Categoria Geral  Noticia Atualizada em 14-12-2013

Beltrame faz balanço positivo e admite chance de superar meta de 40 UPPs
Secretário não poupará esforços para garantir a ordem em áreas pacificadas. Secretário prevê resistência na Maré, uma das próximas a receber UPP.
Beltrame faz balanço positivo e admite chance de superar meta de 40 UPPs
Foto: g1.globo.com

Há quase cinco anos o Rio de Janeiro acompanhou a instalação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Cinco anos depois, o secretário de Segurança Pública do estado e um dos principais idealizadores do programa de UPPs, José Mariano Beltrame, afirmou, em entrevista exclusiva ao G1, que ainda não há motivos para comemorar e que toda resistência encontrada pela polícia em locais que eram considerados grandes redutos do tráfico será enfrentada com extremo rigor.

O secretário ainda admitiu a possibilidade de superar a meta inicial do programa, que era de 40 UPPs. "Nossa ideia é fazer as 40 e, quem sabe, até mais um pouquinho". Sobre a possível tentativa de criminosos retomarem territórios em regiões já pacificadas, o secretário é enfático e adverte que, se preciso, pedirá reforço de outras esferas para garantir a ordem em áreas como a Rocinha, o Alemão e, em breve, a Maré, onde Beltrame acredita que as forças policiais encontrem resistência de facções.

- Qual o balanço que o senhor faz dos 5 anos do programa de Polícia Pacificadora?

UPP é como um filme. O resultado dele é muito bom, mas ele tem trechinhos, alguns quadros que são problemas, que são crises. Mas o filme, em si, tem resultado muito bom. Mas ainda é muito difícil, muito complicado. A história da polícia tem problemas de formação, de policiais que ainda usam truculência, tem a comunidade que não acredita muito na polícia, essa relação, esse paradigma que só vai mudar no transcorrer dessa caminhada. Enquanto esse filme passa, isso vai mudar também. Mas tenho certeza que quem pesquisar os dados vai ver que tem muita coisa boa. Tenho certeza que a vida das pessoas mudou. Mas acho que não tem nada ganho, não tem vitórias, porque segurança pública é um jogo que não se vence, é um jogo em que é preciso antecipar os fatos para que eles não aconteçam. Principalmente, aqui no Rio de Janeiro, onde as pessoas têm uma memória traumática. Durante 40 anos elas assistiram pessoas morrendo e levando tiros.

- O governo chega à meta de 40 UPPs até o final de 2014?

Eu espero terminar antes do fim do ano e pode ser até que passe um pouco mais das 40.

Também vamos fazer muitas Companhias Destacadas. Essa época nós temos um esforço muito grande aqui que é a questão de fim de ano. Natal, compras, movimento de pessoas na rua, essa época vem muita gente para o Rio de Janeiro, então a gente inicia agora o que a gente chama de operação Papai Noel, aonde a PM, mais uma é muito demandada. Mas a nossa ideia é fazer as 40 e, quem sabe, até mais um pouquinho.

- Qual foi a prioridade do governo para a escolha das comunidades?

Pegamos 40 maciços onde víamos que a criminalidade era maior, que eram redutos fortes de facções criminosas, onde se tinha equipamentos públicos importantes, onde há uma verdadeira legião de pessoas que descem para trabalhar e onde se tinha um entorno com manchas criminais muito grandes. A primeira que a gente fez dentro do nosso planejamento foi a Babilônia/Chapéu Mangueira. O Dona Marta nós fizemos porque teve uma grande operação policial onde conseguimos prender as lideranças. A segunda foi a Cidade de Deus, porque o comandante do batalhão na época fez um estudo muito simples e viu que nas ocorrências policiais de Jacarepaguá, a maioria dos presos era da Cidade de Deus. Como ele não tinha efetivo, ao invés de ficar nas ruas, foi para dentro da Cidade de Deus. Isso deu um resultado tão grande que ele não conseguiu sair mais de lá. E a terceira que nós fizemos meio fora do planejado foi o Batan, que deu aquele problema na época da milícia. Quando veio a Babilônia e o Chapéu Mangueira o projeto já estava todo escrito e delineado.

- Em função dos episódios recentes, a Rocinha e o Alemão podem ser consideradas as comunidades mais difíceis, com maior resistência à entrada da polícia?

O local está muito ligado à facção. Então você tem Rocinha e São Carlos, que foram os berços da ADA, e essas áreas estão ocupadas. Obviamente que a polícia hoje lá é a maioria do que bandidos. você tem o tráfico lá? Tem o tráfico, tem a venda de drogas. Mas nunca foi o objetivo da UPP acabar com o tráfico. O objetivo da UPP é a liberdade de ir e vir e permitir que aquilo ali se torne uma cidade como é em outros lugares. Essa janela de oportunidades que a UPP quer. Se você prender todas essas pessoas ligadas a ADA, você termina com a facção. Acabou a ADA no Rio de Janeiro. Então, esses lugares vão resistir muito porque tem toda uma história. Assim como no Complexo do Alemão é o Comando Vermelho.

Ainda tem problema na Serrinha, na Vila Kennedy, mas o nascedouro da facção é nesse lugar.

Então eles (os criminosos) vão ser mais resistentes. Está muito enraizado ao local a questão da facção criminosa.

- O conjunto de favelas da Maré é uma das quatro regiões a ser pacificada em 2014. O senhor acredita que lá também haja maior resistência por parte dos criminosos?

Assim, já vou te antecipar, no dia em que chegarmos a determinadas áreas da Maré, pode haver resistência. Duas comunidades ali são reino do TCP. Possivelmente, nesses lugares eles vão resistir, porque se perderem ali, o jogo está acabado. Mil e quinhentos homens vão atuar na Maré, em três ou quatro etapas, o que não é uma coisa trivial.

- Pode ser considerado um retrocesso o fato de o Choque ter voltado para a Rocinha e o Bope para o Alemão quase dois anos após a pacificação dessas áreas?

Acho isso uma demonstração de que nós temos que ir para frente. Nós temos que passar para as pessoas a crença de que isso veio realmente para ficar. Se eu tiver que botar o Bope, se eu tiver que botar o Choque, o Canil, se eu tiver trazer o Exército, se eu tiver que fazer o que for, eu irei para frente e vou sempre mostrar e provar para essas pessoas que o Estado é mais forte que esses caras. Eu não me importo de dizer abertamente: Volta o Bope, volta o Choque, no sentido de fazer os acertos, de passar a sensação de segurança e mostrar para as pessoas que nós somos mais fortes que eles, do que ficar ouvindo disparos.

Eu tenho que amparar esses lugares. E enquanto isso acontece, nós temos investigações que estão correndo paralelamente para ver se a gente consegue tirar essas pessoas de lá.

- As manifestações e o caso Amarildo ajudaram a enfraquecer a imagem da polícia?

Com essas manifestações ninguém ganhou. A polícia não ganhou nada, pode, de certa forma, ter tido a imagem arranhada, não tenho dúvida. Mas acho, sobretudo, que ninguém ganhou, nem manifestante, nem polícia, nem sociedade. Acho que a democracia é o emprego de liberdade e liberdade implica em ir e vir e deixar as pessoas fazer o que elas querem, sem incomodar as outras. Então, se eu tenho uma pessoa que está quebrando coisas e jogando coisas nas outras, eu tenho ali direitos fundamentais que também estão sendo lesados. E o Amarildo também foi muito ruim, sobretudo para a família. O que nós podemos tirar disso foi que nós apresentamos à sociedade, através do poder judiciário, 20/25 pessoas envolvidas, inclusive oficiais. Não houve e não está havendo nenhum tipo de corporativismo.

- Está sendo difícil mudar a mentalidade dos policiais militares para esse novo formato de polícia de proximidade e não de combate?

Infelizmente, nesses durante todos esses anos os policiais foram jogados na guerra. Eles entravam nesses lugares para fazer guerra, eles não entravam como operadores de segurança.

E eles iam fazer guerra porque lá eles encontravam a guerra. Eles também eram repelidos de lá com armas de grosso calibre. E entre eles e os traficantes está a sociedade, que sofreu muito. A polícia entrava lá, dava tiro, errava tiro, matava, morria, tinha bala perdida. E as pessoas muitas vezes ainda tinham que esconder traficante e armas e não podiam falar nada. Eram reféns desse imperador. A história disso aí ficou muito ruim. Então, agora vem a polícia com um uniforme diferente dizer que é minha amiga? É óbvio que isso não existe.

E como arrumar isso? Com muita instrução na academia, o currículo foi todo mudado. Tem lugares onde isso está funcionando muito bem, tem lugares onde ainda tem policiais que, infelizmente, ainda insistem nessa prática.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir