Categoria Geral  Noticia Atualizada em 19-03-2012

Testemunhas de acusação do caso Juan serão ouvidas nesta segunda
Quatro PMs são acusados de matar o menino Juan, em junho de 2011. Juiz ouvirá três testemunhas de acusação, em Nova Iguaçu.
Testemunhas de acusação do caso Juan serão ouvidas nesta segunda
Foto: g1.globo.com

Três testemunhas de acusação serão ouvidas na tarde desta segunda-feira (19), na quarta Audiência de Instrução e Julgamento dos quatro policiais militares acusados de matar o menino Juan Moraes, de 11 anos. O crime aconteceu em junho do ano passado, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Todas as três testemunhas são moradoras da comunidade Danon, onde Juan foi baleado.

Na quinta-feira (15), os depoimentos duraram cinco horas. Foram ouvidos pelo juiz Márcio Alexandre Pacheco da Silva, da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, o irmão, a mãe e o avô da vítima. Todos os três parentes estão no serviço de proteção a testemunha e optaram em falar sem a presença dos acusados.

A mãe de Juan relembrou que no dia do crime ouviu duas sequências de tiros. Assim que o tiroteio terminou, ela disse que foi avisada por seu irmão que o filho mais velho havia sido baleado. Ela relatou que ao passar pelo beco, onde teria ocorrido o crime, viu duas poças de sangue e policiais revistando o mato.

A mãe de Juan contou que ainda perguntou aos policiais se eles tinham visto alguma criança no local: "Os policiais disseram que não tinham nada a ver com isso, e que estavam numa operação", falou ela.

A testemunha disse que após ter sido baleado, o irmão de Juan buscou socorro na casa de um vizinho. Em seguida, o jovem foi levado para o Hospital da Posse, em Nova Iguaçu. A mãe contou que o filho estava em uma sala de custódia, junto com outros homens maiores de idade, todos suspeitos de serem criminosos.

Mãe nega que filho tivesse envolvimento com tráfico

A mãe de Juan diz que no Hospital da Posse ouviu policiais dizendo que seu filho era envolvido no tráfico de drogas, mas ela voltou a negar que o menino tivesse envolvimento com o crime: "Meu filho foi transferido para um outro hospital em Duque de Caxias e lá foi falado para mim que meu filho estava preso, por causa disso meu irmão até registrou queixa na delegacia, já que fiquei com medo de que algo pudesse acontecer com o meu filho", declarou a mãe da vítima.

Ela disse ainda que seu filho mais velho relatou que viu no beco um vulto, que parecia ser um homem de boné. No entanto, ele não teria conseguido descrever como seria essa pessoa.

Questionada pela defesa dos PMs se tinha relacionamento com traficantes da região, a mãe de Juan apenas contou que soube recentemente que uma amiga sua foi presa por tráfico. Ela disse que havia pouco tráfico de drogas na comunidade Danon e que raramente viu a polícia fazendo operações na região.

Avô diz que falou com neto mais velho após ser baleado

Por último foi ouvido o avô de Juan, que apenas relatou que o neto mais velho ligou para ele dizendo que havia sido baleado: "Ele falou assim – Vô, pelo amor de Deus, vem me socorrer. Mas não pude ir imediatamente porque onde moro passam poucos ônibus para o Danon", resumiu ele.

Mais cedo, em seu depoimento, o irmão de Juan Moraes relatou que o menino estava assustado quando foi atingido pelos tiros. Ele, que estava mais atrás de Juan, ao tentar procurá-lo levou um tiro no ombro, segundo contou, e não conseguiu achá-lo. O jovem contou que, no hospital, ouviu de um policial reformado que os tiros que levou eram de fuzil 556.

Julgamento

No dia 5 de março, a juíza Larissa Sally ouviu o depoimento de duas testemunhas de acusação na segunda audiência do caso. A primeira testemunha foi uma moradora da comunidade, que disse que há tráfico de drogas no local e que é comum a incursão de policiais. Ela disse ainda que no dia da morte de Juan, ajudou a socorrer o rapaz baleado, que prestou depoimento na primeira etapa do julgamento. Segundo contou, o rapaz não estava armado e carregava apenas uma mochila.

A segunda testemunha daquele dia foi outro morador da comunidade, que trabalhava como pedreiro na época do crime. Ele disse ter ouvido apenas os disparos e que não saiu de casa para ver o que era. Ainda de acordo com o pedreiro, Juan e seu irmão nunca tiveram envolvimento com o tráfico de drogas.

Investigações indicaram que não houve confronto

Na noite do dia 20 de junho, segundo investigações da polícia, Juan vinha da casa de um amigo com o irmão, de 14 anos, quando foi atingido durante um tiroteio na Favela Danon. O irmão e outro jovem, de 19 anos, também ficaram feridos. A reconstituição do caso foi feita no dia 8 de julho, dois dias após a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, confirmar a morte do menino. Na ocasião, as provas indicaram que não houve confronto na comunidade, como afirmavam os réus em sua defesa.

No dia 15 de setembro, o MP-RJ denunciou os PMs por dois homicídios duplamente qualificados (a morte do menino Juan e de um suposto traficante), duas tentativas de homicídio duplamente qualificado (do irmão de Juan, e do jovem de 19 anos) e ocultação de cadáver de Juan.

O corpo de Juan chegou a ser exumado em 17 de agosto, a pedido da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que tinha dúvidas sobre a identificação, uma vez que a primeira perícia identificou o corpo como sendo o de uma menina. Mas a nova perícia confirmou que o cadáver era de Juan. Somente no dia 28 de outubro o corpo do menino Juan foi novamente enterrado no Cemitério de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.



Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir