Categoria Politica  Noticia Atualizada em 25-06-2012

Morsi começa a preparar sua equipe de governo no Egito
Conselho de Ministros vai renunciar, como prevê a constituição do país. Mohamed Morsi é o primeiro presidente do país no pós-Mubarak.
Morsi começa a preparar sua equipe de governo no Egito
Foto: AFP

O presidente eleito do Egito, o islamita Mohamed Morsi, começa nesta segunda-feira (25) a preparar a formação de sua equipe de Governo, após ter ganhado as primeiras eleições neste domingo (24), tornando-se o primeiro presidente eleito no país no período pós-Mubarak.

Segundo a agência oficial de notícias "Mena", Morsi abordará a criação de uma equipe presidencial, embora não tenham dado mais detalhes.

O Conselho de Ministros, dirigido pelo primeiro-ministro egípcio, Kamal Ganzouri, terá nesta segunda sua última reunião antes de apresentar sua renúncia, como prevê a regulação constitucional do país. O exército pode não acatar de imediato o pedido de renúncia.

Morsi, que venceu o general reformado Ahmed Shafiq no segundo turno das presidenciais com quase 52% dos votos, assegurou em seu primeiro discurso à nação que será "o presidente de todos os egípcios".

Ele também reafirmou que seu país manterá todos os acordos internacionais assinados, um gesto claro para Israel, que se mostrava preocupado com o tratado de paz firmado há 33 anos com o Cairo. Ele já havia dito, durante a campanha, que respeitaria os acordos.

"Manteremos os tratados internacionais e acordos entre o Egito e o mundo", disse Morsi em seu primeiro pronunciamento transmitido pela televisão, acrescentando que o Egito quer estar em paz com o resto do mundo, mas tem capacidade de se defender de qualquer ataque.

O presidente eleito deverá buscar um consenso que lhe permita enfrentar a divisão que persiste em seu país, onde a ideia de uma administração islamita desperta receios entre os setores liberais e laicos.

A cúpula militar, que comanda o Egito desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011, se comprometeu a passar no dia 30 de junho o poder ao presidente saído das eleições.


Egípcio carrega um cartaz satírico que retrata o candidato derrotado à presidência Ahmed Shafiq (esq.), o ex-ditador Hosni Mubarak (centro), e o chefe do conselho militar Hussein Tantawi, como esfinges, nesta segunda-feira (25).




Vitória de Morsi
Morsi, que já se dizia eleito, teve 51,7% dos votos no segundo turno, disputado no fim de semana passado.

O candidato do braço político da Irmandade Muçulmana conseguiu 13.230.131 votos, contra 12.347.380 para o brigadeiro da reserva Ahmed Shafiq, ex-premiê do regime do derrubado ditador Hosni Mubarak.

Ele já havia sido o mais votado no primeiro turno, em maio.

Morsi torna-se o primeiro presidente eleito no país após o regime de Mubarak, em meio a uma transição democrática comandada pelos militares e marcada pela incerteza.

Em 14 de junho, uma decisão judicial dissolveu o Parlamento, eleito democraticamente e no qual a Irmandade Muçulmana era maioria.

Os militares que governam interinamente o Egito desde a queda de Mubarak garantiram a realização do segundo turno, apesar das acusações de que um golpe estaria sendo armado, e prometeram que vão entregar o poder executivo ao vencedor antes de 30 de junho.

A Irmandade Muçulmana afirmou em comunicado, após a vitória deste domingo, que ela demonstra que o Egito "pode escolher de forma livre seu presidente".

Banida durante o regime de Mubarak -época em que Morsi chegou a ser preso-, a Irmandade chega ao poder pela primeira vez. Mas, após a dissolução do parlamento, ainda há duvida sobre se o seu presidente terá real poder.

O chefe da junta militar, marechal Hussein Tantawi, parabenizou Morsi pela vitória, afirmou a rede de televisão estatal.

Festa na Praça Tahrir
Partidários do grupo islamita tomavam a Praça Tahrir, no centro do Cairo, desde antes do anúncio do resultado, que foi bastante celebrado.


Partidários da Irmandade Muçulmana celebram neste domingo (24) a vitória do candidato Mohamed Morsi no segundo turno da eleição presidencial no Egito




Os militantes agitavam bandeiras e cartazes do líder islâmico na praça, que virou símbolo da rebelião que derrubou Mubarak em fevereiro do ano passado, no contexto da chamava Primavera Árabe.

"Deus é o maior" e "abaixo o regime militar" eram alguns dos slogans entoados pelos manifestantes, enquanto fogos de artifício eram lançados.

As forças armadas estavam em alerta, temendo atos de violência após o anúncio do resultado.

Os dois candidatos cantavam vitória, e Shafiq havia acusado Morsi de tentar "roubar" a eleição com a pressão nas ruas.

A eleição, na qual mais de 50 milhões de eleitores estavam aptos a exercer seu direito de voto, teve uma taxa de comparecimento de 51,8%.

A divulgação dos resultados estava prevista para a quinta-feira (21), mas ela foi adiada para que fossem investigadas denúncias de fraudes nos dois lados.

Para aumentar ainda mais a tensão no país, o estado de saúde de Mubarak, que cumpre pena de prisão perpétua pela repressão aos protestos do ano passado, piorou bastante na última terça-feira (19), e chegaram a circular boatos sobre a sua morte.

Acordos
Morsi prometeu respeitar tratados internacionais do Egito, principalmente o assinado com Israel em 1979, do qual depende muito da ajuda dos EUA. O premiê de Israel afirmou, em comunicado, que respeita o resultado das urnas e que espera que o acordo de paz seja cumprido.

"O presidente Morsi vai ter um trabalho duro para controlar os diversos níveis do Estado", afirmou Elijah Zarwan, analista do Conselho Europeu para Relações Internacionais.

"Ele vai provavelmente enfrentar tentativas para minar o seu poder. Frustrações podem levá-lo a cair na armadilha de atuar de forma agressiva, o que seria um erro", acrescentou Zarwan.

"O seu desafio é liderar um país dividido e temeroso para a democracia, sem se tornar um bode expiatório para a continuidade militar", afirmou o analista.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir