Categoria Geral  Noticia Atualizada em 27-07-2013

O Papa no Brasil: “Saiam às ruas!”
O primeiro desfile do Papa, do aeroporto ao Palácio Guanabara, foi apoteótico. No Palácio, as coisas foram protocolares, o Papa se apresentando com uma mensagem religiosa e a Presidente Dilma num viés político inapropriado para o momento de boas vindas.
O Papa no Brasil: “Saiam às ruas!”
Foto: tribunadonorte.com.br

Mas nas ruas, a multidão tinha um só rosto, o da alegria e emoção, e uma só voz, a da aclamação incontida. Quanta gente, e eu no meio dela! E o Papa foi passando como se estivesse chegando à sua casa. Mas quem desfilava não era só o Papa, eram os 20 séculos da Igreja, da Igreja com seus santos e mártires, com sua história retilínea e tortuosa de graça e com sua alma pecadora.

Ele, o Papa, não era, mas representava tudo isso. Nele, no entanto, se concentravam a gratidão da fé e a (in)fidelidade dos seguidores de Jesus. Todo mundo gritava e aclamava. Podia-se ouvir o clamor de 20 séculos. Foi muito bonito que arrancou lágrimas nas pessoas. A chegada do Papa foi mais do que apoteótica. Foi um encontro da fé com o reconhecimento de Cristo como Salvador. E tinha que ser como foi, em meio à alegria, pois um cristão não pode ser triste, como ele costuma dizer. Os dias que se seguiram tiveram a mesma tônica. Não falarei sobre eles, mas não deixarei de confessar que gritei muito na Avenida Chile, por onde o Papa passava sorridente.

Gostei do Papa e gostei dos jovens, gostei de todos, amei a nossa Igreja, a Igreja dos santos e dos mártires, a Igreja dos pobres, doentes e pecadores, a Igreja de Jesus Cristo. Pouco antes de me encostar nas grades da avenida, passei por um pastor, no Largo da Carioca, que concitava os passantes a se converterem. Disse amém, mas o convidei para ir conosco para ver a Igreja passar, apoteoticamente, com seu entusiasmo e sombras, na figura do Papa Francisco.

A figura do Papa

Como disse um carioca brincalhão: o Papa já fez seu primeiro milagre: fez o povo brasileiro amar um argentino humilde (este foi o segundo milagre). Brincadeiras à parte, os brasileiros encontraram uma figura sorridente, simples, humana, atenciosa, corajosa, paciente, incansável que não cansou a multidão com longos sermões. Aliás, ah!, se os padres (e os Bispos) aprendessem do Papa a falar com força e simplicidade, não mais do que 10 minutos! Mas mais do que ele disse, é preciso exaltar seus gestos e comportamentos. Não passou entre nós como Sua Santidade nem fez exigências abstrusas, como artistas, políticos e até jogadores de futebol. Passou num carro de janelas arriadas e num papa-móvel sem as laterais blindadas.

Alma franciscana, dirão alguns, mas, sem dúvida, um homem de grande espiritualidade. Fazia o carro parar, tocando as costas do motorista, para beijar crianças, abraçar velhos, trocar seu solidéu e tomar seu "mate" argentino. E não deixava de sorrir. Corajoso, não se assustou quando teve que enfrentar um engarrafamento imprevisto. Suas mensagens foram, por isso, coerentes: esperança, alegria, reafirmação dos valores perenes e éticos, exaltação dos jovens e dos velhos. Como disse um ex-padre argentino, Alejandro Liberti, "um gesto pode equivaler a 50 anos de diálogo". Não teve nenhuma palavra contra outras igrejas. Execrou apenas os ídolos do dinheiro, do poder, do prazer, do clericalismo carreirista, do fechamento sobre si mesmo e pediu: "Saiam às ruas!" Parecia ser ainda o Cardeal de Buenos Aires. Pediu à Igreja que se faça povo, que saia das sacristias e ame o cheiro das ovelhas. Possivelmente, era este o Papa que a Igreja precisava. Que Deus seja bendito, em louvor de Cristo. Amém.

Algumas ideias do Papa (expressas até sexta-feira)

"Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que, nesta hora, eu possa bater delicadamente a essa porta".

"Repitam comigo: Bote fé! Bote esperança! Bote amor!"

"Nenhum esforço de pacificação será duradouro numa sociedade que deixa à margem, que abandona, na periferia, parte de si mesma".

"Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram seu próprio benefício".

"Não existe verdadeira promoção do bem comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação: a vida, a família, a educação integral, a saúde e a segurança".

"Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que persistem. Que cada um saiba dar sua contribuição para acabar com as injustiças sociais".

"Gostaria de chamar a atenção para três simples posturas: conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver na alegria".

"É verdade que, hoje, mais ou menos todos os jovens e todas as pessoas experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer".

"É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldades e dando esperança no futuro".

"Na Cruz, Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e ministros do Evangelho".

"Os avós são importantes na vida da família para comunicar o patrimônio da humanidade e a fé que são essenciais para qualquer sociedade".

"Espero que, no final da Jornada, a consequência seja uma confusão. Quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Vamos nos defender do comodismo, do clericalismo, de ficarmos fechados em nós mesmos. A Igreja não pode converter-se numa ONG".

"Obrigado! Obrigado! Obrigado a vocês todos pela magnífica acolhida nesta maravilhosa cidade do Rio de Janeiro".

Frei Neylor, irmão menor e pecador

Fonte: www.jb.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir