Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-05-2013

Ato na USP reúne alunas de gravata, rapazes de top e "pebolim de saias"
Evento "USP de saia", nesta quinta, teve 3 mil adesões no Facebook. Ideia do "saiaço" é refletir sobre padrões e preconceito, dizem estudantes.
Ato na USP reúne alunas de gravata, rapazes de top e
Foto: g1.globo.com

Estudantes da Universidade de São Paulo promoveram nesta quinta-feira (16) o ato "USP de saia" em apoio ao estudante Vitor Pereira, que foi ofendido pela internet depois de vestir saia para ir à aula no campus da USP na Zona Leste. Pelas ruas do campus da Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, foi possível encontrar homens usando saia, top e até vestido e mulheres de gravata. Teve até "pebolim de saias". O ato também teve adesão nos outros campi da USP, como o da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, USP Leste, Ribeirão Preto e São Carlos.

Pelo Facebook, mais de 3 mil pessoas confirmaram presença no "saiaço". Cinco campi da instituição aderiram à manifestação simultânea, que dura o dia todo e será finalizado às 18h desta quinta: Cidade Universitária, São Francisco e Leste (na capital), São Carlos e Ribeirão Preto. Mas o "saiaço" também saiu das fronteiras do estado. Estudantes da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) também planejam uma manifestação semelhante nesta quinta. Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o preconceito será debatido na sexta-feira (17), quando se celebrar o Dia Mundial de Combate à Homofobia.

As organizadoras e organizadores do evento na USP afirmaram ao G1 que "esse tipo de movimento já vinha timidamente acontecendo" na instituição. Os estudantes da USP se reúnem em grupos específicos, como a Frente GLBTT, que debatem diversos temas e propõem ações para incentivar a reflexão. De acordo com o grupo por trás da manifestação, "o caso do estudante da EACH foi apenas um dos muitos atos de repressão impostos àqueles que desejam quebrar padrões". Segundo eles, o objetivo é fomentar uma discussão ampla sobre as questões de gênero, não só em relação às roupas, mas aos papeis sociais atribuídos aos gêneros como um todo.
"Nossa ideia é confrontar a realidade, mostrar que as coisas podem ser diferentes, nenhum padrão é eterno. Os costumes são adquiridos social e historicamente, assim eles se transformam. Na idade média uma mulher que usasse roupas de homem seria condenada à morte, era uma heresia gravíssima."

No campus Butantã, o "saiaço" dura todo o dia: os alunos homens foram convidados a vestir saias e vestidos, enquanto as mulheres participantes planejaram vestir roupas convencionalmente atribuídas aos homens, como paletó e gravata. O evento será encerrado com um encontro às 18h desta quinta na Praça do Relógio da Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, no período de intervalo entre os aluns que têm aulas à tarde e os que estudam à noite.

Olhares ostensivos
Os alunos de publicidade Daniel Drumond, de 19 anos, e Pedro Bisordi, de 18, jogaram pebolim de saias no início da tarde. Daniel afirmou que é a sua primeira vez com saia. "Acho que estou muito bonito, porque estava todo mundo me olhando de cima a baixo", afirmou ele sobre sua visita ao restaurante universitário.
O estudante disse que se incomodou com os olhares ostensivos. Ele emprestou a saia de uma colega após a aula, na manhã desta quinta-feira. No banheiro, ele diz que um funcionário da instituição o olhou de maneira reprovadora. Um dos primeiros a chegar ao restaurante, ele acabou virando alvo de algumas risadas e chacotas e, em determinado momento, parou de cruzar os olhos com as outras pessoas. "Só fiquei de boa porque estava com os meus amigos."

Os estudantes de artes cênicas Pedro Oliveira, de 20 anos, e Felipe Lima, de 22, esqueceram que hoje era o dia de saia na USP. Felipe, porém, decidiu pegar a saia que a colega Juliana Prado, de 20 anos, trouxe para um ensaio. "Dá uma ventilada, é muito gostoso", disse ele.
Assim como Felipe, a maioria dos meninos emprestaram a peça de roypa de alguma colega. Yasmin conta que seu pai lhe emprestou a gravata, já com o nó feito, para o ato desta quinta.
Leonardo Rudi, aluno de relações públicas que vestiu uma saia azul emprestada de uma amiga, conhece o estudante Vitor Pereira, da USP Leste, e condenou as ofensas recebidas por ele. O aluno defende que a universidade tem que ter um papel transgressor. "É o papel mais importante dela", afirmou ele.
Os organizadores do evento defendem que "é função dos universitários que detêm o privilégio de estudar em uma universidade pública não apenas estudar, ganhar seu próprio diploma e fazer uma carreira",. "O alto custo da universidade pública só é justificado por esse retorno que esses estudantes dão à sociedade. Se é uma questão que se mostra importante de ser discutida e alvo de preconceitos, como os estereótipos de gênero, a universidade é o lugar ideal (embora não o único) para esse debate se iniciar."

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir