Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 02-12-2013

Todos contra a hipocrisia
�Tema espinhoso na medida em que convoca a pensar sobre aquilo com que a sociedade n�o � muito afeita a se haver: as quest�es que lhe s�o pr�prias, a fissura da qual padece�, M�rcia Tiburi
Todos contra a hipocrisia
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"Tema espinhoso na medida em que convoca a pensar sobre aquilo com que a sociedade n�o � muito afeita a se haver: as quest�es que lhe s�o pr�prias, a fissura da qual padece", M�rcia Tiburi.

Quem disser que n�o usa drogas hoje ou � ing�nuo ou mentiroso. Praticamente, o uso de subst�ncias que alteram o estado mental vem acompanhando o ser humano h� milhares de anos, quer seja por raz�es culturais, sociais ou religiosas. Claro que essa rela��o pode ser inofensiva, dependendo do caso, por�m temos que ficar atentos quanto a isso quando os padr�es de utiliza��o de bebidas, medicamentos e outros come�am a ser alterados.

Ser� mesmo que devemos considerar o uso de drogas um tabu, se o que temos � uma sociedade t�o fissurada que "obriga" o sujeito a se viciar? Este questionamento n�o � mencionado nas falas prontas cheias de desconfian�a, �dio ou medo das rodas restritas nos semin�rios acad�micos ou debates em torno do assunto frequentemente realizados.

Vivemos em uma pol�tica de consumo exagerada com a expans�o da ind�stria de psicof�rmacos. Talvez ligada ao neoliberalismo e a p�s-modernidade. Os resultados deste cen�rio n�o s�o suficientes no sentido de curar o sofrimento humano, uma vez que a ess�ncia da droga psiqui�trica n�o � curativa e sim supressiva. Os medicamentos serenam, mas n�o curam. S�o "camisas de for�as qu�micas". Segundo estudiosos, prendem a constitui��o subjetiva do indiv�duo ou prendem o indiv�duo dentro de sua psicopatologia.

As drogas s�o um centro de poder important�ssimo. As l�citas est�o em toda parte gerando lucro, emprego e renda, enquanto que as il�citas servem para aumentar o gozo, o prazer e tamb�m movimentar grande quantidade de capital com fins de controle pol�tico legal. Vale ressaltar duas coisas: as l�citas tamb�m t�m a mesma utilidade das drogas il�citas e estas, ligadas ao submundo do crime organizado, financiam campanhas milion�rias.

Para sermos eficazes no que propomos (uma reflex�o s�ria que envolve an�lise cr�tica e desmistifica��o do fen�meno da toxicomania, sem julgamento moral) devemos primeiro olhar para tr�s e saber at� que ponto evolu�mos quanto aos estudos, procedimentos para, a� sim, nos contextualizarmos com a quest�o.

� f�cil imprimir jarg�es "todos contra as drogas" no meio de uma sociedade repleta de hipocrisia. O mesmo sujeito que condena o compulsivo pelo crack ou coca�na compra diariamente seus cigarros na padaria, ou aquele (a) que julga o "beberr�o" como vagabundo e irrespons�vel � o mesmo (a) que toma altos miligramas de diazep�nicos para dormir. Notem que todas as subst�ncias (crack, coca�na e tabaco / �lcool e diazep�nico) t�m o mesmo princ�pio ativo. No fundo, passeando pelo jarg�o popular, � a mesma coisa.

L�gico que h� exce��es. Algumas pessoas ficam vicias em medicamentos porque outras s�o dependentes de drogas il�citas. Acontece na maioria das fam�lias que tem este tipo de problema, s�o codependentes. Mas a dor ou o sofrimento n�o desaparece num engradado de cerveja ou depois de uma p�lula para dormir, ao contr�rio, aumenta junto com os problemas.

"Verdades" cient�ficas e jur�dicas, do ponto de vista moral, � parte, voltamos a nos questionar o motivo pelo qual toda a nossa sociedade vive hoje uma "epidemia" consumista de drogas. � certo dizer que os discursos inflamados com motiva��es emocionais t�m alguma validade ou fun��o salvadora milagrosa? Creio que n�o!

Fonte: O Autor
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir