Categoria Geral  Noticia Atualizada em 05-07-2012

Israel anuncia demolição de aldeia palestina pela terceira vez
"Quando destruíram nossa aldeia pela primeira vez, em 1986, eu tinha 3 anos. Meus pais me contaram como os soldados chegaram e nos mandaram sair da caverna onde morávamos.
Israel anuncia demolição de aldeia palestina pela terceira vez
Foto: noticias.terra.com

Quando destruíram novamente, em 2001, eu já tinha 18 anos, e me lembro bem de como perdemos tudo e tivemos que reconstruir do zero". O palestino Nasser Nawaja, 29 anos, vive em Susya, ao sul da cidade de Hebron, na Cisjordânia. A localidade já foi destruída duas vezes pelo exército israelense. Agora, a história se repete.

Recentemente os 320 moradores receberam mais uma ordem de demolição. Segundo o exército israelense, que controla a região, as construções precárias existentes no local são "ilegais". Os habitantes de Susya são pastores de ovelhas e moram em cavernas, barracões e tendas, sem conexão às redes de água e de eletricidade. Nasser é um dos principais líderes da comunidade, cuja história representa um microcosmo da situação dos palestinos em toda a área da Cisjordânia denominada "área C".

A área C engloba 60% da Cisjordânia e nela vivem 150 mil palestinos e 330 mil colonos israelenses. Lá, as forças israelenses mantêm controle civil e militar, e os palestinos são obrigados a pedir a permissão para construir qualquer coisa, inclusive em suas terras privadas. Os habitantes de Susya são donos de uma área de 800 hectares, porém 600 já foram confiscados, por decretos militares, para um assentamento israelense - com o mesmo nome, Susya - e um parque arqueológico. "Se destruírem nossa aldeia, construiremos tudo de novo", afirmou Nasser . "A terra é nossa, não pretendemos deixá-la". Se a demolição for adiante, os habitantes prometem reconstruí-la 100 metros ao sul do local atual.

Parque arqueológico
O local original onde ficava a aldeia palestina até 1986 foi transformado em um parque arqueológico. Nele, de acordo com as autoridades israelenses, estão as ruínas de uma sinagoga construída na época do Segundo Templo de Jerusalém, há cerca de 2 mil anos. Os colonos israelenses que moram no assentamento de Susya, também construído em terras privadas da aldeia palestina, administram o parque.

Os cineastas israelenses Yoav Gross e Dani Rosenberg, filmaram uma visita de Nasser Nawaja e seu pai, Mohamed, ao local da antiga aldeia. Mohamed e Nasser tiveram que comprar ingressos para visitar o lugar, mas, mesmo assim, foram rapidamente expulsos por militares israelenses. "Foi muito triste fazer o filme Susya", disse Gross ao Terra, "pois a reação dos colonos e do Exército demonstrou a total negação deles à identidade e à história dos palestinos".

A ONG Rabinos pelos Direitos Humanos, dirigida pelo rabino Arik Ascherman, acompanha a história de Susya há mais de 10 anos. Ascherman espera que a Suprema Corte de Justiça aceite o apelo que a ONG apresentou e cancele a ordem de demolição. De acordo com o rabino, "as autoridades militares rejeitam, de maneira sistemática, os pedidos de licença de construção para palestinos na área C, portanto eles não têm alternativa exceto construir sem permissão".

"O plano das autoridades israelenses é expulsar os palestinos da área C e empurrá-los para as áreas A e B", acrescentou. A área A, que engloba as cidades palestinas, foi transferida depois dos acordos de Oslo (em 1994), ao controle da Autoridade Palestina e inclui 10% do total da Cisjordânia. A área B, com 30% das terras da Cisjordânia, inclui zonas rurais que se encontram sob controle civil da Autoridade Palestina e controle militar do Exército israelense.

O rabino Arik Ascherman também disse ao Terra que "não nega" que, durante o período do Segundo Templo, tenha havido uma sinagoga nas terras de Susya. "Mas, de acordo com a minha percepção do judaísmo e com a minha escala de valores, o ser humano é mais importante do que qualquer local arqueológico, por mais importante que seja", afirmou.

Doações europeias
O sistema de energia solar de Susya foi doado pelo governo alemão, uma clinica médica foi erguida graças à contribuição da Austrália e a escola no local foi doação espanhola. De acordo com o pesquisador da ONG Btselem, Eyal Hareuveni, os países doadores estão exercendo pressões junto ao governo israelense para que não destrua a aldeia. Hareuveni também afirmou que "existem provas de que os palestinos de Susya já moravam nessa região no século XIX, eles têm os documentos que demonstram propriedade privada dessas terras". No entanto, como a Cisjordânia se encontra sob ocupação militar, bastam decretos do Exército israelense para desapropriar as terras de seus donos legais.

Fonte: noticias.terra.com
 
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