Categoria Pop & Art  Noticia Atualizada em 09-02-2012

Modelo andrógino testa os limites do mundo da moda
Andrej Pejic desfila tanto como homem quanto como mulher. Modelo não se diz transexual e já fez até campanha de sutiã.
Modelo andrógino testa os limites do mundo da moda
Foto: g1.globo.com

Em uma tarde fria, Andrej Pejic senta-se graciosamente, de pernas cruzadas, em um café de Manhattan com uma xícara de chá. Seus olhos azuis estão fixos na paisagem do outro lado da janela, sem notar que quase todos os homens nas mesas próximas estão atentos. Um homem de jaqueta de couro vai até o vidro e dá um beijo. Pejic ri e admite: "acho lisonjeiro". Os admiradores provavelmente não sabem que a beleza loira que chama sua atenção é, na realidade, um homem.

Com o início da semana de moda de Nova York, uma das mais importantes do mundo, Pejic é um dos rostos mais reconhecíveis e controversos das passarelas. Ele é o único top model que desfila como homem e como mulher. E sdua beleza andrógina o transformou no criador de tendências que a indústria vinha procurando para testar seus próprios limites. "Ele é apenas uma coisa linda de que todos querem um pedaço", diz o estilista Ken Anderson, que vestiu Pejic para a capa de uma revista alemã.

Ele tem o tipo de rosto de causar inveja na mais vaidosa das mulheres: maçãs do rosto altas, pele perfeita e lábios carnudos. Seu primeiro sinal de masculinidade aparece quando ele fala e o pomo de Adão torna-se perceptível.

Apesar de Pejic não querer ser uma mulher, muitas pessoas da comunidade transgênero o reconhecem como "um dos seus". Ele é visto como singular, alguém que abraçou sua sexualidade sem precisar de explicações ou justificativas.

Pejic estampou a capa de 14 revistas apenas no ano passado, e fez a campanha publicitária para um sutiã holandês. Também foi o rosto de uma linha assinada por Marc Jacobs, e desfilou para pesos-pesados da moda como John Galliano e Jean Paul Gaultier.

Gaultier ficou tão fascinado pelo modelo que usou sua ambiguidade sexual como fonte de inspiração para seus desfiles de 2011 das coleções masculina e feminina, e Pejic estrelou as duas. Na coleção masculina, apareceu de peito nu, com uma pistola e um terno interpretando "James Blonde." Um contraste com sua aparição na coleção feminina, quando vestiu o tradicional ponto alto dos desfiles – o vestido de noiva.

O fotógrafo francês Sebastien Micke, que já trabalhou com modelos transexuais, diz que a feminilidade de Pejic acontece sem esforço."Andrej tem aquela coisa que as supermodelos têm: sabe posar para uma câmera", diz. "É natural".

Mas a vida do modelos de 20 anos nem sempre foi tão glamourosa. Nascido na Bósnia, Pejic passou boa parte de sua infância em um campo de refugiados sérvio até sua família mudar-se ára a Austrália. Foi descoberto na adolescência, trabalhando no McDonald’s.
Pejic diz que a aceitação que sempre recebeu de sua família e amigos fez com que ele se sentisse confortável com quem ele é. "Tenho muita sorte nesse sentido", ele diz. "Se eu tivesse músculos enormes e fosse peludo e barbudo, talvez não me sentisse confortável".

Com 1,85 metro de altura, ele é magro e veste o equivalente feminino ao manequim 36. O problema é o tamanho do sapato: ele calça 43, mas não desfiles femininos se espreme em saltos tamanho 42.

Gene Hogan, representante da agência DNA, empregadora de Pejic nos EUA, diz que recebe dúzias de ligações por dia oferecendo novos modelos andróginos.

Para Pejic, cada semana de moda traz uma nova onda de manchetes e oportunidades, incluindo negociações de uma linha de perfumes ou um possível reality show. Com o frenesi midíatico vivido por ele em 2011, fonts da indústria dizem que ele corre o risco de superexposição. Por causa de seu visual "de nicho", pode ser difícil para o modelo manter-se relevante. E, à medida que sua estrela cresce, estilistas podem ter medo de contratá-lo pelo risco de que a celebridade ofusque as roupas.

Pejic conhece bem essa volatilidade da indústria da moda. Se a atual carreira deixar de render, ele quer se formar em economia ou direito.

Apesar de aberto a discutir praticamente qualquer coisa, o modelo se mantém discreto quanto à sua orientação sexual. Quando perguntado se prefeer homens ou mulheres, ele sorri timidamente: "o amor não tem limites", diz.










Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir