Categoria Politica  Noticia Atualizada em 03-05-2012

Crise financeira explica fracasso de Sarkozy ao tentar reeleição na França
Circunstâncias forçaram conservador a mudar discurso no meio do mandato. Temperamento e exposição da vida privada também prejudicam presidente.
Crise financeira explica fracasso de Sarkozy ao tentar reeleição na França
Foto: g1.globo.com

Apesar dos esforços para atrair o eleitorado, o presidente francês e candidato a reeleição, Nicolas Sarkozy, não consegue subir nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno, e continua atrás do socialista François Hollande.

Além da crise econômica que o país atravessa, um modo de vida ostentatório e um temperamento explosivo poderiam explicar o desgaste da imagem do presidente.

Com uma boa votação no primeiro turno, Sarkozy demonstrou que ainda tem a confiança de 25% dos eleitores. Mas o atual presidente perdeu credibilidade junto aos franceses por não ter conseguido cumprir suas principais propostas de governo.

Quando foi eleito, em 2007 ele seduziu o eleitorado com um discurso baseado na flexibilização do mercado de trabalho, no rebaixamento das cargas tributárias e na diminuição do número de funcionários públicos.

Com a chegada da crise em 2008, o discurso mudou. Diante da realidade econômica, da pressão dos sindicatos e do peso da opinião pública, o presidente que prometia quebrar tabus se transformou em um ardente defensor das estruturas estatais e do protecionismo.

Em cinco anos de mandato, a dívida pública francesa aumentou 500 bilhões de euros, a França perdeu competitividade, o índice de desemprego passou de 8% da população, em 2007, para mais de 10%, em 2012, o poder de consumo dos franceses diminuiu e o crescimento estagnou.

Durante seu governo, Sarkozy também tomou medidas que não ajudaram a aumentar sua popularidade. Entre elas a limitação do seguro desemprego, justo no momento em que as demissões aumentaram e a criação de empregos diminuiu, e o aumento da idade da aposentadoria, que passou de 60 para 62 anos.

O presidente também tinha feito da redução do déficit publico uma de suas promessas de governo. Mas a dívida pública francesa aumentou em mais de 600 bilhões de euros passando de 64% para mais de 85% do PIB, segundo datos da Tink Thank Terra Nova.

Ainda que a França seja um dos países que melhor resiste à crise da zona do euro, sem conseguir realizar reformas e enxugar o orçamento do Estado como tinha proposto, Sarkozy perdeu credibilidade entre seus eleitores.

"Presidente dos ricos"

Mas não é só a crise financeira e o desemprego que alimentam a antipatia do povo francês. Para uma sociedade acostumada a que seus presidentes tenham um estilo de vida discreto e reservado, o hábito de Sarkozy de expor sua vida privada não agradou.

O divórcio de Cecília Ciganer no começo do mandato e o romance com Carla Bruni ganharam destaque na imprensa tanto francesa quanto internacional. Desde o nascimento de sua filha Giulia, o presidente optou pela discrição, mas talvez tenha sido tarde demais para recuperar a simpatia dos franceses.

Além disso, Sarkozy nunca escondeu seu estilo de vida luxuoso e suas relações com amigos ricos. Suas primeiras férias como presidente no iate do Milionário Vincent Bolloré e a denúncia de que sua campanha teria sido financiada pela dona da L’Oreal, Liliane Bettencourt, causaram polêmica em um país que já começava a sentir os primeiros efeitos da crise econômica.

Sarkozy também ficou conhecido por seu estilo impulsivo e por sua falta de tato. Em 2008 ele interrompeu bruscamente uma entrevista com uma repórter da rede da tevê americana CBS, porque ela fez uma pergunta sobre sua vida pessoal. Gafes desse tipo ajudaram o presidente a forjar uma imagem não muito bem aceita por grande parte da sociedade francesa.

Fiéis a Sarkozy

Mas muitos são os que continuam fiéis ao atual presidente francês. Os que votam em Sarkozy no próximo domingo, acreditam que ele é o único capaz de controlar a dívida pública francesa e ainda confiam em suas promessas de reforma.

Entre eles, Xavier, que foi com a família na terça-feira (1), no Trocadero, em Paris, ver o comício de seu candidato. Para ele "é necessário votar em Sarkozy", porque "ele é o único capaz de administrar a França em tempos de crise. "Eu acho que ele evitou o pior, se compararmos com outros países da Europa", afirma Xavier que está desempregado há mais de um ano.

Quanto ao perfil intempestivo do candidato, ele afirma que "muitas pessoas não gostam de Sarkozy por suas maneiras, mas para dirigir um país ele não precisa ser simpático. Ele não é meu amigo, e sim um capitão", diz.

Sylla, advogada de 31 anos, também acredita, como Xavier, que Sarkozy é o único capaz de controlar a crise. Para ela, se o atual presidente não sobe nas pesquisas de opinião, a culpa é da imprensa. "Os jornalistas estão fazendo uma campanha contra ele, e não debatem sobre seu programa", afirma.

"Eu voto Sarkozy por suas propostas econômicas. Eu sou profissional liberal e trabalho muito, estamos atravessando um período difícil", confia a advogada.

Carmen saiu de Perpignan, no sul da França, e acompanha Sarkozy em seus comícios em todo o país. Ela não consegue entender porque as pessoas estão decepcionadas com o governo de Sarkozy. "Acho que os franceses pensam só neles. Acho que deveríamos perguntar as pessoas de outros países, como os espanhóis, como eles estão vivendo a crise. Eu acho que temos sorte na França," afirma.

Para Jean Marie, aposentado de 70 anos, é necessário dar um voto de confiança para o presidente. "Eu acho que é necessário dar uma segunda chance para que ele faça o que tinha prometido, transformar a França." Para ele o mundo mudou. "Nós vivemos muito tempo gastando e recorrendo a empréstimos, agora é necessário economizar. Se não, seremos ultrapassados por todos estes países emergentes. Guardar nossos privilégios não é a boa solução."


















Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir