Estou deitado no coração de uma mulher e, pelos seus ouvidos apurados em Insígnias poéticas, vou ditando palavras em regras assimiladas, postagens de uma missão
Estou deitado no coração de uma mulher e, pelos seus ouvidos apurados em Insígnias poéticas, vou ditando palavras em regras assimiladas, postagens de uma missão; e pela sua boca transbordante em sons ictéricos, vou murmurando entre lágrimas e dor a minha velha história.
Éramos mais de 700 soldados convocados para uma missão de rigoroso treinamento de guerra na mata atlântica. Carregávamos nos corações o fardo pesado da saudade, deixada em marcas e cicatrizes por mãos calejadas dos fuzis empinados no corpo da mulher amada. O pesado fardo das mochilas com nossos artefatos, comidas, rifles, bombas não era tão pesado quanto à dor da saudade - esse sentimento estilhaçado pelo bombardeio dos nossos corações apaixonados.
Nossa missão seguiu até certo trecho do caminho em vários caminhões camuflados, depois dando continuidade ao comando ordenado, seguíamos a pé, embrenhados em cerrado bucólico, na missão de treinamentos ostensivos de guerra, em sentinelas e sentidos, obedientes, submissos aos ofícios determinados.
Era a nossa missão: ofícios e destinos.
Que são regras impostas, imposições e regimes altamente treinados, se o coração do soldado camuflado segue uma ética e moral que assimilam a sua conduta e disciplina pessoal?
Oh! Meu Deus!!! Era até bonito de se ver, mais de 700 soldados seguindo linha reta, cantando o hino da marinha-soldados da liberdade. Adentramos cada vez mais no cerrados bucólicos, e ali, longos noites nos foi companhia; perdíamos a noção do tempo, de frações de minutos... Mas que tirania a nossa pensarmos em tais detalhes fugazes, se a determinação seria alcançada; a missão cumprida; venceríamos o tempo, a fome, a solidão covarde e a saudade da mulher amada!
Que importariam os uivos assustadores, sons extravagantes, desconhecidos- típicos da mata- as longas noites de perseguições aos inimigos de uma guerra simulada, as emboscados frias e calculistas?
Foram dias intermináveis, onde o silêncio da mata atlântica era açoitado pelos tiros e bombas, fazendo retomar o coração selvagem do soldado apaixonado.
Que importariam os soldados picados e estraçalhados pelos bichos peçonhentos, olhos vermelhos vencidos pelo cansaço de longas noites em vigílias?
Que importância daria aos nossos corpos emagrecidos, desfalecidos, perseguidos pela fome e a missão determinada?
Na hora do picado, já também ficando escasso, e quantas vezes em nosso engodo bichos voadores nos faziam companhia invadindo a panela de barro encardido, exposta ao chão nu...
Mas para que lamentações indignadas, se nesse momento sofrido, mais parecia uma exuberância destemida dos soldados camuflados?
E eu a reclamar de coisas tão insignificantes... Se todos esses momentos transformariam em um cenário ao longo dos anos, a ser contado pelos soldados nas mais diversas formas!
Foram mais de cem dias embrenhados pela mata atlântica...
E então, para que falar da malvada solidão, se a mulher amada me espera no para-peito da janela rústica, onde em pose de rainha aguarda o seu soldado guerreiro, vindo de uma missão cumprida?
O soldado retorna. Feito um bicho feroz, portão adentra, buscando sentir no Faro os cheiros domésticos tão peculiares, mas, o que encontrou foi um mórbido silêncio fúnebre.
O cão com os olhos tristonhos não fazia algazarras; o viveiro repleto de canários estava silencioso; a janela majestosa estava fechada e a rainha de olhos brilhantes e festivos não repete a mesma cena, pois havia um vazio em toda a casa.
O soldado está estático... Receoso... Alarmado! O coração selvagem dispara os batimentos, alterando-lhe a cor e o pulsar das veias aceleram pelo frenesi corpo estremecido...
O cão tristonho já sabia de sua trágica história; os canários também cúmplices da tristeza - emudeceram; e a casa aquietava... Em cada cômodo, a dor e solidão seriam plágios e réplicas de uma saudade interminável, onde o destino em imensuráveis atropelos esconde do homem a sua própria covardia!
O soldado, ao voltar, recebeu a trágica notícia do precoce falecimento de sua amada companheira, levando consigo no abdômen pulsante, um feto em composição de uma vida! E perdeu-se nessas duas vidas, a sua própria vida!
O soldado fora condecorado nessa missão, e em tantas outras também, sendo sempre o melhor dos melhores.
As medalhas e os troféus estão empoeirados em um canto qualquer da casa e representam a história de um guerreiro que até hoje se mantém de pé e lutando.
Às vezes quando estendido ao longo de sua solidão, duas lágrimas grandes tiradas da alma vem lavar seu rosto trêmulo, cheio de rugas - conseqüências do tempo...
E, nesse momento perverso, sofrido, ele murmura por entre as duas lágrimas:
O soldado perde a sua própria vida, mas não perde uma batalha!
Texto contido na obra.
POSFÁCIO
Ao concluirmos a leitura desta obra, somos envolvidos pelas missões dos heróicos Fuzileiros Navais. Aqui, busca-se fazer uma reflexão sobre a ousada participação dos Fuzileiros Navais na construção de uma sociedade com qualidade de vida, com integridade das ações comprometidas e responsáveis.
O livro fala – e com amor- de Marataízes, exuberante cidade situada ao sul do Espírito Santo. Temos plena consciência que seu conteúdo é resultado de pesquisa da autora e reflete a atitude, a linguagem e os hábitos predominantes desses heróis- os Fuzileiros Navais- na cidade de Marataízes, além de mesclar os sonhos da poetiza, onde o real e fictício unem-se.
No decorrer, encontramos os poemas onde a escritora apresenta a grande fera humana que é o Fuzileiro Naval, neste querer alcançar, nesta voracidade que por razões místicas, psicológicas são processadas na mente humana por palavras e desejos ardentes. Neles também, realiza-se a essência física da poesia bela e valiosa, projetando as suas imperfeições, com todas as paixões, desejos e o ato heróico da missão, questões que preocupam o ser humano- no caso o Fuzileiro in lo tempore.
A poetiza emprega de tal forma as palavras evocativas, que nos apresenta a magia de produzir imagens em nossa mente, numa proporção de ambivalência entre a magia da proximidade do real e o encantamento da distância, do sonho, chegando até as pretensões humanas, memórias eróticas da alma.
O universo da mente pode-se permitir todas as fantasias.
A poetiza assim o faz, pois, nos poemas, as palavras vão e vêm como as ondas do mar de nossa Marataízes, onde os Fuzileiros Navais, seres predestinados a cumprirem suas missões sempre com êxitos, também possuem o direito ao sonho, no campo ficcional.
Bárbara Pérez, escritora, poetiza- de real valor- que labora com amor pela divulgação do trabalho desempenhado pelos Fuzileiros Navais em favor de nossa Marataízes, do Espírito Santo e do Brasil.
Sua obra:
FUZILEIROS NAVAIS - SUAS MISSÕES E AMORES EM MARATAÍZES é livro para se ler e divulgar, pois conforme escreveu Raquel de Queiroz: "Quando se houverem acabado os soldados do mundo- quando reinar a paz absoluta- que fiquem pelo menos os Fuzileiros, como exemplo de tudo de belo e fascinante que eles foram."
Maria Dolores Pimentel de Rezende.
Professora em língua portuguesa e literatura, escritora, cronista, artista plástica, membro fundadora da Academia Calçadense de Letras e membro fundadora da Academia das Artes, Cultura e Letras de Marataízes-es.
Fonte: Redação Maratimba.com
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