Categoria Geral  Noticia Atualizada em 26-07-2013

Argentina perde León Ferrari, um irreverente e brilhante artista plástico
A Argentina perdeu León Ferrari, reconhecido no mundo por sua atitude irreverente e por suas denúncias contra o poder e a intolerância, e protagonista de uma famosa polêmica com o ex-arcebispo de Buenos Aires, o atual papa Francisco.
Argentina perde León Ferrari, um irreverente e brilhante artista plástico
Foto: AFP

A Argentina perdeu nesta quinta um de seus mais famosos artistas plásticos, León Ferrari, reconhecido no mundo todo por sua atitude irreverente e por suas denúncias contra o poder e a intolerância, e protagonista de uma famosa polêmica com o ex-arcebispo de Buenos Aires, o atual papa Francisco.

León Ferrari, que morreu hoje em Buenos Aires, aos 92 anos, expôs suas obras em alguns dos mais importantes museus do mundo.

Em sua longa e prolífica carreira provou disciplinas muito diferentes e realizou colagens e ilustrações da Bíblia, nos quais misturou a iconografia católica e a erótica oriental com imagens contemporâneas.

Na memória dos argentinos fica a famosa polêmica que protagonizou em 2004 com o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, hoje papa Francisco, por causa de uma exposição retrospectiva que a Igreja Católica argentina atacou com dureza e considerou como "blasfema".

"É uma blasfêmia e um ataque aos valores religiosos e morais dos argentinos", disse Bergoglio, em protesto por algumas das peças da mostra, como uma pintura de um Cristo sobre um bombardeiro americano, virgens em garrafas de vidro, uma imagem da cantora Madonna nua em frente ao papa João Paulo II e frascos com preservativos pintados com a imagem do sumo pontífice.

Ferrari respondeu ao então arcebispo e atacou a igreja pelos "delitos que cometeu na Argentina e em outras partes", embora finalmente a exposição tenha sido encerrada antes do tempo após vários ataques violentos à obra do artista.

Quatro anos antes, em 2000, a exposição "Infernos e idolatrias contra as torturas humanas e divinas", no Instituto de Cooperação Ibero-Americana, também tinha gerado polêmica com a igreja e os grupos católicos.

Em 2007, foi agraciado com o "Leão de Ouro" na Bienal de Arte de Veneza, e em 2010 com o Prêmio ao Melhor Artista Internacional vivo pelo conjunto de sua obra apresentada na feira de arte contemporânea de Madri ARCO.

No ano passado recebeu o prêmio Konex de Brilhante, um dos mais importantes das artes na Argentina.

Nascido em 1920 em Buenos Aires, herdou o gosto pela arte de seu pai, um artista italiano que se radicou na Argentina e trabalhou na reforma de várias igrejas locais.

Embora não tenha seguido a carreira de Belas Artes, absorveu as técnicas de escultura e cerâmica durante uma viagem à Itália realizada no começo dos anos 50 e foi aprofundando nas diferentes disciplinas em viagens sucessivas.

Entre suas obras mais reconhecidas estão, "Homenaje a Vietnam" (1966), "Palabras ajenas" (1966), "Tucumán arde" (1968) y "Malvenido Rockefeller" (1969).

Em 1976, após o triunfo da ditadura militar argentina, se exilou no Brasil e publicou "Nosotros no sabíamos", uma coletânea de notícias sobre a repressão do regime.

No Brasil, Ferrari ficou sabendo do desaparecimento de seu filho Ariel, que tinha ficado na Argentina.

Retornou a Buenos Aires em 1991 e em 1996 ilustrou uma reedição do relatório "Nunca Más", sobre os crimes da ditadura.

Sua obra foi exposta em alguns dos mais importantes museus do mundo, desde o MOMA de Nova York, o Museu Rainha Sofía de Madri e a Pinacoteca de São Paulo.

Políticos e artistas argentinos se despediram de Ferrari nas redes sociais e destacaram seu papel transgressor e comprometido.

"Aos 92 anos morreu hoje na Cidade o famoso León Ferrari, a quem lembraremos sempre por suas controvertidas obras", assinalou a secretaria de Cultura do Governo da cidade de Buenos Aires em seu site oficial.

Fonte: noticias.terra.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir