Categoria Geral  Noticia Atualizada em 14-08-2012

‘Há bombas, tiros, mortos no chão’, diz casal que foge da Síria para o Brasil
Priscila Baçha e o marido temem mais pelos filhos: ‘Eles estão pele e osso’. Casal fugiu de Aleppo para Damasco e deve vir para o Brasil nesta semana.
‘Há bombas, tiros, mortos no chão’, diz casal que foge da Síria para o Brasil
Foto: g1.globo.com

"Quem sofre mais são as crianças. Quando passa avião, ele se escondem debaixo da mesa. Temos que inventar história para elas, dizer que é bombinha de brincadeira", relatou ao G1 por telefone Priscila Eroud Ibrahim Baçha, de 25 anos, que está em processo de vinda ao Brasil para escapar do confronto que já matou 21 mil pessoas na Síria desde março de 2011, segundo a oposição do presidente Bashar Al-Assad.

A brasileira contou que fugiu com o marido e os dois filhos da cidade de Aleppo para a capital, Damasco, nesta sexta-feira (10) e que estão no aguardo da renovação dos passaportes de Mohamed e dos filhos, mas eles tentam apressar o processo com a embaixada.

Priscila diz que não sabe onde estão exatamente em Damasco, mas que está "muito feliz" e que teve ajuda da embaixada brasileira em todo o processo: "Não está faltando nada. Estão dando água, comida."

A brasileira foi para a Síria há 4 anos acompanhar seu marido, que é sírio com visto permanente para o Brasil e desejava retomar contato com a família. Mohamed Hakmet Ibrahim Baçha, 36, era dono de uma lan house em Aleppo, segunda maior cidade do país, e ela trabalhava como dona de casa.

O casal vivia bem, mas "nos últimos tempos em Aleppo, infelizmente, as coisas começaram a pegar fogo", relata Priscila. Mohamed confirma: "Aqui está acontencendo guerra de terroristas. São bombas, tiros, mortos no chão, coisas horriveis".

O estabelecimento de Mohamed foi invadido e queimado. Enquanto tentavam escapar da violência, eles se mudaram três vezes. Após fugir de casa, foram para a residência da mãe de Mohamed e então para a da irmã dele. Ambas ficam próximas a uma escola infantil que, segundo o casal, também foi invadida e queimada. "A gente se escondeu no corredor da casa quando aconteceu", diz Priscila.

Ela conta que ficou horrizada com a cena: homens armados chegaram ao local com carros, renderam cerca de dez seguranças, e levaram eles "não sei para onde". Os homens armados então montaram uma base no local, trazendo mais pessoas e armamentos. À noite, houve bombardeios e o local foi incendidor. Priscila relatou que não se tratavam de forças sírias e que muitos eram estrangeiros. "Olhando a cara deles, o medo logo vem", diz.

No dia seguinte, eles foram para a casa do tio de Mohamed, onde encontraram mais segurança. Mesmo assim, era possível ouvir os barulhos da bomba, relata o casal, e ele teve que voltar às casas para buscar suprimentos e malas. Ele chegou a ficar três dias presos em uma das residência antes de conseguir fugir- um shopping perto da escola também foi invadido. "Ele aproveitou uma manhã calma e escapou", relata Priscila.

Da casa do tio de Mohamed, eles conseguiram combinar o contato com a embaixada e fizeram a viagem para Damasco.

Família
Tanto Priscila como Mohamed dizem conseguir contatar seus familiares - a dela está no Brasil e a conversa é feita por celular. A família dele está em Aleppo e, nesta segunda-feira (13), Mohamed não conseguiu contato com os parentes. O casal não tem acesso à internet em Damasco, onde está atualmente.

Priscila diz que teme mais por seus filhos, um garoto de 5 anos que está no pré-escolar e uma garota de 7, que está na 2ª série - ambos nasceram no Brasil.

"Eles estão pele e osso. A ‘gente grande’ entende a situação, mas o que eles têm a ver com isso?", questiona.

Refugiados
Conforme o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o Brasil recebeu 58 solicitações de refúgio nos últimos dois anos por parte de sírios e todas ainda estão em análise - em 2011 foram 24 e, em 2012, 34.

As manifestações antigoverno na Síria na começaram em 15 de março de 2011, com uma manifestação por mais democracia no país, governado pelo partido do presidente Bashar al-Assad desde 1963.

O conflito já causou 20 mil mortos, em sua maioria civis, segundo a oposição, e o número de refugiados sírios chega perto de 150 mil, de acordo com a ONU.

A situação é acompanhada de perto por órgãos internacionais, que declararam guerra civil no país. O emissário da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, anunciou sua renúcia como mediador após tentativas fracassadas de cessar-fogo.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir