Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 27-04-2013

PORQUE SAÍ
Fazer um retrospecto desse tempo a frente da secretaria da saúde de Marataízes é dizer que consegui enfrentar períodos muito difíceis.
PORQUE SAÍ

O convite do prefeito veio quando o vereador Carlos da Marinha, então secretário de saúde, saiu para candidatar-se. Período conturbado o pré-eleitoral, onde a quantidade de pedidos de consultas, exames e remédios cresce de forma assombrosa, afinal, como se sabe, a saúde é máquina de voto.

Eu não determinei dia para atendimento ao público, fazia isso todos os dias quando não tinha outras agendas. Mas já senti insatisfação por parte dos outros candidatos a vereador, que achavam que por eu ser a secretária, daria prioridade aos pedidos de Carlos da Marinha. Qualquer um pensaria dessa forma. Só que não foi dessa forma, e todos os servidores da AMA, consórcio, farmácia, podem declarar isto em alto e bom tom.

Optei por dirigir o carro da secretaria para deixar mais motoristas à disposição. Após a eleição, como minha grande amiga Cida, empregada há vinte anos em minha casa, estava em estágio terminal de câncer, solicitei ao prefeito a minha saída para ficar dando o apoio necessário, pois a família dela reside no município de Montanha. Carlos da Marinha retornou a secretaria de saúde até o fim de 2012. Novamente, a pedido do prefeito, assumi a secretaria de saúde, abandonando a minha profissão de psicóloga e me dedicando integralmente ao trabalho, de sete da manhã a sete da noite.

Começo do ano de 2013, todos os processos teriam que ser refeitos, desde material de limpeza, remédios, material clínico cirúrgico para o PAM, peças de carros, combustível, material de expediente, enfim, todo o necessário para o bom andamento da secretaria. O grande equívoco é que as pessoas acham que o secretário é o responsável direto por licitar, empenhar e comprar. O secretário emite o pedido e o processo corre dentro da prefeitura, sendo cada setor responsável por um pedaço desse processo, até o material chegar.

Então, quando falta remédio, gasolina para os carros, bloco de receituário, as pessoas pensam que o secretário é um incompetente, um irresponsável e a crítica é furiosa. Isso sem falar no fogo amigo, pessoas que trabalham na mesma administração, mas que não gostam da sua forma de trabalhar, e acabam por ajudar a criticar. E muitas vezes os processos estão parados nas mãos dessas pessoas que poderiam ajudar, mas deixam de lado como uma forma de retaliação ou até mesmo por desleixo. O prefeito, em várias reuniões com o secretariado, pediu que a saúde fosse olhada de forma especial, mas eu não senti isso durante o tempo em que lá estive. A primeira medicação do ano de 2013 começou a chegar agora, no mês de abril. Isso sem contar com o estoque muito baixo do período pós- eleitoral de 2012. Portanto, são quase seis meses com uma falta significativa de medicação, o que causa uma insatisfação enorme na população, e com toda razão.

Outro problema crônico é a irresponsabilidade de muitos médicos, que chegam em seus plantões com duas ou mais horas de atraso, isto quando não comparecem e nem dão satisfação. Apresentam atestado de um colega e o salário está garantido integralmente no fim do mês. O medico das estratégias de saúde da família que deveria cumprir oito horas de serviço, em sua maioria não o faz, o que sobrecarrega o atendimento do PAM. O PAM era para ser um local de atendimento de urgência e emergência, mas virou um grande ambulatório. Ainda bem que a administração repassa 90 mil mensais para manutenção do pronto socorro do Hospital Santa Helena que fica a apenas 500 metros e que pode dar socorro quando falta médico no PAM.

Outro ponto de atrito foi minha ida a Câmara Municipal , quando usei da tribuna, para falar aos vereadores sobre a dinâmica da saúde, orientar que para consultar no CEMM tem que ser com indicação de uma estratégia de saúde da família ou de um postinho, que para determinado exame tem que levar um laudo específico. Na minha fala, solicitei que eles não fossem até a AMA e passassem na frente dos usuários, que eles ficassem na fila como todo mundo, ou me entregassem o pedido que eu agendaria no final do dia diretamente com a coordenadora. Isso foi encarado como um abuso. E como meu marido é vereador, começou a causar desconforto para ele e por consequência para mim. Até porque os vereadores continuavam achando que o vereador Carlos da Marinha tinha regalias na secretaria de saúde. Então, tanto os vereadores de oposição como os "da casa" não viam com bons olhos o meu nome como secretária de saúde. Na verdade, não gostavam do meu jeito de fazer as coisas. Vereador quer ser atendido em tudo, senão vai chorar no colo do prefeito e pedir a cabeça do secretário. E como o prefeito precisa ter maioria na Câmara, o negócio é ir fazendo as vontades para não perder a "governabilidade".

Outra batalha foi o processo seletivo simplificado da saúde, que tivemos que interromper por um período, devido a inúmeros certificados falsos que foram apresentados. O caso está sendo apurado pela polícia e pela promotoria pública e um novo processo seletivo vai ser realizado.

Outro ponto desgastante são os mandados judiciais. Não importa se a União, o Estado e o Município são entes solidários na realização da saúde. Tudo termina no município, está mais próximo, é mais fácil. O município de Marataízes tem gasto muito do seu orçamento com demandas que não são de sua responsabilidade, e sim do Estado. Internação de dependente químico, leito de UTI, remédios de alto custo, cirurgias de média e alta complexidade, são de competência do Estado. Mas tudo isso pára na mesa do secretário e do prefeito. Determina-se e cumpra-se. Numa audiência com uma determinada juíza do município ela me perguntou se eu sabia que poderia ser presa ? Aí você se pergunta: O que ela sabe a meu respeito, da minha probidade, meu caráter, minha lisura na condução do meu trabalho? Será que toda pessoa que ocupa cargo público, a priori, já está condenada por omissão, desleixo ou algo pior?

Por sua complexidade e importância, entendo que a secretaria de saúde deveria ser independente, ou seja, todos os processos acontecerem no âmbito da secretaria. Isso daria maior agilidade e o secretário não ficaria a mercê de esperar por outros setores tão sobrecarregados e que muitas vezes não podem agir com a rapidez que a saúde exige.

Sei que desagradei a alguns, cortei ponto, abri processos administrativos para apurar irregularidades no trabalho, coloquei funcionários à disposição por indisciplina, enfim, fiz o que era imperioso fazer. Mas sei que agradei a muitos, fiz amigos, deixei uma marca. E nessa despedida não poderia deixar de citar Cecília Meireles "Deixo aqui meu corpo entre o sol e a terra, beijo-te , corpo meu, todo desilusão ! Estandarte triste de uma estranha guerra...quero solidão."

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Ivilisi Soares Azevedo    |      Imprimir