Categoria Politica  Noticia Atualizada em 09-08-2011

Agência que rebaixou nota dos EUA fez avaliação "precipitada", diz Dilma
Presidenta Dilma Rousseff recebeu nesta segunda-feira (8) o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper
Agência que rebaixou nota dos EUA fez avaliação
Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência

Sandro Lima

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (8), durante declaração conjunta com o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, no Palácio do Planalto, que é "precipitada" a avaliação do rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos na última sexta-feira (5) pela agência Standard & Poor s.

"Quero deixar claro que não compartilhamos com a avaliação precipitada e um tanto quanto rápida e, eu diria, sim, não correta, da agência que diminuiu o grau de valorização de crédito dos Estados Unidos, a Standard and Poor s", disse a presidente.

A agência de avaliação de risco S&P reduziu na sexta-feira a nota da dívida pública dos Estados Unidos, algo inédito na história. A qualificação do crédito americano de longo prazo passou da nota máxima "AAA" para "AA+", diante da crescente dívida e do pesado déficit no orçamento. O Brasil é um dos países que mais detêm títulos da dívida dos Estados Unidos, com quase US$ 200 bilhões em papeis.

Os mercados mundiais operam em baixa nesta segunda-feira, no primeiro dia de negociações após o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos, até então considerado o melhor pagador do mundo entre os muitos países que emitem papéis para vender e pegar dinheiro emprestado no mercado financeiro.

Dilma reafirmou que hoje o Brasil está mais forte para enfrentar a crise econômica mundial. "Expressei ao primeiro-ministro Harper uma análise sobre a situação do Brasil. Hoje, nós estamos muito mais fortes para enfrentar a crise do que no final de 2008 e no início de 2009. Temos quase 60% a mais de reservas. Hoje, chegamos a quase US$ 350 bilhões. Temos muito mais recursos depositados no Banco Central a título de compulsório. Hoje, um pouco mais que o dobro, US$ 420 bilhões de reservas é o que possuímos no Banco Central".

Apesar de afirmar que o Brasil está mais preparado para enfrentar crises, Dilma disse que o país não está imune aos eventuais desdobramentos da atual crise.

"Mas temos clareza que não somos imunes, não vivemos numa ilha, mas sabemos que o Brasil tem força suficiente, e quero crer que o Canadá também, para fazer face a essa conjuntura", declarou.

Após a declaração conjunta, a presidente Dilma voltou a falar sobre o assunto e disse que a Standard & Poor s "errou". "Todas as avaliações, inclusive da Fazenda, apontam que ela [Standard & Poor s] errou porque fez um cálculo com um erro de US$ 2 trilhões. Isso já é conhecido. E acredito que não se pode, em um momento desses, ficar tomando atitudes dessas, que não tem base real."

Dilma disse ainda acreditar que os Estados Unidos voltem a investir. "Nós, sem nenhum alvoroço, tomaremos todas as medidas necessárias para que o Brasil continue sua trajetória de crescimento, de distribuição de renda, fortalecimento de seus serviços, da sua indústria, do seu setor de produtos alimentícios", afirmou.

Ela disse que é a segunda vez que uma crise afeta o mundo e o Brasil não "treme". "Eu tenho certeza que nós hoje estamos, somos um país que teve conquistas muito grandes nos últimos anos e temos que reconhecer que demos passos muito grandes na direção de uma estabilidade. É a segunda vez que uma crise afeta o mundo e é a segunda vez que o Brasil não treme. Vocês lembram bem como era no passado."

Sobre eventuais novas medidas para conter os efeitos da crise, a presidente disse que não devem ocorrer nesta semana. "Eu não vou dizer sim ou não, mas não estou vendo nessa semana nenhuma medida. O Brasil será muito criterioso e sóbrio em seu posicionamento. Cautela e observação são fundamentais, não há necessidade de precipitação".

Itamaraty
Após a cerimônia no Palácio do Planalto, Dilma ofereceu almoço em homenagem ao primeiro-ministro do Canadá no Palácio do Itamaraty. Em discurso, a presidente afirmou repudiar "todas as soluções recessivas para a crise mundial". "Repudiamos todas as soluções recessivas para a crise mundial. Elas acirram o custo social dos ajustes, transferindo-os para os segmentos menos protegidos, com destruição do emprego e do bem estar. No Brasil e na América do Sul, trilhamos um outro caminho. Buscamos o desenvolvimento sustentado, fiscalmente equilibrado e robusto, democrático e justo."

Na Europa, Grécia, Irlanda e Portugal receberam recentemente pacotes de ajuda que têm como contrapartida o compromisso com o corte de gastos. O Senado dos Estados Unidos aprovou no dia 2 de agosto acordo que eleva o teto da dívida norte-americana. O acordo prevê corte de gastos de US$ 1 trilhão nos próximos dez anos.

Dilma afirmou ainda "que devemos trabalhar em prol de um entendimento comum" diante do impacto da crise econômica e financeira e de "seus efeitos cada vez mais graves". "Precisamos incorporar a voz e os pontos de vista de um número maior de países emergentes e países desenvolvidos no enfrentamento global. Temos que nos coordenar multilateralmente contra as depreciações cambiais competitivas que anulam os esforços empreendidos pelos países em desenvolvimento", afirmou.

"Os países que se protegeram dos efeitos da crise com políticas econômicas prudentes, no caso brasileiro, socialmente inclusivas, que levaram ao desenvolvimento acelerado não podem ser escoadouros para os bens e serviços que deixam de ser consumidos nas potências econômicas em crise", concluiu a presidente.

Coordenação política
Dilma discutirá a crise econômica mundial durante reunião de coordenação política do governo na tarde desta segunda-feira (8). Segundo relato da ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, Dilma está "atenta" e acompanhando com preocupação a crise econômica.

Durante a reunião de coordenação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fará uma análise da crise econômica mundial. Mantega vem informando constantemente a presidente sobre os desdobramentos da crise. Na última sexta-feira, na Bahia, Dilma afirmou que o Brasil está mais preparado do que em 2008 para enfrentar crises econômicas.

Dificuldades
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmou na manhã desta segunda, na abertura do seminário Políticas Públicas para a Nova Classe Média, promovido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, que "a situação da economia internacional é "séria". Segundo ela, a dificuldade de recuperação das economias europeias e da própria economia norte-americana é considerável".

""No Brasil, temos que agir com cuidado e responsabilidade, como estamos agindo, para impedir que essa realidade interfira no nosso crescimento e estabilidade. A última coisa que queremos, a última coisa que podemos permitir, é colocar em risco o projeto de desenvolvimento do nosso país. Os tempos são duros e precisamos estar preparados para proteger o Brasil desta grave crise"", afirmou a ministra.

Agência que rebaixou nota dos EUA fez avaliação "precipitada", diz Dilma
‘"Não somos imunes, não vivemos numa ilha’", afirmou presidente.
A presidente também afirmou repudiar "as soluções recessivas para a crise".

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir