Categoria Geral  Noticia Atualizada em 04-07-2012

"A próxima revolução no Irã será feminina", afirma ativista do país
Mina Ahadi também fala sobre a luta para livrar mulheres do apedrejamento

Foto: noticias.r7.com

Há pouco mais de 30 anos, a Revolução Iraniana transformou o país em que Mina Ahadi vivia. Até 1979, Mina era uma líder estudantil, casada com um ativista político. Após a tomada do poder pelos aiatolás — que proibiram costumes ocidentais e reintroduziram castigos corporais para quem violasse as leis do islamismo —, a ativista passou a ser perseguida pela Guarda Revolucionária. Mina teve seu marido assassinado e viu-se obrigada a deixar sua terra natal para lutar pelas causas que defendia.

Por dez anos, Mina viveu na fronteira do Irã com o Iraque, onde tentava esclarecer os camponeses sobre o direito das mulheres. Hoje, ela vive exilada na Alemanha, mas continua defendendo as mulheres iranianas. Foi ela quem criou a campanha Stop Stoning Now, que recolheu apoio mundial para evitar o apedrejamento de Nazanin Fateh, Sakineh Ashtiani e outras mulheres no mundo islâmico.

Convidada pelo 1º Fórum Mulheres Reais que Inspiram, idealizado pela jornalista Ana Paula Padrão, Mina Ahadi veio ao Brasil no início desta semana. Em entrevista ao R7, a ativista falou sobre a situação das mulheres no Irã e revelou que tem esperança de que o regime islâmico em seu país acabe.

— [Para que a situação das mulheres melhore no Irã], a religião tem que ser separada do Estado. O governo tem que ser feito não pelo Corão [livro sagrado do Islã], mas por seres humanos. O Irã tem muita capacidade. As mulheres estão emancipadas, mas em casa. Elas brigam muito pelos seus direitos. A próxima revolução no Irã vai ser feminina.

Mina também falou sobre a situação de Sakineh Ashtiani, iraniana que esteve no corredor da morte, acusada de adultério e de ter participado da morte de seu marido.

— Sakineh continua na prisão e ainda pode ser apedrejada. Tenho muita esperança que o apedrejamento acabe no Irã, porque todo o mundo é contra. Sakineh e a família têm esperanças de que ela seja libertada um dia. Hoje, temos mais um problema: o advogado de Sakineh, Hutan Kian, também está preso. No dia 10 de outubro de 2010, ele foi detido por causa de uma entrevista que concedeu a dois jornalistas. Hutan foi espancado e já perdeu 20 kg na prisão. Ele me escreveu uma carta, da prisão, pedindo para que não seja esquecido.

A ativista contou que sofre no exílio pela falta da família, com quem não convive desde que saiu de sua terra natal.

— Há 30 anos eu deixei o Irã, e há 30 anos não vejo minha família. Por causa do meu ativismo, minha família é perseguida. Tenho uma família enorme e não posso falar com eles ao telefone, pois eles têm muito medo. Nesses 30 anos, minha mãe veio me visitar uma única vez. Quando voltou, ela foi presa e bateram muito nela.

Apesar do sofrimento, Mina revelou-se esperançosa sobre o futuro do país.

— Eu quero um Irã sem um governo islâmico. Quero uma mulher na presidência, como no Brasil. E que o governo dê igualdade aos homens e às mulheres. Um Irã sem pena de morte e sem apedrejamento. Quando acabar o regime islâmico, eu poderei voltar.



Fonte: noticias.r7.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir