Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 04-10-2011

Ganhadores do Nobel de medicina já estiveram em congressos n
Os ganhadores do Nobel de Medicina 2011: o americano Bruce Beutler, o francês Jules Hoffmann e o canadense Ralph Steinman
Ganhadores do Nobel de medicina já estiveram em congressos n
Foto: Divulgação/Nobel

Mário Barra

A Fundação Nobel começou sua série de premiações em 2011 reconhecendo a área da medicina que estuda como o organismo se defende de ameaças externas como vírus e bactérias: a imunologia. Nesta segunda-feira (3), a entidade premiou três cientistas que dedicaram suas vidas à tensa relação entre os micro-organismos invasores e as "tropas de defesa" do nosso corpo: o norte-americano Bruce Beutler, o francês Jules Hoffmann e o canadense Ralph Steinman. Os três já estiveram no Brasil e participaram de congressos justamente para explicar as pesquisas que os consagraram.

Hoffmann e Beutler foram escolhidos por terem explicado como certas substâncias que as bactérias possuem são detectadas logo no início da infecção. Este mecanismo é conhecido como "defesa inata" e começa logo após a entrada das ameaças no organismo.

Os dois estiveram em Salvador em 2006 para falar sobre suas pesquisas em um congresso sobre imunologia organizado pela Universidade de Massachusetts. No ano seguinte, Hoffmann voltou ao país, desta vez ao Rio de Janeiro, para o Congresso Internacional de Imunologia.

O terceiro laureado, o canadense Ralph Steinman, foi lembrado pela descoberta das células dendríticas, as responsáveis por ensinar a defesa do organismo a reconhecer as ameaças externas. Elas formam a segunda linha de defesa do corpo, que atua depois da defesa inata.

Ele esteve na cidade de Águas de Lindoia em 1997, na reunião da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), para falar exatamente sobre o papel das células dendríticas. Dez anos depois, já abalado pelo câncer, ele enviou um vídeo com uma palestra para o mesmo congresso em que Hoffmann compareceu, no Rio de Janeiro.

O pesquisador morreu na última sexta-feira (30), aos 68 anos, vítima do tumor no pâncreas.

Repercussão
Especialistas consultados pelo G1 explicaram a importância dos estudos lembrados pelo Nobel.

Para o diretor da Sociedade Brasileira de Imunologia, João Santana da Silva, da Universidade de São Paulo, a premiação é "extremamente merecida".

"Os três abriram uma nova janela de pesquisa. Depois deles, toda uma série de cientistas começou a estudar esse tema e os avanços obtidos são inúmeros. Toda a imunologia moderna se baseia nas pesquisas deles", diz ele.

Caio Rosenthal, infectologista do Instituto Emílio Ribas, lembra o impacto da pesquisa de Steinman na luta contra a Aids. "As células dendríticas são muito estudadas por médicos que trabalham com o HIV", afirma.

"Os prêmios desse ano foram voltados para pessoas que ajudaram a entender mais sobre atua o nosso corpo e permitiu, sem dúvida, uma série de opções de estudo para novas terapias", acredita Rosenthal.

Para Edécio Cunha Neto, professor de medicina da USP e imunologista do Instituto do Coração (Incor), no caso de Steinman, o Nobel demorou. "Ele descobriu as células dendríticas na década de 1970. A importância da descoberta já era conhecida dez anos depois."

"A célula dendrítica "engole" o micróbio e o apresenta para os linfócitos", explica o imunologista. O objetivo do linfócito a partir de então será identificar outras bactérias e tomar providências para destrui-las. Outra ação do linfócito é criar uma "memória", para que o corpo não se esqueça mais de como o invasor é. "Os linfócitos trazem dois tipos de memória: a celular e a dos anticorpos", diz o médico da USP.

Perguntas antigas
Segundo Cunha Neto, os estudos sobre as duas defesas do corpo começaram com outra dupla de laureados: Elié Metchnikoff e Paul Ehrlich. "Eles foram os pioneiros no estudos tanto sobre defesa inata como defesa adaptativa", afirma o especialista.

Os dois cientistas foram premiados em 1908. Durante o discurso de anúncio do prêmio para Metchnikoff e Ehrlich, o apresentador levantou uma pergunta, provocada pela pesquisa da dupla: por qual motivo anticorpos são construídos para apenas algumas substâncias presentes no invasor e não para todo tipo de substância e ameaça?

Parte da resposta da própria Fundação Nobel viria mais um século depois. A pesquisa de Steinman mostrou como as células dendríticas são fundamentais para o trabalho dos linfócitos, uma das principais células que comandam a defesa do corpo. Somente após reconhecer as ameaças é que os linfócitos trabalham para combatê-las de duas maneiras: atacando ou produzindo anticorpos.

Ganhadores do Nobel de medicina já estiveram em congressos no Brasil
Bruce Beutler, Jules Hoffmann e Ralph Steinman foram os vencedores.
Especialistas comentam a importância dos trabalhos escolhidos.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir