primeiro mais que especial. Em 8 de março de 2008, o Corinthians perdia para o Palmeiras por 1 a 0, em Presidente Prudente, quando a bola procurou a cabeça de Ronaldo antes de entrar no gol. Delírio da torcida, que derrubou o alambrado, onde o Fenômeno foi comemorar.

Mas foram os gols da final do Paulista diante do Santos que entraram naquela lista de inesquecíveis. No primeiro, Ronaldo ensinou como chamar a bola de amiga ao dominá-la e mandá-la ao encontro da rede. Já o segundo foi antológico. Com belo toque, se livrou da marcação e mandou por cobertura em Fábio Costa. Atônita, a torcida do Peixe na Vila Belmiro só faltou aplaudir. Resultado: títulos do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, que deu vaga à Libertadores.

Porém, as diversas lesões atrapalharam o desempenho de Ronaldo, que não conseguiu levar o Corinthians ao título sul-americano em 2010, ano do centenário do clube. A equipe ainda teve outra chance nesta temporada, mas ele parecia não aguentar mais e, assim como o restante do time, sucumbiu diante do inexpressivo Tolima. No total foram 35 gols em 69 jogos.

Apesar do fim da união sem Libertadores, o Corinthians pode, assim como os torcedores de São Cristóvão e Cruzeiro, se vangloriar de ter tido um dos melhores jogadores de todos os tempos.



Fiel ganha pedido de desculpas


Apesar de ser bastante criticado pela torcida devido à eliminação na pré-Libertadores deste ano, o atacante Ronaldo garantiu que irá sempre respeitar a Fiel. "Nunca vi uma torcida tão vibrante, tão apaixonada e tão entregue ao seu time de futebol. É certo que em algumas vezes essa cobrança por resultado a torna agressiva e fora de controle. Mas eu não me imaginava viver sem o Corinthians. Continuarei ligado ao clube e muitas vezes vocês vão me encontrar torcendo pelo Corinthians no estádio", disse o emocionado Fenômeno, ontem.

O agora ex-jogador fez questão de selar a paz com a torcida em gesto de humildade. "Aproveito e peço desculpas publicamente pelo fracasso no projeto Libertadores", ressaltou.

Antes da entrevista coletiva, Ronaldo se reuniu com o elenco e a comissão técnica. Eles ouviram atentamente o atacante, que estava acompanhado de seus filhos Ronald e Alex. Ao final, todos, bastante comovidos, aplaudiram e abraçaram o ex-atacante.



Jornais pelo mundo fazem reverência na hora do adeus



Como não poderia deixar de ser, a despedida de Ronaldo ganhou grande espaço na mídia europeia. Afinal, foi no Velho Mundo que por mais tempo ele apresentou seu imenso talento para fazer o que o futebol mais valoriza: gols. Todos os veículos de comunicação destacaram a razão alegada pelo atleta para abandonar os gramados, o hipotireoidismo.

O jornal italiano Gazzetta dello Sport acompanhou Ronaldo de perto, por ele ter jogado nos dois principais clubes de sua cidade, Milão: Internazionale e Milan. No site do diário esportivo, o presidente da Inter, Massimo Moratti, afirmou: "Ronaldo é o maior centroavante da história". E diz mais:"Foi um prazer vê-lo jogar com a nossa camisa em um ano especial, um verdadeiro privilégio para nós".

O atacante obteve êxito naquilo que bem poucos conseguiram, como lembra o Marca, da Espanha. Afinal, Ronaldo jogou nos rivais italianos e também no Barcelona e no Real Madrid. Ainda que desagradou a muitos, seu índice de rejeição não o tornou persona non-grata na Itália e na Espanha. "Dentre os grandes méritos de Ronaldo está o fato de ter jogado em quatro das principais equipes do mundo".

O Marca reverenciou Ronaldo."O adeus do maior atacante da história", é a manchete. Depois dá alguns números para justificar seu título. "Ronaldo marcou 420 gols em 616 partidas, ganhou a Bola de Ouro e foi eleito pela Fifa três vezes o melhor do mundo"

Um longo texto resgata ainda jogadas históricas de Ronaldo. "Um dos seus gols antológicos foi na época de Barcelona. Pegou a bola no meio do campo e foi driblando os adversários, livrando-se de chutes a agarrões até ficar na frente do goleiro e concluir com maestria"

Com uma linda foto de Ronaldo ao lado do filho Alex, o L'Equipe, de Paris, deu em manchete: "Uma carreira maravilhosa". Até a Fifa, em seu site oficial, não deixou o fato passar em branco: "Sempre um Fenômeno".



Fama instantânea e superação marcam carreira



Ronaldo começou carreira pelo São Cristóvão (RJ) e logo se transferiu para o Cruzeiro, por US$ 10 mil (cerca de R$ 17 mil na época), onde teve desempenho acima da média: em 58 partidas, anotou 57 gols, média de 0.9 por jogo.

Aos 17 anos, foi convocado para a Seleção Brasileira comandada por Carlos Alberto Parreira e que seria tetracampeã na Copa de 1994, nos Estados Unidos, mas ficou apenas no banco de reservas.

Com o começo meteórico, seguiu a tendência de mercado de grande parte dos craques prodígios da década de 1990 e logo debutou no futebol europeu, pelo holandês PSV, onde novamente se destacou ao marcar 67 vezes em 71 jogos.

Em 1996, foi vendido ao Barcelona por US$ 20 milhões (R$ 33 milhões). Na temporada 1996/1997, fez 47 gols em 49 partidas e ganhou o apelido de Fenômeno. Eleito o melhor do mundo pela Fifa em 1996 e 1997, Ronaldo se transferiu para a Internazionale, de Milão, por US$ 36 milhões (R$ 60 milhões).

Na Copa de 1998, marcou quatro vezes. Mas o que entrou para a história foi o mal-estar que teve na véspera da decisão com a França, quando foi levado às pressas ao hospital com convulsões. O fato e as consequências do que realmente aconteceu rendem polêmica até hoje. O atacante participou da final, mas pouco fez na derrota por 3 a 0 do time nacional para os anfitriões franceses.

Na Itália, manteve a alta média de gols (99 em 59 exibições), porém começou a conviver com as lesões no joelho. Foram duas consecutivas e cerca de 20 meses afastado.

Após intensos períodos de tratamento, foi ao Mundial de 2002 sob desconfiança de parte da torcida e da imprensa. Mas novamente se superou, foi artilheiro do torneio (oito gols) e voltou a ser condecorado como melhor do mundo no fim do ano.

O próximo clube da carreira foi o Real Madrid, que o contratou por US$ 45 milhões (R$ 75 milhões). O Fenômeno integrou os galáticos, ao lado de estrelas como David Beckham (Inglaterra), Figo (Portugal) e Zidane (França). Entre 2002 e 2007, marcou 104 gols em 177 jogos na Espanha.

CRÍTICAS PESO PESADO

Na Copa de 2006, na Alemanha, fez mais três gols e se transformou no maior artilheiro de todos os tempos em Copas. Na competição, foi alvo de críticas severas: apresentou-se muito acima do peso e se envolveu em polêmicas pela participação em noitadas e festas no período de concentração do grupo, novamente comandado por Parreira, na Suíça.

Após a saída precoce do Brasil no Mundial (eliminado nas quartas de final pela França, por 1 a 0), Ronaldo transferiu-se para o Milan por US$ 9,5 milhões (R$ 16 milhões), quando marcou nove gols em 20 partidas. Uma nova lesão no joelho o afastou dos gramados mais uma vez.

Pouco depois, o jogador resolveu voltar de vez ao País de origem e começou viabilizar o fim da carreira em algum time do futebol brasileiro. Assinou com o Corinthians, fato que frustrou o Flamengo, clube do coração do atleta no qual chegou a treinar.

Depois do sucesso em 2009, com títulos da Copa do Brasil e Campeonato Paulista, viveu dificuldades com problemas físicos e duas eliminações na Libertadores. A última delas, no mês passado, gerou a série de protestos violentos de parte da torcida.



Recorde de 15 gols em Mundiais persiste



Falar de recordes e conquistas é redundante ao se referir a Ronaldo. Mas uma em especial ele mantém e deve garantir por muitos anos: o de maior artilheiros das Copas do Mundo, com 15 gols.

Sua trajetória em Mundiais começou em 1994, nos Estados Unidos, quando não chegou a ser utilizado pelo técnico Carlos Alberto Parreira, mas ganhou experiência na conquista do tetracampeonato. Quatro anos mais tarde, na França, começou a escrever história contra Marrocos, quando marcou um gol nos 3 a 0 sobre os africanos. Nas oitavas de final, diante do Chile, mais dois para a conta, e na semi, frente a Holanda, o quarto.

A baixa naquela Copa, porém, foi o até hoje nebuloso caso na convulsão que sofreu horas antes da final contra a França, que não o tirou da partida, mas o final... 3 a 0 para os anfitriões. Mesmo assim, foi escolhido o melhor jogador do torneio.

Na Coréia do Sul e no Japão, em 2002, a volta por cima. Após a primeira grave lesão no joelho dois anos antes, foi chamado por Luiz Felipe Scolari e desequilibrou: marcou oito gols e ajudou a Seleção a chegar ao penta.

Logo na estreia, balançou a rede da Turquia. Na sequência, mais um sobre a China, dois contra a Costa Rica, um diante da Bélgica e mais outro na semifinal frente a Turquia. Mas o melhor estava guardado: os dois e decisivos gols na final contra a Alemanha, que o fizeram igualar os 12 de Pelé.

Para fechar a conta, em 2006, na Alemanha, marcou três, dois na goleada sobre o Japão, e o terceiro contra Gana, que o consagrou como maior goleador de Mundiais, superando o alemão Gerd Müller, que tinha 14.



Craque é por três vezes eleito o melhor jogador do mundo



Além do nome garantido no Guinness - Livro dos Recordes - como o maior artilheiro na história das Copas (15 gols), Ronaldo foi eleito melhor jogador do mundo pela Fifa em 1996, 1997 e 2002.

Os títulos tiveram histórias distintas. No primeiro, o Fenômeno do Barcelona começava a despontar no panorama mundial com gols repletos de arrancadas e jogadas de efeito.

No ano seguinte, veio a primeira transferência para o futebol italiano. Na Inter de Milão, Ronaldo não teve problemas para se adaptar à truculência característica do futebol italiano e novamente atestou o nome como um dos mais habilidosos do mundo, fato que lhe rendeu a segunda premiação.

Em 2002, no Real Madrid, passou pela reabilitação de grave problema no joelho, brilhou no Mundial e literalmente calou a boca dos críticos. O poder de superação e a conquista do pentacampeonato lhe garantiram a trinca no prêmio da entidade.



Fenômeno em Santo André



Ele ainda era carequinha e pesava menos de 80 quilos quando visitou o Grande ABC no dia 1º de abril de 1998, antes da Copa do Mundo disputada na França. Na oportunidade, o Fenômeno, que ainda não tinha todos os títulos e troféus conquistados ao longo de sua vitoriosa carreira, marcou presença na final da Copa Pirelli, realizada na sede do Esporte Clube Santo André, no Jaçatuba, premiando os campeões do torneio. O então jogador da Inter de Milão chegou ao local de helicóptero, com toda a pompa que o então melhor jogador do mundo merecia.

Cerca de 150 meninos que participaram da competição patrocinada pela fábrica italiana de pneus - e patrocinadora da Inter de Milão -, estiveram presentes, posaram para foto e, claro, tietaram como nunca o ídolo Ronaldo. O projeto Rossoneri, chamado Inter Pirelli Campus, tinha parceria com o Ramalhão, além de outros clubes do Brasil como Náutico, Cruzeiro, União São João de Araras e São Bento, de Sorocaba.

"É um projeto lindo e do qual sinto muito orgulho de participar. Estou mesmo orgulhoso, pois ele ajuda as crianças sem benefício próprio", disse Ronaldo à época, que permaneceu por cerca de duas horas no Jaçatuba. Por todo o ambiente e em razão da presença do Fenômeno, aquele foi noticiado como um dos dias mais importantes da história (então de 30 anos) do Ramalhão.

Mas não apenas os garotos cercavam o atacante, como a imprensa de todo o Brasil, que buscava repercutir a derrota de dois dias antes para a Argentina, por 1 a 0. E o Fenômeno deu uma declaração que parecia já prever o que seria o fiasco brasileiro na Copa da França, meses depois. "Foi uma partida diferente, péssima para o Brasil, mas serviu de alerta para que a gente ponha os pés no chão e não tenha o clima de já ganhou", afirmou.

E se Ronaldo agradou e fez a alegria das centenas de crianças presentes ao Jaçatuba no longínquo 1998, há duas semanas desapontou milhares ao não vir ao Estádio 1º de Maio com o Corinthians para o jogo contra o São Bernardo, pelo Campeonato Paulista. Em razão do compromisso corintiano na Copa Libertadores, três dias depois, o Fenômeno/CF foi poupado pelo técnico Tite e não veio nem às cabines, onde estava o ex-presidente e amigo do agora ex-jogador, Luiz Inácio Lula da Silva.



Três casamentos, quatro filhos, festas, baladas e travestis



Se dentro de campo Ronaldo sempre se destacava pelas atuações e gols, fora das quatro linhas também mantinha vida agitada e cercada de polêmicas. Três casamentos, quatro filhos, as festas e baladas, e até caso envolvendo travestis.

O Fenômeno casou-se três vezes. A primeira com a Rainha das Embaixadas Milene Domingues, com quem teve o primogênito Ronald. Depois de alguns anos, eles se separaram e entrou em cena a modelo Daniella Cicarelli, com quem permaneceu casado por três meses. Por fim, Bia Anthony entrou na vida do atacante, o levou novamente ao altar e lhe deu duas filhas (Maria Sophia e Maria Alice). O quarto herdeiro de Ronaldo foi conhecido apenas recentemente, de uma noitada do craque no Japão, em 2004, em excursão com o Real Madrid: Alex.

Com paparazzi e tabloides em cima, eram frequentes fotos do Fenômeno fumando ou bebendo em festas e baladas. O fato mais marcante, porém, foi o envolvimento com três travestis no Rio, mesmo já casado, em 2008 (um deles, Andréia, era de Mauá e morreu em 2009, de meningite).

Fonte: www.dgabc.com.br
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir