Categoria Geral  Noticia Atualizada em 11-08-2011

Farmacêutico compra carro, perde emprego e tem de repassá-lo
Ex-patrão ficou com o veículo e assumiu o financiamento. Série do G1 dá dicas sobre compra e venda de carro.
Farmacêutico compra carro, perde emprego e tem de repassá-lo
Foto: g1

Recém-formado, o farmacêutico Marcelo dos Santos, de Cristalina (GO), realizou em dezembro de 2009 o sonho do primeiro carro zero. Atraído pela concessionária que não exigia a entrada, ele saiu da loja com um Chevrolet Celta Life financiado em 60 meses. Na época, tinha dois empregos. Após pagar 12 parcelas, no entanto, perdeu um deles e viu que não daria conta de arcar com a dívida.

(Série Compra e venda de carros: o G1 publica nesta semana reportagens com exemplos de pessoas que tiveram problemas com esse tipo de negociação e dicas para evitar ou solucionar essas questões.)

Quando adquiriu o veículo, aos 23 anos, Marcelo tinha renda mensal de R$ 2.200. "Foi muito fácil conseguir o financiamento na loja, eles solicitaram apenas documentos pessoais e comprovação de renda", recorda. O valor à vista do carro era R$ 25 mil. O farmacêutico aceitou pagar o veículo em parcelas fixas de R$ 702, incluindo juros de 1,82% ao mês.

Ao final de cinco anos, ele teria pago o montante de R$ 42.120. Porém, após ter arcado com R$ 8.424 do financiamento, Marcelo teve a renda reduzida à metade com a perda de um dos empregos. Depois de dois meses tentando se equilibrar nas contas, pois tinha a vantagem de morar com os pais, decidiu vender o carro. "Fui cortando gastos aos poucos. Primeiro, deixei de sair e, depois, de viajar. Só que eu percebi que, desta forma, o pouco dinheiro que restava para mim dava apenas para quitar a parcela do carro e para abastecê-lo", relembra.

Ex-patrão assumiu a dívida
Marcelo diz que começou a pesquisar e foi informado que, em situações como a dele, na maioria das vezes a pessoa endividada passa o carro adiante sem receber qualquer quantia pelas parcelas já pagas. Mas ele conseguiu fechar negócio com um antigo empregador. "Eu já sabia que ele estava querendo comprar um carro, então, procurei mostrar que assumir o meu financiamento poderia, apesar de tudo, ser uma boa opção", comenta.

O ex-patrão ficou com o automóvel, assumiu a dívida e pagou R$ 7 mil a Marcelo, sendo que R$ 4 mil foram trocados por uma Honda Biz 2008 e R$ 3.500 foram dados em espécie. Com isso, perdeu R$ 924 sobre o que já tinha pago no financiamento. "Sei que tive prejuízo, mas não tinha outro jeito. Fiquei um pouco triste e um pouco aliviado por me livrar da dívida", diz o farmacêutico.
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O financiamento, no entanto, continua em nome de Marcelo. "Fiz um contrato com validade de seis meses no qual o meu ex-patrão assumiu o compromisso de pagar o financiamento. Agora ele deve ir ao banco e transferir a dívida para o seu nome", conta o ex-dono do Celta, que, mensalmente, visita o novo proprietário do carro "para checar se tudo está correndo bem".

Apesar da experiência, Marcelo pensa em comprar um novo veículo financiado, futuramente. "Não me adaptei à moto que recebi como parte do pagamento e acabei vendendo-a também", diz. "Quando for comprar o meu próximo carro vou dar uma entrada para ver se consigo uma taxa de juros mais baixa."

O que dizem os especialistas
Para o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Décio Carbonari de Almeida, o farmacêutico tomou decisóes erradas desde o início. Primeiro, porque comprometeu pouco mais de 30% de sua renda mensal com as parcelas. "O comprometimento deve ser entre 20% e 30%, não passe disso", aconselha Almeida.

O segundo erro, segundo ele, foi não contar com imprevistos. Ao optar pelo financiamento, Marcelo poderia ter consultado um seguro prestamista. Ele garante o pagamento de até quatro parcelas em caso de desemprego. Além disso, se quem financiou o bem morre, o seguro garante a liquidação do contrato. Assim, a família não arca com a dívida, explica o presidente da Anef. "É um serviço bem barato. Normalmente, quem compra é motorista autônomo quando financia um caminhão. Mas qualquer um pode contratar."

O consultor financeiro Alexandre Lignos, no entanto, defende sempre a compra à vista. "Se você não sente seguro no emprego, nem tem dinheiro para dar uma boa entrada, não vale a pena esse tipo de seguro", explica. Segundo o consultor, a melhor saída é se planejar bem e ler com atenção o contrato inteiro, pois ele especifica todos os custos do financiamento ou consórcio adotado.

Gastos extras
Lignos lembra ainda que, além das parcelas, quem compra um carro novo ou usado tem de arcar com gastos extras, como combustível, documentação, licenciamento, IPVA, DPVAT, revisões, etc. "Tudo isso deve entrar na conta", recomenda.

O presidente da Anef sugere tentar encaixar nas parcelas alguns desses gastos extras. "Você pode incluir custos de licenciamento, despachante, acessórios, seguro. Isso facilita porque você vai saber exatamente o que vai pagar mês a mês", diz Almeida. Aliás, se a parcela mais todos esses gastos não comprometerem mais de um quarto da renda mensal, comprar o carro sem ter de dar uma quantia de entrada é mais fácil, na opinião do especialista. Dessa forma, os gastos adicionais podem até ser quitados de uma vez só.

Transferência
O consultor Alexandre Lignos diz que Marcelo errou também ao não transferir o financiamento na hora para o ex-patrão. "Você não pode virar refém da dívida e aceitar qualquer negócio, mesmo que seja de um amigo. Se a pessoa é de confiança, qual o problema de ela transferir o financiamento para o nome dela? Não entre nisso", alerta.

No caso da transferência da dívida, o banco que forneceu o crédito exigirá uma série de comprovantes da pessoa que assumirá o compromisso. "O banco pode aceitar ou não", observa o presidente da Anef.

Caso a pessoa não ache um comprador, a dica dos especialistas é renegociar a dívida. "O banco não quer o carro de volta, então é possível renegociar isso com o aumento do prazo ou da taxa de juros", diz o consultor financeiro.

"Refém" da dívida
O último erro do farmacêutico foi aceitar no negócio uma moto. Para Lignos, se recebesse os R$ 7 mil em espécie, poderia aplicar o dinheiro até conseguir juntar o suficiente para comprar um carro à vista, mesmo se fosse um modelo usado. "O seu bolso é o que você pode pagar à vista. A gente está em um mercado extremamente consumista e ter um carro é muito importante. Por isso, avalie suas necessidades. Carro não é o primeiro objetivo nas finanças", aconselha.

E, se o vendedor mostrar carros e financiamentos tentadores, o consultor financeiro sugere: volte para casa e tome um banho de água fria. "A compra do carro tem de ser algo racional, não deixe a emoção dominar você."

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Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir