Categoria Geral  Noticia Atualizada em 20-10-2011

Conheça a trajetória de Muammar Kadhafi, ex-ditador da Líbia
Excentricidade e sarcasmo marcaram os 42 anos do seu governo. Kadhafi ignorou apelo de rendição da comunidade internacional e rebeldes.
Conheça a trajetória de Muammar Kadhafi, ex-ditador da Líbia
Foto: www.g1.com

O coronel e ex-ditador da Líbia Muammar Kadhafi, morto nesta quinta-feira (20) após um ataque feito por forças rebeldes, segundo informações divulgadas pelo Conselho Nacional de Transição, que lidera o novo governo do país, foi fiel à sua reputação de indivíduo combativo e desafiador. Ele ignorou até o fim os chamados da comunidade internacional e dos rebeldes para se render ao movimento contra ele iniciado no país em fevereiro deste ano.

Após governar a Líbia com mão de ferro por 42 anos, Kadhafi terminou deposto em meio à chamada "Primavera Árabe", seguindo os passos dos ditadores tunisiano, Zine al Abidine Ben Ali, que caiu em janeiro, e egípcio, Hosni Mubarak, que deixou o poder em fevereiro.

Perseguido pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade cometidos em seu país desde o início da rebelião, no dia 15 de fevereiro, o coronel havia chamado os rebeldes líbios de "ratos" durante todo o conflito.

Chegada ao poder

Kadhafi, o veterano entre os líderes árabes e africanos, nasceu - segundo sua própria lenda - em uma tenda beduína no deserto de Sirte em 1942 em uma família de pastores da tribo dos Gadafa. Recebeu uma educação religiosa rigorosa e ingressou no exército em 1965.
No dia 1º de setembro de 1969, aos 27 anos, liderou o golpe de Estado que depôs, sem derramamento de sangue, o velho rei Idris. Em 1977, proclamou a "Jamahiriya", que definiu como uma "República de Massas" governada por meio de comitês populares eleitos, e concedeu a si mesmo o título de "Guia da Revolução".

Seu estilo de vida, seus trajes tradicionais, sua maneira caprichosa de exercer o poder neste imenso e rico país petroleiro, pouco povoado, resultaram inconsistentes e imprevisíveis para os ocidentais e também para os árabes.

Com a saariana cáqui, um uniforme militar adornado com dourados, ou com a "gandura", a túnica dos beduínos, Kadhafi gostava de receber autoridades em uma tenda, em Sirte ou no pátio de sua residência-quartel de Bab el Aziziya, no centro de Trípoli.

Sarcástico

Considerado sedutor, apreciava a companhia feminina e com frequência se apresentava rodeado de mulheres com uniforme militar, suas "amazonas".

Personagem teatral, costumava se distinguir por atos e palavras que divertiam as pessoas, mas também lançou insultos contra seus homólogos árabes e elaborou teorias muito pessoais sobre a história e os homens.

Em uma cúpula árabe, em 1988, utilizou uma luva branca apenas na mão direita e explicou que queria deste modo evitar apertar "mãos manchadas de sangue".

Em vários discursos feitos ao povo Líbio, Kadhafi lia passagens do "Livro Verde", compêndio de doutrinas publicado nos anos 1970 e que serve de Constituição para o país. Nele, que instituiu a "Jamahiriya", o ex-ditador afirma que a democracia não pode ser criada a partir das urnas: "As eleições são uma farsa", afirmou.
Kadhafi declarou sua admiração por Gamal Abdel Nasser, por seu nacionalismo pan-árabe, e várias vezes expressou sua simpatia por Mao Tsé-Tung, líder comunista chinês, Joseph Stálin, um dos líderes da Revolução Russa e governante da antiga União Soviética, e até mesmo Hitler.

"Cachorro louco"

Durante décadas, foi acusado de dar apoio a grupos terroristas e utilizar a renda petroleira para financiar rebeliões na África e em outros continentes.
O ex-presidente americano Ronald Reagan chamou o líder líbio de "cachorro louco" e, em 1986, autorizou um ataque aéreo a Trípoli e a Benghazi em resposta a um ataque a bomba contra uma discoteca em Berlim Ocidental. Segundo o governo dos Estados Unidos, o atentado, que matou dois militares americanos e uma mulher turca, teria sido realizado por agentes líbios. O ataque americano matou um dos nove filhos do ex-ditador.

Kadhafi foi considerado um leviano internacional após ser vinculado ao atentado contra um avião americano no céu de Lockerbie, na Escócia (que deixou 270 mortos em 1988), e contra um avião francês no Níger (que deixou 170 mortos em 1989).

Mas, para surpresa de todos, em 2003 aceitou pagar indenizações às famílias das vítimas e anunciou que renunciava a qualquer tipo de vínculo com atividades terroristas, assim como o desmantelamento de seus programas secretos de armas de destruição em massa.

Tais gestos lhe permitiram se reconciliar com o Ocidente. Foi recebido com honras em Paris em 2007 e em Roma em 2010. Em fevereiro de 2009, foi eleito presidente da União Africana.

Mais recentemente, conseguiu dobrar a Suíça, que lhe pediu desculpas pela detenção de seu filho Hannibal em Genebra por agredir os funcionários de um hotel, e ainda recebeu de forma triunfal em seu país Abdelbaset al Megrahi, o líbio condenado pelo atentado à aeronave da Pan Am, libertado pela Escócia por razões de saúde, para a raiva de Washington e Londres.

Apoio de Lula

O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou ao menos quatro vezes com Muammar Kadhafi.

Em 2009, durante encontro da Cúpula da União Africana, que aconteceu em Sirte, cidade onde o coronel líbio foi morto, Lula fez críticas à imprensa pelo que considerou "preconceito premeditado" por sua proximidade com ditadores da região.

O discurso começou com Lula dizendo ao ditador líbio Muammar Kadafi: "Meu amigo, meu irmão e líder".

Se considerava "rei"

Em maio deste ano, Kadhafi provocou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), dizendo que suas bombas não poderiam encontrá-lo. "Estou dizendo aos cruzados covardes que estou em um local em que eles não podem alcançar e me matar", disse em uma transmissão por rádio.

"Não deixarei essa terra, morrerei aqui como um mártir... Devo permanecer aqui desafiante", disse ele em uma das transmissões. Um dos líderes com maior tempo de governo do mundo, Kadhafi não tinha um cargo oficial no governo e era conhecido como o "irmão líder e guia da revolução". Ele lutava por influência na África, exibindo-se para os vizinhos mais pobres com a vasta riqueza de petróleo da Líbia e se denominando "o rei dos reis".

Fonte:

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Por:  Maratimba.com    |      Imprimir