Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 13-11-2013

“LIQUINHO DE PALMITAL”
Na sala de aula, o vibracall me diz que tem alguém na linha. Atendo, falando rápido, comunicando que ligaria depois. Minha comunicação foi imperfeita e o vibracall voltou a acusar.
“LIQUINHO DE PALMITAL”

Na sala de aula, o vibracall me diz que tem alguém na linha. Atendo, falando rápido, comunicando que ligaria depois. Minha comunicação foi imperfeita e o vibracall voltou a acusar. Optei por desligar o celular, o que deveria ter feito antes do início da aula. Dou a mão à palmatória.

No intervalo, calmamente, liguei para o número resgistrado, sem saber com quem falaria. Do outro lado estava Dona Ila, esposa do "mais-chegado-que-um-irmão" Frederico, conhecido em Palmital, região onde mora há pelo menos meio século, como "Seo Liquinho". Conhecemo-nos há cerca de quinze anos; convivemos durante, pelo menos, cinco. À época, como um dos líderes religiosos da comunidade, encontrava-me com o casal pelo menos duas vezes ao mês. Mudei de cidade e passamos a nos ver, só esporadicamente. Um casal de quem não se esquece! Como diria o goiano: "Gente boa absurdo!" Homem íntegro, "Liquinho" goza de uma respeitabilibade na região, como poucos...

Quando nos separamos, nem eles nem eu tínhamos celulares. Poucos possuiam esse bem de consumo que ainda não se tornara um hábito, como atualmente o é. E mesmo assim, o uso desse aparelho entre nós é quase zero. Daí o espanto, quando ouvi a voz do outro lado anunciando-se. Ouvir aquela voz me fez sentir tão bem que, por um momento, me acometeu uma profunda sensação de culpa por ter desligado de forma tão brusca, na primeira chamada.

Dona Ila estava a me fazer um convite irrecusável: seu marido "Liquinho", aniversariante do mês, escolhera uma data para festejar, e estava contando com a minha presença na festa. O evento seria dali a duas semanas. Quer dizer: tempo para planejar não me seria problema. Seria o responsável pela palavra principal da noite e isso me fez sentir deveras honrado. Confirmei presença.

Chegou o tão esperado dia. Discurso preparado, e lá vou eu, rumo a Palmital, fazendo um percurso que há mais de quinze anos não fazia. Encontrei estradas asfaltadas em alguns trechos, ruas iluminadas onde outrora não havia eletricidade, residências construídas com um pouquinho mais de esmero... Progresso não faz mal a ninguém, não é verdade? Mas o que eu temia aconteceu: fiquei desorientado. Precisei de ajuda para não ficar perdido numa região por onde circulei por quase cinco anos... Felizmente, não tive que fazê-los esperar... Que momentos bons passados ali! Desfrutei ao máximo. Se querem saber, fui um dos últimos a deixar o local...

Meu amigo "Liquinho" está invejavelmente vigoroso nos seus oitenta e cinco anos. Exibindo excelente saúde e uma contagiante alegria... E, naturalmente, cercado de amigos, pessoas que foram conquistadas através da sua indiscutível simpatia, aliada a um senso de lealdade encontradiço, hoje, em poucos, infelizmente. O quintal de sua residência, onde algumas bancadas foram acondicionadas, estava apinhado de pessoas simples como ele. Todas sorridentes, felizes por estarem ali, homenageando ao ilustre e querido aniversariante. Um detalhe fazia o rosto de "Liquinho" brilhar de forma especial: seus filhos – três mulheres e quatro homens - estavam presentes, com seus respectivos cônjuges, netos e bisnetos. Ao final da cerimônia, como já é de praxe, a palavra foi concedida ao dono da festa. Liquinho é um orador nato. Vendo-o de microfone na mão, discursando, tem-se a nítida impressão de estar diante de um acadêmico. Seu cuidado com o vernáculo, sua postura, seu timbre de voz, enfim, sua oratória, não fica a dever aos melhores que já ouvi. É impressionante o dom da palavra que possui um homem sem nenhum diploma, mas deixando perceber certa erudição no conteúdo da fala, pelas muitas e saudáveis leituras!

Frederico Pereira, o "Liquinho de Palmital" sempre me será homem-referência. Certamente pela lembrança que me desperta do mineiro "Silva Gomes", meu velho pai, cuja partida ocorreu em 2003, aos oitenta e sete. Algumas semelhanças entre eles eu posso alinhavar: cristão protestante, convertido na juventude; diácono batista por muitos anos; casado por mais de cinquenta anos com uma esposa igualmente cristã; filhos (no nosso caso, somos seis) criados nos moldes bíblicos... E não somente por isso. Também pela vida exemplar, abençoadora, proclamando qual sermão vivo a quantos queiram saber, que o Ser Criador do Universo de que fala a Bíblia Sagrada, é real. Vida longa para o meu amigo Frederico Pereira, carinhosamente conhecido por "Liquinho de Palmital"!


Fonte: O Autor
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir