Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 11-03-2013

A ORGANIZAÇíO MUNDIAL DO BANHEIRO
A Organização das Nações Unidas todo mundo conhece. Da Organização Mundial do Comércio todos nós já ouvimos falar.
A ORGANIZAÇíO MUNDIAL DO BANHEIRO

A Organização das Nações Unidas todo mundo conhece. Da Organização Mundial do Comércio todos nós já ouvimos falar. Mas e a Organização Mundial do Banheiro? Para a maioria dos brasileiros, trata-se de uma ilustre desconhecida. No entanto ela existe desde 2001, quando foi criada por representantes de 190 organizações de 56 países reunidos em um evento sobre saneamento básico ocorrido em Cingapura.

A missão da Organização Mundial do Banheiro, como não poderia deixar de ser, é promover a construção de banheiros pelo mundo afora. Um objetivo básico demais? Pense duas vezes, e dedique-se a uma pequena pesquisa.

Comece pelos lixeiros que todos os dias percorrem nossas cidades. Há algum banheiro para eles pelas ruas? Em seguida, pergunte aos motoristas de táxi se perto dos pontos nos quais eles trabalham existe algum banheiro. Faça a mesma pergunta aos ambulantes, aos carteiros, aos policiais encarregados do policiamento ostensivo de nossas cidades, aos operários que trabalham nas obras públicas e até aos mendigos. De todos eles a resposta ouvida será um sonoro e muito doído "não".

Em seguida, procure saber quantas pessoas no mundo sofrem com o problema da falta de banheiros. O número irá assustá-lo: são 2,5 bilhões de pessoas! Dá umas 13 vezes toda a população brasileira. Sim, este é o número de seres humanos que, em pleno século XXI, não tem acesso a um simples banheiro.

Procure, então, informar-se acerca das consequências deste problema, e novamente fique impressionado: a cada ano, por causa da falta de banheiros, 200 milhões de toneladas de urina e fezes são despejadas sem qualquer tratamento no ambiente, semeando doenças e epidemias de resultados gravíssimos.

Vamos a um exemplo: no Brasil morrem, a cada dia, 20 crianças em função de doenças causadas pela falta de saneamento básico adequado. Isto dá umas 600 crianças mortas por mês, ou mais do que dois aviões do tipo Airbus A-330 lotados! Este horror acontece todos os meses, silenciosamente, diante dos filhos de um Brasil que gasta bilhões de Reais com propagandas oficiais, festas, homenagens, solenidades e outras despesas absolutamente supérfluas.

Mas deixemos as estatísticas para lá. Que tal uma consequência mais "concreta"? Bahia, um passo à frente: "Xixi de baiano ameaça derrubar viaduto. Colunas de sustentação dos dois principais viadutos de Salvador estão com suas estruturas condenadas. O mau hábito de urinar nas ruas chega a ser um absurdo em Salvador. Muitas passarelas e os principais viadutos da capital estão com as estruturas condenadas por causa do excesso de ácido úrico. O concreto virou pó, os ferros estão à mostra e retorcidos, o estrago é grande. A culpa, acredite, é do xixi".

E prossegue a notícia: "Os dois viadutos mais movimentados da cidade foram interditados ontem, porque as colunas que os sustentam estão corroídas. E a prova de que o culpado é mesmo o xixi é que apenas as bases das colunas foram afetadas. A situação se repete nas estruturas de sustentação de diversas passarelas espalhadas pela cidade. Há pouco mais de um ano a queda de uma das arquibancadas do Estádio da Fonte Nova revelou a gravidade do problema".

Entrevistado, o engenheiro responsável pela recuperação de um dado viaduto disse que os danos provocados pela urina custarão, apenas ali, R$ 500 mil aos cofres do município. Quantos banheiros públicos daria para construir com este dinheiro? E considere que a questão econômica não é a única envolvida: há também o aspecto do nível civilizacional do nosso país e o da proteção da dignidade da pessoa humana – e, convenhamos, não há dinheiro que pague isso!

Talvez, diante deste quadro, seja oportuna uma reflexão um pouco mais profunda. Que humanidade é essa, afinal, que gasta tantas fortunas com supérfluos e precisa de uma Organização Mundial do Banheiro para defender aquele semelhante nosso que está ali na rua, sob as nossas vistas, fazendo suas necessidades atrás de um muro ou de um poste, se degradando e degradando um pouco cada um de nós?

Sobre esta humanidade, nunca tão próprias as palavras de Mark Twain: "o homem é o único animal que se envergonha. E o único que tem motivos para isso".

Fonte: O Autor
 
Por:  Pedro Valls Feu Rosa    |      Imprimir