Categoria Geral  Noticia Atualizada em 10-03-2013

Ideal é embalsamar corpo em até 12 horas após a morte, diz especialista
Ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez deve ser "eternizado" por técnica. Saiba como o processo é feito e em quais personalidades foi aplicado.
Ideal é embalsamar corpo em até 12 horas após a morte, diz especialista
Foto: g1.globo.com

O embalsamamento para conservação de um corpo deve ocorrer preferencialmente nas primeiras 12 horas após a morte de uma pessoa, segundo o especialista nessa técnica Cirino Otávio dos Santos, que atua há 13 anos na área, no Rio de Janeiro.

"Passadas 24 horas, o sangue coagula e fica problemático injetar o líquido (formol) que precisa penetrar nas artérias", explica.

Nesta quinta-feira (7), o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que o corpo do ex-presidente Hugo Chávez será embalsamado. Ele morreu na terça-feira (5) aos 58 anos, vítima de um câncer na região pélvica.

"Assim como está Ho Chi Min (revolucionário do Vietnã), como está Lênin (fundador da antiga União Soviética), como está Mao Tsé-Tung (líder comunista da Revolução Chinesa), ficará o corpo do nosso comandante em chefe embalsamado no Museu da Revolução de maneira especial para que possa estar em uma urna de cristal e nosso povo possa tê-lo para sempre", informou Maduro.

O ex-ditador da Coreia do Norte Kim Jong-il também está exposto em um memorial na capital Pyongyang desde dezembro de 2011, logo após a morte dele, no dia 17.

Outras personalidades também já foram embalsamadas, para depois serem enterradas, como o ex-presidente americano Abraham Lincoln, a ex-primeira-dama da Argentina Evita Perón, a princesa Diana e os Papas Pio X, Pio XII e João XXIII.

Segundo o auxiliar de necropsia e embalsamador Airton Lima, que está no ramo há 33 anos e há 12 administra uma empresa especializada em Guarulhos, na Grande São Paulo, o caso de Chávez pode ser mais problemático para ser submetido ao processo, pois ele já teria entrado em decomposição.

"Será que fizeram o embalsamamento na hora ou vão deixar para depois? É preciso levar em conta que ele estava doente, internado, recebendo soro, e depois ainda foi feita uma procissão (por Caracas), no calor. O corpo de Chávez pode levar três ou quatro dias para aceitar o líquido injetado. Cada caso é um caso, mas o certo é fazer o tratamento assim que a pessoa morre e passa pelo IML (Instituto Médico Legal)", diz Lima.

O especialista explica que, no caso de Chávez, que ficará exposto publicamente, seria possível reverter o inchaço corporal decorrente do tratamento contra o câncer. As técnicas usadas e a refrigeração são capazes de fazer as células "murcharem" e voltarem ao normal, segundo Lima.

Já a redoma a vácuo em que os mortos famosos são mantidos serve para "eternizar" a pessoa, pois a ausência de oxigênio faz com que bactérias, fungos e vírus não se proliferem e, portanto, não deteriorem o corpo.

Como é feito o embalsamamento
Um embalsamamento exige que o corpo esteja inteiro e, em condições ideais, leva de 6 a 12 horas para ser concluído, explica Lima. O especialista Cirino dos Santos complementa que, se o organismo não aceitar bem a técnica, por problemas como artérias obstruídas, o processo todo pode durar dias ou até duas semanas.

O primeiro passo é a retirada da roupa e a lavagem do corpo, com água e sabão. Então é introduzida uma solução química contendo formol e outras substâncias, por meio de uma espécie de sonda, chamada de bomba injetora, na artéria femoral ou carótida. Esse líquido permanece no corpo de 20 a 45 minutos e coagula o sangue, que é drenado – entre 60% e 70% do total. Assim, os órgãos ficam "emborrachados" e duros, o que os mantém preservados.

"Esse líquido conservante é também um bactericida muito potente, que mata todos os micro-organismos e previne o mau cheiro", explica Santos. Segundo ele, nenhum órgão é retirado, como faziam as mumificações do Antigo Egito. Caso algo precise ser removido, deve ser colocado no formol e depois armazenado novamente no lugar.

"Hoje em dia, não se pode jogar mais nada fora, pois pode haver algum processo judicial sobre a morte. Às vezes, abrimos o corpo quando há excesso de líquido, mas deixamos tudo como estava e fechamos", afirma Santos.

Entre os materiais metálicos usados no embalsamamento, estão faca, pinça e agulha para costurar os pontos. Em seguida, é lavado o cabelo, feita a barba (se for homem), passada vaselina no rosto para não ressecar e iniciada a maquiagem – em geral, o próprio embalsamador cuida de todo o resto da preparação para o velório e o enterro. Se houver um intervalo grande entre esse processo e a exposição do morto, o corpo é refrigerado novamente, antes de ser maquiado e vestido.

A técnica pode ser aplicada tanto em morte natural quanto violenta, diz Lima. Quando há perfurações por arma de fogo, por exemplo, é introduzida uma cera para tornar o rosto mais uniforme e apresentável. Já quando o método ocorre após uma morte natural, sem passar por uma necropsia no IML, o embalsamamento é chamado de tanatopraxia.

Viagens aéreas e velórios longos
Os pedidos das famílias para embalsamar um parente ocorrem, em geral, quando o corpo precisa ser transportado de avião para outro estado ou país, ou ainda quando o velório será longo, com dias de exibição pública.

Para voos nacionais, o embalsamamento é feito para durar pelo menos 72 horas. Já para viagens internacionais, pode suportar meses ou até anos.

Segundo Santos, embalsamar um corpo apenas para ser velado custa entre R$ 300 e R$ 600; para fazer um voo nacional sai entre R$ 800 e R$ 1.200; e para um voo internacional fica de R$ 1.500 a R$ 2.000. Já um caso de avançado estágio de decomposição, em que é necessário fazer o que os técnicos chamam de mumificação, custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. Lima complementa que, para um corpo durar a vida toda, o preço não sai por menos de R$ 3.500.

O embalsamador de Guarulhos conta que já preparou o corpo de personalidades que precisaram ser transportadas para outra cidade após a morte ou veladas por muito tempo, como o ex-vice-presidente José Alencar, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, os atores Nair Bello e Paulo Autran, o ex-senador e ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães, o ex-prefeito de Santo André Celso Daniel e vítimas brasileiras e estrangeiras de acidentes aéreos como o voo 447 da Air France em 2009, o 3034 da TAM em 2007 e o 1907 da Gol em 2006.

"Se a pessoa tinha alguma doença infectocontagiosa, é possível embalsamá-la, mas não transportá-la por via aérea", diz Lima. Segundo ele, nesse caso, a orientação sanitária brasileira é fazer a cremação.

Em casos de morte violenta, como atropelamento ou incêndio, é possível tentar reconstruir o rosto da pessoa por meio de uma foto cedida pela família, destaca Lima. A técnica serve também para amenizar a dor do choque das pessoas próximas, segundo o especialista.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir