Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 28-05-2013

“A OCASIíO FAZ O FURTO; O LADRíO JÁ NASCE FEITO”
Minha frase-título foi tomada emprestada do genial Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908), nosso escritor maior.
“A OCASIíO FAZ O FURTO; O LADRíO JÁ NASCE FEITO”

Encontrei-a na leitura do seu romance, "Esaú e Jacó". Ele a colocou na boca do conselheiro Aires, lá pelo capítulo LXXV. É a ideia de que o velho ditado "O ocasião faz o ladrão" deveria ser corrigido. No contexto, refere-se a um homem – Nóbrega -, que recebe donativos para encaminhá-los e não resiste em desviar para o próprio bolso a melhor parte desse dinheiro. E não consegue parar nesta prática desonesta. Dois mil-réis aqui, dois mil-réis ali... A fortuna dobrou, redobrou e tresdobrou para usar a expressão do autor.

À primeira vista é o espanto. A gente está acostumado com a veracidade do antigo adágio. Quem não conhece pessoas tidas como íntegras aos olhos de tantos e, de repente, são flagradas numa situação em que têm que responder por falcatruas na empresa onde trabalham, pequenos furtos em supermercados, subtração de valores por ocasião de visitas a parentes e/ou amigos, livros emprestados jamais devolvidos... Enfim, ene casos. E em alguns deles o gatuno se diz cristão e até evangélico! O objeto do desejo está ali, ao alcance da mão, não há proximidade de um ser vivente. Ninguém está vendo (Nessas horas ele esquece que "os olhos de Senhor estão em todo lugar" ). Quem vai desconfiar de mim? Pronto. Que ocasião perfeita!

Estaria, pois, exagerando o Bruxo do Cosme Velho? Ou estaria apenas antecipando o que a renomada psiquiatra Ana Beatriz Barbosa escreveu no seu livro "Mentes Perigosas: o Psicopata Mora ao Lado" (2008), a respeito dos psicopatas? Para alguns a psiquiatra, - ela mesma, posteriormente acusada de ter copiado (furtado) em alguns de seus livros trechos de outros autores -, extrapola quando afirma que não há terapia eficaz para um psicopata. Na entrevista concedida a Patrícia Travassos (YOUTUBE), perguntada sobre isso ela foi categórica: "Até o início do século passado era certo que o ser humano nascia bom e ao ser educado diante de valores, ele podia ficar, continuar sendo bom ou ele podia se perder, ir para o lado da maldade... Hoje a gente sabe que não é bem assim. Porque se detectou que esse sistema, esse senso ético e moral do ser humano, vem no DNA, quer dizer: a gente vem com ele de fábrica. Isso quer dizer que tem um componente genético..." E ela identifica os tais psicopatas especialmente ocupando posições de liderança na política. No mundo corporativo em geral.

Neste caso, guardando as proporções, o "já nasce feito" de Machado de Assis equivale ao "está presente no DNA" de Ana Beatriz Barbosa. A proposição é a mesma; apenas difere da época em que foi enunciada. E aí? Eles estão certos? Eles estão errados? Reconheçamos a polêmica.

A bem da verdade, no campo teológico já houve uma acirrada discussão sobre esta questão. Se entre os meus seis leitores houver algum teólogo, certamente vai se lembrar, como me lembrei, de ‘"Pelágio contra Agostinho". Século V por aí. Aquele dizia ser a natureza humana "inalteravelmente boa" e este afirmava o contrário: o homem é por natureza mau, perverso desde o Éden. Essa discussão rendeu. Um filósofo – Rousseau (1712-1778) – certamente foi um tanto pelagiano quando instituiu o seu mais conhecido pensamento antropológico no qual defende a pureza do homem que se contamina em contato com a sociedade. A ideia de Rousseau é muito discutível.

E aí? A ocasião faz o ladrão ou o ladrão já nasce feito?

Vou fechar a minha página resumindo o que os cristãos creem sobre este assunto. Apegamo-nos ao Novo Testamento: o ser humano adquiriu uma natureza manchada. ("Todos pecaram..."). Entretanto, o Criador não deixou o homem num redemoinho de perdição. A Graça - favor imerecido - , vem em socorro do homem ("Pela graça sois salvos..). A solução se torna real e acessível quando Deus, por sua própria iniciativa, oferece Seu Filho - Cordeiro sem mancha - para ser sacrificado como expiação da culpa, e o homem crê, (".Por meio da fé...") que esse plano elaborado por Deus é único e satisfatório. E mais:é presente de Deus.("...é dom de Deus, não vem das obras...") Presente é presente. Rejeitar é orgulho; decidir pagar é afronta.

Enfim, nasce feito; mas pode nascer de novo! Milagres existem

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir