Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-08-2012

Kirchner adota estilo "stand up" de discurso e surpreende argentinos
Presidente argentina consolida cadeias nacionais de televis�o como principal forma de comunica��o.
Kirchner adota estilo
Foto: g1.globo.com

A presidente Cristina Kirchner adotou um estilo de fazer discursos que vem sendo chamado de "stand up" na Argentina, consolidando as cadeias nacionais de televis�o como sua principal forma de comunica��o e surpreendendo os argentinos.

O novo estilo da presidente, reeleita em 2011, tem sido motivo de coment�rios na imprensa local e entre diplomatas que j� deixaram a carreira.

"Votei na presidente na sua primeira elei��o, mas n�o na segunda. Agora, por�m, n�o perco nenhum de seus discursos em rede nacional. � a �nica forma de saber o que ela, portanto todo o governo, est� pensando", disse um ex-embaixador argentino sob a condi��o do anonimato.

A defini��o "stand up" foi destacada, esta semana, em um artigo da ensa�sta Beatriz Sarlo, publicado no jornal "La Naci�n", e em um artigo do colunista Roberto Garc�a, publicado no jornal "Perfil". A express�o tamb�m tem sido usada nos bastidores do mundo empresarial e dos analistas econ�micos, segundo contaram � BBC Brasil um analista do com�rcio bilateral e um ex-embaixador argentino nas Na��es Unidas.

Um analista econ�mico que pediu para n�o ser identificado disse que pede aos assistentes que gravem e anotem o que diz a presidente. "Ela � praticamente a �nica que fala publicamente. Ningu�m do governo d� entrevistas ou recebe a oposi��o. Ent�o, � essencial saber o que ela est� dizendo", afirmou.

Cristina n�o costuma conceder entrevistas � imprensa, e seus discursos passaram a ser, no entendimento dos analistas, a principal fonte de informa��es sobre seu governo.

Pol�mica
O estilo mais descontra�do nos discursos da presidente tem sido observado principalmente nos �ltimos meses. Nas falas, ela aborda desde quest�es cotidianas como internacionais.

"Se o Brasil for mal, a Argentina ir� mal. Mas se a Argentina for mal, o Brasil ir� pior ainda, porque tem (com a Argentina) um de seus principais super�vits comerciais", afirmou na ultima segunda-feira, num discurso transmitido pelo canal oficial de TV.

No entanto, declara��es da presidente t�m gerado pol�mica por serem definidas como "politicamente incorretas", como analisou Sarlo. "A presidente usou a palavra "mota" para se referir ao cabelo e a origem �tnica do comandante (presidente) Ch�vez", escreveu.

"Mota" (equivalente a cabelo Bombril) � defini��o usada popularmente, mas pouco simp�tica, para definir o cabelo dos que t�m ra�zes negras.

Em outro discurso, no m�s passado, no lan�amento da nova c�dula de cem pesos, com o rosto da ex-primeira dama Eva Per�n, Cristina disse que o "Estado n�o � mongo".

Mongo � o termo politicamente incorreto usado pelos argentinos para se referir a portadores da S�ndrome de Down. A declara��o foi comentada nas redes sociais e seu discurso reproduzido no Youtube com o t�tulo:"Cristina usa "mongo" como sin�nimo de est�pido".

Na segunda, ao discursar sobre a sa�de da economia mundial, ela criticou os que falsificam n�meros p�blicos. E disse: "Se � para falsificar, falsifiquemos todos".

Em junho, a presidente se referiu a um argentino como "amarrete" (p�o duro) porque ele quis comprar US$ 10 para cada neto e, como foi impedido pela AFIP (Administra��o Federal de Ingressos P�blicos, a Receita Federal argentina), decidiu apelar � Justi�a.

"� um vovozinho meio p�o duro. Ele quis presentear os dois netos com 45 ou 49 pesos (equivalente na �poca a dez d�lares). Eu teria feito um esfor�o maior", disse a presidente, em rede nacional.

O advogado Julio C�sar Duran, o av� citado pela presidente, disse � imprensa local que se sentia mal com a defini��o de p�o duro. "Eu sou um av� que quis comprar d�lares para os netos. � o que posso comprar. Agora todos v�o me chamar de p�o duro", reclamou em entrevista � r�dio Mitre, de Buenos Aires.

Fisco
Em outra rede nacional, a presidente citou o nome de um empres�rio do setor imobili�rio que tinha dado entrevista ao jornal Clarin, opositor ao governo, dizendo que as vendas tinham ca�do a partir do controle de d�lares, no fim do ano passado.

A presidente revelou, na cadeia nacional de r�dio e de televis�o, que ele tinha d�vidas com o fisco. "Li domingo uma mat�ria em um jornal que voc�s j� sabem qual � (Clarin) na qual um senhor de uma conhecida imobili�ria dizia que agora n�o entra ningu�m na sua loja por causa do d�lar. Liguei para o presidente da AFIP e ele me disse que esta firma n�o apresentava declara��o de impostos desde 2007", disse Cristina.

Os que participaram da cerim�nia a aplaudiram diante das c�meras. "Cristina acusou de evas�o fiscal um empres�rio do setor imobili�rio que criticou o controle ao d�lar", informou a r�dio Cadena 3, da prov�ncia de C�rdoba.

Deputados da oposi��o e representantes das imobili�rias declararam "solidariedade" ao empres�rio acusado e sua imobili�ria foi suspensa por falta de pagamento de impostos, segundo a imprensa local.

Em um comunicado, a Adepa (Associa��o de Entidades Periodistas Argentinas, que re�ne as empresas de jornais) disse que "o exerc�cio da liberdade de express�o est� sujeito � repres�lia estatal com fim de estigmatizar e silenciar, o que est� cada vez mais frequente".

Na semana passada, Cristina sugeriu que um jornalista de economia do Clarin tinha publicado que o presidente da YPF teria amea�ado renunciar, mas a informa��o n�o era verdadeira e estaria ligada, de acordo com a presidente, ao fato de familiares do jornalista terem tido contratos suspeitos suspensos pela empresa.

Cristina disse que deveria ser criada "uma lei de �tica p�blica" para os jornalistas. Ela afirmou que usa as redes nacionais porque de outra forma "ningu�m saberia" o que ocorre.

Medi��o
O novo estilo de Cristina j� foi comparado ao do presidente da Venezuela, Hugo Ch�vez. Segundo c�lculos da ONG venezuelana "Monitoreo Ciudadano", que criou o "cadenometro" (forma de medir as cadeias nacionais), Ch�vez teria realizado mais de 50 redes nacionais este ano.

As cadeias nacionais s�o frequentes tamb�m no Equador e na Col�mbia e, em menor medida, no Chile e no Brasil, no governo da presidente Dilma Rousseff. Num dos mais recentes, no dia das m�es, a presidente lan�ou o programa "Brasil carinhoso".

Nos primeiros oito meses deste ano, Cristina realizou 13 discursos em redes nacionais, superando os cerca de 11 convocados em 2010 e em 2011.

O cientista pol�tico Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, disse que Cristina "n�o est� imitando o Al� Presidente, de Hugo Ch�vez", mas ressalvou: "� medida que o modelo cristinista se parece mais ao modelo de Ch�vez, a forma com a qual se comunicam tamb�m se parece, e essa semelhan�a aumentou nos �ltimos meses", disse.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir