Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 02-02-2012

País está "aquém do desejável" em relação à hanseníase, diz governo
Brasil concentra aproximadamente 15% dos casos conhecidos da doença no mundo
País está
Foto: colegioweb.com.br

O diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, reconheceu nesta quarta-feira (1º) que o país "ainda está aquém do desejável" na busca de casos de hanseníase.

O Brasil concentra aproximadamente 15% dos casos conhecidos da doença no mundo - é o segundo maior número, só menor que o da Índia, com cerca de 50% dos registros. No entanto, o Brasil apresenta a maior incidência mundial de novos casos, apesar da subnotificação.

- Duplicar é um exagero, talvez aumentemos em 30% a 40% a detecção com uma busca ativa, mas acreditamos que conseguiremos ter a expressão real dos dados ao longo deste próximo ano e que, mesmo com esse aumento, consigamos levar a prevalência para menos de um caso por 10 mil habitantes até 2015.

Essa meta já foi adiada duas vezes - primeiro de 2000 para 2008.

- O problema existe e é grave. Nenhum país conseguiu zerar completamente os casos, mas que deixe de ser essa expressão tão flagrante de descaso e discriminação.

Segundo ele, uma das razões para o alto número no país foi a adesão tardia à proposta de mudança de tratamento.

Maierovitch disse que foi publicada recentemente um portaria autorizando o repasse de recursos para 246 municípios que concentram 60% dos casos da doença no país. Eles só receberão o dinheiro após a assinatura de um termo de compromisso assegurando que vão executar ações como a busca ativa de novos casos e a melhoria do acesso aos serviços de saúde com a descentralização das ações e o tratamento adequado.

- É um rol pequeno de ações que devem nos levar a patamares aceitáveis.

Em 2011, foram registrados 30.298 novos casos da doença no país, uma redução de 15% em relação a 2010.

Reportagem publicada no sábado pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrou que os números de hanseníase apresentados pelo ministério representam um avanço considerável, mas não refletem a realidade, segundo avaliação da médica Leontina da Conceição Margarido, professora da USP (Universidade de São Paulo).

Segundo ela, os números oficiais são como a ponta de um iceberg, porque não incluem a chamada endemia oculta, os doentes não diagnosticados e aqueles que abandonaram o tratamento.

"O que foi apontado é real, e isso é um dos grandes problemas que dificultam enfrentar a hanseníase", segundo Maierovitch.

Ele participou do lançamento, no Rio de Janeiro, do apelo global contra a doença, uma iniciativa de entidades como a ONU (Organização das Nações Unidas).

O documento oficial pelo fim do estigma e da discriminação contra as pessoas atingidas pela hanseníase foi lido pelos artistas Ney Matogrosso e Elke Maravilha.

O governo do Rio informou que pretende indenizar doentes que viveram isolados nos chamados hospitais-colônia no Estado - o projeto ainda está em tramitação e prevê o pagamento de um salário mínimo para cerca de 500 pessoas.

Também foi lançado o Programa de Identificação de Familiares Separados pelo Isolamento Compulsório de Pessoas com Hanseníase.

Idealizado pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), o programa Reencontros prevê o uso de exames de DNA. Até 1986, a legislação brasileira recomendava o isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase.

Os bebês de pais com a doença eram entregues à adoção. Em 2007, o governo brasileiro começou a conceder pensões especiais às pessoas atingidas pela hanseníase que foram submetidas ao isolamento compulsório, mas o benefício não foi estendido aos seus filhos.

Saiba mais sobre a hanseníase

Doença infecciosa, a hanseníase causa deformidades na pele e nos nervos de braços, mãos, pernas, pés, rosto, orelhas, olhos e nariz. A transmissão ocorre pelo contato direto e prolongado entre as pessoas. O doente sem tratamento expele o bacilo ao tossir ou espirrar. Muitas pessoas podem ser infectadas, mas a maioria tem resistência ao bacilo. Ambientes fechados, com pouca ventilação e sem luz solar aumentam as chances de contaminação. A transmissão não ocorre durante contato breve entre as pessoas, como uma caminhada para a escola ou uma conversa no elevador.

A doença não faz distição de sexo ou idade. Os sintomas são manchas brancas, avermelhadas e marrons em qualquer parte do corpo, que ficam dormentes e sem sensibilidade ao calor, frio ou toque, principalmente nas mãos, costas, nádegas, pernas e pés. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos primeiros sinais pode levar de dois a cinco anos.

A hanseníase tem cura. O tratamento, de graça pelo SUS (Sistema Único de Saúde), é a base de comprimidos. O paciente pode tomar os medicamentos diariamente em casa e procurar o médico uma vez por mês para acompanhamento. O tratamento dura de seis meses a um ano. Assim que começa a tomar os remédios, o doente para de transmitir a hanseníase. E não precisa se afastar do trabalho, nem do convívio familiar, e pode manter relações sexuais.

O diagnóstico é feito pelo médico por meio de exame clínico. Em casos raros, o profissional pode solicitar exames complementares. A identificação e o tratamento precoces são as melhores formas de combater a doença. Outra recomendação é que pessoas que vivem ou que moraram com pacientes de hanseníase procurem um médico.



Fonte: noticias.r7.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir