Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 06-06-2011

O GUERREIRO MEMÓRIAS DE UM SOLDADO
Estou deitado no coração de uma mulher e, pelos seus ouvidos apurados em Insígnias poéticas, vou ditando palavras em regras assimiladas, postagens de uma missão
O GUERREIRO  MEMÓRIAS DE UM SOLDADO

Estou deitado no coração de uma mulher e, pelos seus ouvidos apurados em Insígnias poéticas, vou ditando palavras em regras assimiladas, postagens de uma missão; e pela sua boca transbordante em sons ictéricos, vou murmurando entre lágrimas e dor a minha velha história.

Éramos mais de 700 soldados convocados para uma missão de rigoroso treinamento de guerra na mata atlântica. Carregávamos nos corações o fardo pesado da saudade, deixada em marcas e cicatrizes por mãos calejadas dos fuzis empinados no corpo da mulher amada. O pesado fardo das mochilas com nossos artefatos, comidas, rifles, bombas não era tão pesado quanto à dor da saudade - esse sentimento estilhaçado pelo bombardeio dos nossos corações apaixonados.

Nossa missão seguiu até certo trecho do caminho em vários caminhões camuflados, depois dando continuidade ao comando ordenado, seguíamos a pé, embrenhados em cerrado bucólico, na missão de treinamentos ostensivos de guerra, em sentinelas e sentidos, obedientes, submissos aos ofícios determinados.

Era a nossa missão: ofícios e destinos.
Que são regras impostas, imposições e regimes altamente treinados, se o coração do soldado camuflado segue uma ética e moral que assimilam a sua conduta e disciplina pessoal?

Oh! Meu Deus!!! Era até bonito de se ver, mais de 700 soldados seguindo linha reta, cantando o hino da marinha-soldados da liberdade. Adentramos cada vez mais no cerrados bucólicos, e ali, longos noites nos foi companhia; perdíamos a noção do tempo, de frações de minutos... Mas que tirania a nossa pensarmos em tais detalhes fugazes, se a determinação seria alcançada; a missão cumprida; venceríamos o tempo, a fome, a solidão covarde e a saudade da mulher amada!

Que importariam os uivos assustadores, sons extravagantes, desconhecidos- típicos da mata- as longas noites de perseguições aos inimigos de uma guerra simulada, as emboscados frias e calculistas?

Foram dias intermináveis, onde o silêncio da mata atlântica era açoitado pelos tiros e bombas, fazendo retomar o coração selvagem do soldado apaixonado.
Que importariam os soldados picados e estraçalhados pelos bichos peçonhentos, olhos vermelhos vencidos pelo cansaço de longas noites em vigílias?

Que importância daria aos nossos corpos emagrecidos, desfalecidos, perseguidos pela fome e a missão determinada?
Na hora do picado, já também ficando escasso, e quantas vezes em nosso engodo bichos voadores nos faziam companhia invadindo a panela de barro encardido, exposta ao chão nu...
Mas para que lamentações indignadas, se nesse momento sofrido, mais parecia uma exuberância destemida dos soldados camuflados?

E eu a reclamar de coisas tão insignificantes... Se todos esses momentos transformariam em um cenário ao longo dos anos, a ser contado pelos soldados nas mais diversas formas!

Foram mais de cem dias embrenhados pela mata atlântica...
E então, para que falar da malvada solidão, se a mulher amada me espera no para-peito da janela rústica, onde em pose de rainha aguarda o seu soldado guerreiro, vindo de uma missão cumprida?

O soldado retorna. Feito um bicho feroz, portão adentra, buscando sentir no Faro os cheiros domésticos tão peculiares, mas, o que encontrou foi um mórbido silêncio fúnebre.
O cão com os olhos tristonhos não fazia algazarras; o viveiro repleto de canários estava silencioso; a janela majestosa estava fechada e a rainha de olhos brilhantes e festivos não repete a mesma cena, pois havia um vazio em toda a casa.

O soldado está estático... Receoso... Alarmado! O coração selvagem dispara os batimentos, alterando-lhe a cor e o pulsar das veias aceleram pelo frenesi corpo estremecido...
O cão tristonho já sabia de sua trágica história; os canários também cúmplices da tristeza - emudeceram; e a casa aquietava... Em cada cômodo, a dor e solidão seriam plágios e réplicas de uma saudade interminável, onde o destino em imensuráveis atropelos esconde do homem a sua própria covardia!

O soldado, ao voltar, recebeu a trágica notícia do precoce falecimento de sua amada companheira, levando consigo no abdômen pulsante, um feto em composição de uma vida! E perdeu-se nessas duas vidas, a sua própria vida!
O soldado fora condecorado nessa missão, e em tantas outras também, sendo sempre o melhor dos melhores.

As medalhas e os troféus estão empoeirados em um canto qualquer da casa e representam a história de um guerreiro que até hoje se mantém de pé e lutando.
Às vezes quando estendido ao longo de sua solidão, duas lágrimas grandes tiradas da alma vem lavar seu rosto trêmulo, cheio de rugas - conseqüências do tempo...
E, nesse momento perverso, sofrido, ele murmura por entre as duas lágrimas:
O soldado perde a sua própria vida, mas não perde uma batalha!

Texto contido na obra.


POSFÁCIO

Ao concluirmos a leitura desta obra, somos envolvidos pelas missões dos heróicos Fuzileiros Navais. Aqui, busca-se fazer uma reflexão sobre a ousada participação dos Fuzileiros Navais na construção de uma sociedade com qualidade de vida, com integridade das ações comprometidas e responsáveis.

O livro fala – e com amor- de Marataízes, exuberante cidade situada ao sul do Espírito Santo. Temos plena consciência que seu conteúdo é resultado de pesquisa da autora e reflete a atitude, a linguagem e os hábitos predominantes desses heróis- os Fuzileiros Navais- na cidade de Marataízes, além de mesclar os sonhos da poetiza, onde o real e fictício unem-se.

No decorrer, encontramos os poemas onde a escritora apresenta a grande fera humana que é o Fuzileiro Naval, neste querer alcançar, nesta voracidade que por razões místicas, psicológicas são processadas na mente humana por palavras e desejos ardentes. Neles também, realiza-se a essência física da poesia bela e valiosa, projetando as suas imperfeições, com todas as paixões, desejos e o ato heróico da missão, questões que preocupam o ser humano- no caso o Fuzileiro in lo tempore.

A poetiza emprega de tal forma as palavras evocativas, que nos apresenta a magia de produzir imagens em nossa mente, numa proporção de ambivalência entre a magia da proximidade do real e o encantamento da distância, do sonho, chegando até as pretensões humanas, memórias eróticas da alma.

O universo da mente pode-se permitir todas as fantasias.
A poetiza assim o faz, pois, nos poemas, as palavras vão e vêm como as ondas do mar de nossa Marataízes, onde os Fuzileiros Navais, seres predestinados a cumprirem suas missões sempre com êxitos, também possuem o direito ao sonho, no campo ficcional.

Bárbara Pérez, escritora, poetiza- de real valor- que labora com amor pela divulgação do trabalho desempenhado pelos Fuzileiros Navais em favor de nossa Marataízes, do Espírito Santo e do Brasil.

Sua obra:
FUZILEIROS NAVAIS - SUAS MISSÕES E AMORES EM MARATAÍZES é livro para se ler e divulgar, pois conforme escreveu Raquel de Queiroz: "Quando se houverem acabado os soldados do mundo- quando reinar a paz absoluta- que fiquem pelo menos os Fuzileiros, como exemplo de tudo de belo e fascinante que eles foram."

Maria Dolores Pimentel de Rezende.
Professora em língua portuguesa e literatura, escritora, cronista, artista plástica, membro fundadora da Academia Calçadense de Letras e membro fundadora da Academia das Artes, Cultura e Letras de Marataízes-es.





    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Bárbara Pérez    |      Imprimir