Categoria Policia  Noticia Atualizada em 20-07-2011

Sérvia prende Goran Hadzic, o último foragido acusado de crimes de guerra
O poster de "procura-se" de Goran Hadzic no site do Tribunal Internacional para a ex-Iugoslávia.
Sérvia prende Goran Hadzic, o último foragido acusado de crimes de guerra
Foto:AFP, Ho

BELGRADO — Goran Hadzic, ex-líder dos sérvios da Croácia durante a guerra de 1991-1995, foi detido nesta quarta-feira na Sérvia e será transferido para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) de Haia, segundo o presidente sérvio e o advogado de Hadzic.

Goran Hadzic foi detido na região de Fruska Gora, 100 km a noroeste de Belgrado, anunciou o presidente sérvio, Boris Tadic.

"Desta maneira, a Sérvia encerra o capítulo mais difícil na cooperação com o Tribunal de Haia", acrescentou o presidente Tadic.

Já o advogado de Hadzic, Toma Fila, afirmou que "o interrogatório terminou. Foi entregue a ele a ata de acusação (no tribunal especial sérvio para os crimes de guerra), assim como a decisão que indica que se cumpram as condições para seu envio a Haia", indicou.

O advogado afirmou ainda que não apelará da decisão.

Uma fonte que assistiu à declaração de Goran Hadzic lembrou que ele dispõe legalmente de três dias para apresentar um recurso.

"Provavelmente não será extraditado antes deste prazo ser concluído. Será extraditado se não apelar", acrescentou a fonte.

"Foi permitido a ele receber visitas de sua família amanhã e depois de amanhã (quinta e sexta-feira). Depois, no que se refere a mim e a ele, pode partir para Haia", indicou seu advogado.

Segundo a rede de televisão RTS, Hadzic, de 52 anos, foi preso no monastério ortodoxo de Krusedol, famoso por seus murais.

Mas a agência Beta sustenta que a detenção ocorreu no povoado de Krusedol, próximo ao monastério.

Sua prisão constitui um "acontecimento memorável" e "aproxima" o TPIY "da conclusão de seu mandato", assegurou o presidente interino do tribunal, o juiz O-Gon Kwon.

O TPII acusa Goran Hadzic, foragido desde 2004, de 14 crimes, entre eles crimes contra a humanidade.

A justiça internacional o acusa por seu suposto envolvimento nos assassinatos de centenas de civis croatas e pela deportação de milhares de croatas e de outros não sérvios durante a guerra da Croácia (1991-1995).

Goran Hadzic foi, durante a guerra, o efêmero "presidente" da "República Sérvia de Krajina", que representava aproximadamente um terço do território da Croácia.

A guerra da Croácia durou até 1995 e a "República Sérvia de Krajina" foi dissolvida.

Nascido no dia 7 de setembro de 1958 em Vinkovci (Croácia), Hadzic saiu do anonimato com esta guerra, na qual sempre se manteve fiel ao ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic.

O nome de Goran Hadzic aparece na matança do hospital de Vukovar, em novembro de 1991, na qual as forças sérvias executaram, após torturar, 264 civis croatas e outras pessoas não sérvias que teriam se refugiado no local.

A prisão de Hadzic chega dois meses após a de Ratko Mladic, o ex-chefe militar dos sérvio-bósnios preso no dia 26 de maio em Lazarevo, uma cidade situada 80 km a nordeste de Belgrado. Mladic é acusado de genocídio na guerra da Bósnia (1992-1995).

Embora Hadzic seja uma personalidade de segundo plano em comparação com Mladic ou inclusive com o ex-chefe político dos sérvio-bósnios Radovan Karadzic, detido em 2008, sua prisão é a última reivindicada pelo Tribunal de Haia.

Agora a Sérvia pode afirmar ter prendido os 44 acusados exigidos pelo TPIY e não hesitará em ressaltar o fato para promover suas aspirações europeias.

Goran Hadzic também encerra a lista dos 161 acusados que o TPIY buscava por seu papel durante as guerras que desmembraram a ex-Iugoslávia durante os anos 1990, como confirmou nesta quarta-feira o procurador do TPIY Serge Brammertz.

Belgrado espera obter o estatuto de candidato à UE antes do fim do ano, assim como uma data para a abertura de negociações de adesão.

Embora os 27 membros do bloco europeu peçam a Belgrado avanços no diálogo com o Kosovo e a adoção de várias leis, como a de restituição de bens confiscados após a Segunda Guerra Mundial pelo regime de Tito, a Sérvia tem motivos para ser otimista.

De fato, a União Europeia qualificou a prisão de Hadzic de "passo importante" de Belgrado em direção à adesão ao bloco.

A Otan também reagiu. Seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen, estimou "muito bem-vinda" a prisão de Hadzic, porque permitirá "encerrar o capítulo mais doloroso" da história recente da Europa.

Sérvia prende Goran Hadzic, o último foragido acusado de crimes de guerra

O poster de "procura-se" de Goran Hadzic no site do Tribunal Internacional para a ex-Iugoslávia.


Fonte: AFP
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir