Categoria Policia  Noticia Atualizada em 11-09-2013

Menino mantém em júri versão que pai ameaçou "explodir tudo", diz MP
Julgamento de pagodeiro acontece no Fórum de Guarulhos nesta quarta. Ele é acusado de matar a ex-mulher e tentar matar o filho de 6 anos.
Menino mantém em júri versão que pai ameaçou
Foto: g1.globo.com

O promotor Rodrigo Merli disse na tarde desta quarta-feira (11) que o menino Lucas, de 11 anos, manteve a versão para a morte da mãe durante o julgamento do pai, o pagodeiro Evandro Gomes Correia Filho, que acontece no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo. A criança tinha 6 anos quando a mãe Andréia Cristina Bezerra Nóbrega morreu, em 2008.

Evandro é acusado pela morte da ex-mulher e pela tentativa de homicídio do próprio filho.

Ele teve a prisão decretada em novembro daquele ano e, desde então, está foragido da Justiça. O júri acontece à revelia. A defesa dele nega o assassinato e diz que o réu pode se apresentar ainda nesta quarta-feira no fórum. A Promotoria, porém, acredita que ele só deve comparecer na sexta-feira (13), quando acontece o interrogatório do réu.

De acordo com o Ministério Público, o depoimento do menino foi suficiente para convencer os jurados. "O depoimento do Lucas foi firme e coerente. Ele contou a mesma versão que ele declinou logo após os fatos, ou seja, não mudou nada. Ele foi preciso, não se atrapalhou, não gaguejou", disse Merli durante um intervalo no julgamento.

Lucas descreveu o que aconteceu naquele dia, segundo o promotor. "Ele disse que chegou da escola com a mãe e o pai ainda não estava no apartamento. O pai chegou quando ele estava tomando banho e estava diferente de como costumava parecer, estava com os olhos vermelhos.

O Lucas tinha saído do banho, ele pegou o menino pelo braço e jogou no sofá. Pegou a faca e, apesar de o menino não ter visto [o pagodeiro cortando a mangueira do gás], lembra de ter ouvido o pai dizer que ia explodir tudo", afirmou Merli.

Ele acrescentou, ainda segundo o promotor, que a mãe, no desespero, o pegou no colo, se dirigiu até a janela, o soltou e depois pulou. Merli ressalta que a criança usou a expressão que a mãe "o salvou". O depoimento da criança foi fechado ao público por causa da idade do menino e os jornalistas não puderam acompanhar de dentro do plenário.

O advogado de Evandro, Ademar Gomes, disse que a defesa está tranquila em relação à absolvição do pagodeiro e que o depoimento do menino foi positivo para o réu.
Julgamento

O júri começou por volta das 10h40. Duas mulheres e cinco mulheres foram sorteados como jurados. O júri é presidido pela juíza Maria Gabriela Riscali Tojeira. O filho do réu foi ouvido por 40 minutos. Em seguida, foi ouvida a testemunha de acusação Eliana Curapolo, médica psiquiátrica que teve contato com os depoimentos e desenhos feitos pelo menino que estão atrelados ao processo. "Surpreendentemente, ele se expressou muito bem. Conseguiu falar logo em seguida coisas muito importantes, deixando claro para mim o que aconteceu", disse.

Alguns pareceres da defesa dizem que depoimentos de crianças são, geralmente, desprezados.

Ela discordou, dizendo que "criança não mente" e "que não pode ser totalmente influenciada por algum adulto ou familiar". "Mesmo que algum adulto fale alguma coisa, a essência não muda", afirmou. Segundo ela, o depoimento da criança foi coerente porque, logo após o ocorrido e na frente do júri o menino disse a mesma coisa.

O promotor que apresentou a denúncia é o mesmo que obteve a condenação do advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza pela morte de Mércia Nakashima.

De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, foram arroladas ao menos 20 testemunhas, sendo dez da defesa e outras dez da acusação, para serem ouvidas no júri de Evandro Filho. A expectativa é a de que o julgamento do pagodeiro dure ao menos três dias. Logo no início da sessão desta quarta, três testemunhas da acusação foram dispensadas.

A assistente administrativa Joselene Bezerra Nóbrega, 42 anos, disse que o sobrinho Lucas, de 11 anos, passou muito mal nesta manhã antes de chegar ao fórum. "Ele não está bem, está muito abalado, muito abalado mesmo", lamentou a tia da criança e irmã da vitima.

Janete disse que não ter muitas expectativas sobre a condenação do réu por causa da legislação brasileira. "É acreditar em Deus e a justiça será feita, mas a [justiça] de Deus, com certeza a de Deus". Ela conta que quando o sobrinho soube que ia depor foi um momento muito difícil porque a criança teve que rever os vídeos do que tinha acontecido.

A professora Janete Nakashima, de 54 anos, mãe de Mércia, estava no fórum nesta manhã para acompanhar o julgamento. "Vim dar um apoio à família e levar o Lucas [filho do pagodeiro] assim que ele depor, porque ele já sofreu muito e é muito triste pra ele depor contra o pai", disse Janete. O garoto ficará na casa dela durante os dias de julgamento.

Como está foragido há quase cinco anos e tem a foto estampada na lista dos 21 criminosos mais procurados da Polícia Civil de São Paulo, Evandro, se for ao fórum terá de ser preso imediatamente.

Entrevista

Em entrevista por telefone ao G1, em maio deste ano, Evandro garantiu que estaria presente ao primeiro julgamento, que havia sido marcado para dia 8 de maio, mas o júri acabou adiado pelo juiz Paulo Eduardo de Almeida Chaves Marsiglia. Ele alegou não aguentar mais viver na clandestinidade, longe da família, e que, por esse motivo, quer se apresentar para tentar provar sua inocência.

O adiamento ocorreu por causa de provas que tinham acabado de ser adicionadas ao processo, como um parecer psiquiátrico particular apresentado pela defesa que indicaria que a ex-mulher do músico, Andréia Cristina Bezerra Nóbrega, tinha tendências suicidas. Também foram juntados 15 vídeos com quatro horas de duração e mensagens de torpedos de celular recebidas pelo réu. O novo prazo foi concedido para permitir a análise mais detalhada dos novos documentos.

Na mesma entrevista de maio deste ano, Evandro negou ter provocado a morte de Andréia Cristina Bezerra Nóbrega e disse que não tentou tirar a vida do seu filho, então com 6 anos, em 18 de novembro de 2008.

A acusação, por sua vez, afirma que as vítimas pularam do terceiro andar do apartamento onde moravam porque o músico as teria ameaçado com uma faca, chegando inclusive a cortar a mangueira do gás de cozinha com o intuito de explodir o imóvel.

Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, o filho do músico deverá ser ouvido como uma das testemunhas da acusação. Durante o depoimento do menino, não será permitida a presença da imprensa e do público.

Suicídio

Evandro, que se mantém escondido e usa disfarces para não ser identificado e detido, alega em sua defesa que Andréia se suicidou. Segundo o pagodeiro, a ex tinha ciúmes dele com sua nova mulher e queria reatar o relacionamento, mas ele recusou, dizendo que havia sido pai novamente.

Sobre seu filho, não soube explicar como o garoto caiu. "Eu tinha mandado ele para o quarto. Quando ouvi o barulho da queda e fui olhar pela janela, ele também estava lá embaixo. Bateu um desespero total. A cabeça girou. Fui buscar socorro."

Quando morreu, Andréia tinha 31 anos. Ela e o filho do casal, então com 6 anos, caíram da janela do imóvel onde moravam. Na queda, a ex caiu na calçada e faleceu na hora. A criança teve fraturas, mas sobreviveu ao cair no parapeito do prédio.

Imagens de câmeras de segurança gravaram o momento em que a mulher entra com o filho no edifício. Em seguida, vem Evandro. Depois, outras cenas mostram a queda da ex e o socorro dos bombeiros à criança. Elas também registraram o instante em que o pagodeiro deixa lentamente o local, sem prestar socorro às vítimas.

"As imagens foram trocadas", alegou Evandro, que foi apontado pela polícia como o principal suspeito pela morte da ex e pela tentativa de assassinato da criança.

Omissão de socorro

Sobre a omissão de socorro, por não ter ajudado a ex e o filho quando saiu do prédio e os viu na calçada, o pagodeiro alegou que ficou com medo de ter sido linchado pelas outras pessoas na rua.

O artista afirma que havia encontrado Andréia num shopping e foi com a ex ao apartamento para visitar o filho. Mas, segundo a acusação, era o artista que tinha ciúmes de Andréia.

De acordo com o Ministério Público, o pagodeiro cortou a mangueira de gás e ameaçou a ex e o menino com uma faca quando entrou no prédio.

Logo após o crime, Josilene Nóbrega, irmã de Andréia, relatou à imprensa agressões de Evandro a Andréia. Em 2007, a ex do pagodeiro chegou a registrar boletim de ocorrência denunciando ameaças do músico desde a separação do casal. Informou que o pagodeiro iria "dar uns tiros" na cara dela.

Em 29 de setembro de 2010, durante as eleições presidências e governamentais, ele deu entrevista coletiva disfarçado com peruca, cavanhaque postiço e óculos escuros. Naquela ocasião, o pagodeiro não podia ser preso porque a lei eleitoral impede prisões de quem não tem sentença condenatória definitiva antes de pleitos.

Evandro disse que se refugiou no Nordeste para não ser preso. Nesse período, contou ter sobrevivido graças às vendas de um CD com músicas evangélicas. "Gravei um CD com pagodes, mas nem sei como estão as vendas", afirmou ele, que espera ser absolvido para retormar sua carreira musical. "Estou precisando trabalhar. Um homem parado vira lixo, não é ninguém."

Antes de ser preso, Evandro havia tentado seguir trabalhando como cantor, gravou CD e se apresentou em programas de auditórios.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir