Categoria Policia  Noticia Atualizada em 21-12-2013

Cigarro eletrônico passa a ser proibido em lugares públicos e fechados em Nova York
E-cigarettes vêm de certa forma tornando o tabaco aceitável novamente
Cigarro eletrônico passa a ser proibido em lugares públicos e fechados em Nova York
Foto: g1.globo.com

NOVA YORK - É noite de sexta-feira numa casa de shows do Brooklyn e o povo fuma sem parar (a bartender inclusive). Domingo à tarde, restaurante fino: a senhora da mesa ao lado dá suas baforadas entre um prato e outro. Numa manhã de terça-feira, à espera do metrô no Upper West Side, um rapaz também acende um cigarro tranquilamente - mas acaba interceptado por um guarda. Dez anos depois da proibição do fumo em lugares públicos fechados de Nova York, numa iniciativa que logo se alastrou pelo mundo, o hábito ensaiava uma volta, com a crescente popularidade dos cigarros eletrônicos. Mas os vereadores da cidade decidiram, por 43 votos a 8, estender ao novo produto as restrições de locais para o consumo do cigarro convencional. Prestes a deixar o cargo, o prefeito Michael Bloomberg deve sancionar a lei.

Vendidos como uma alternativa menos prejudicial, os dispositivos - que são movidos a bateria e liberam uma solução de nicotina sem tabaco, produzindo vapor no lugar de fumaça - vêm de certa forma tornando o cigarro aceitável novamente, desfazendo um trabalho de demonização que consumiu décadas, desde que seus malefícios se tornaram impossíveis de ignorar. Nesta linha, a presidente da Câmara de Vereadores, Christine Quinn, defendeu que permitir o uso de cigarros eletrônicos em locais fechados poderia fazer com que fumar nesses lugares voltasse a ser normal. Em novembro, ao sancionar lei que proíbe a venda de tabaco para menores de 21 anos, Bloomberg já tinha dado um passo contra os e-cigarettes ao incluí-los no texto.
- Não queremos um só passo atrás nisso - disse Christine.
O mercado dos chamados e-cigarettes já movimenta US$ 1,7 bilhão só nos Estados Unidos (o comércio de maços convencionais, por sua vez, chega a US$ 90 bilhões). Para os fabricantes, Nova York teve pressa na decisão.
- Empresas como a nossa querem ser responsáveis, mas quando há municípios que julgam prematuramente o que pode ou não, sem base científica, acho que é um desserviço ao público - disse o presidente da Logic, Miguel Martin.
Testes inconclusivos
As empresas argumentam que seus produtos não são uma porta de entrada para o consumo do cigarro convencional, e sim uma ferramenta que ajuda a parar de fumar. Segundo um estudo publicado pela revista de medicina britânica "The Lancet", 7,3% dos fumantes ouvidos pararam de usar tabaco depois de seis meses dedicados aos e-cigarettes - mas especialistas consideram apenas ligeiramente superior ao de fumantes que deixaram o hábito com a ajuda de adesivos de nicotina.
As companhias também afirma que o e-cigarette é mais saudável por oferecer nicotina sem fogo, cinzas, fumaça, cheiro ou monóxido de carbono, e especialistas em saúde pública costumam concordar que o nível de toxinas é menor. Mas estes também ressaltam, ecoando os detratores, que o produto ainda não foi suficientemente estudado e, por isso, seus potenciais malefícios são desconhecidos.
- Meu nariz e minha garganta estão queimando. Estou com forte dor de cabeça agora porque estava sentado entre essas pessoas fumando cigarros eletrônicos - disse o estudante John LaSorsa, de 16 anos, durante uma audiência pública sobre o produto, com muitos na plateia de cerca de 200 pessoas usando o cigarro eletrônico propositalmente.
Ainda não há regulação nacional sobre o produto nos EUA. Estados como Nova Jersey, Dakota do Norte, Arkansas e Utah já vetaram o uso de e-cigarettes em lugares públicos e fechados. Em Nova York, a proliferação é vista por alguns como uma ameaça que pode encorajar as novas gerações a adquirir maus hábitos.
- As crianças que não sabem diferenciar um cigarro tradicional do eletrônico estão entendendo que fumar é socialmente aceitável - criticou o vereador James Gennaro. - Não quero esperar a grande indústria do tabaco assumir a dos cigarros eletrônicos, porque aí não vamos conseguir nada em Washington, as pessoas estarão compradas.
O secretário de Saúde, Thomas Farley, fez coro:
- Não podemos garantir que os e-cigarettes sejam seguros. Será que eles ajudam as pessoas a parar de fumar, ou será que ajudam a não parar? Enquanto precisarmos de mais estudos, esperar para agir é um risco que não devemos tomar.
Opiniões divididas
O mercado parece pronto para a briga. Estima-se que existam 200 empresas especializadas nos EUA, a maioria de pequeno porte. Uma marca de cigarros eletrônicos, a Blu, foi comprada pela empresa de tabaco Lorillard - e bastaram poucos meses para que ela se tornasse líder de mercado, no lugar da pioneira Njoy. A Philip Morris planeja lançar uma linha de e-cigarettes no ano que vem. Embora os números estejam caindo, os EUA têm, hoje, 40 milhões de fumantes tradicionais.
Em Nova York, a novidade tem atrapalhado o cumprimento da lei antifumo. Pelo sim, pelo não, o Ace Hotel - um dos lobbies mais agitados de Manhattan - já decidiu proibir o uso do cigarro eletrônico, sob a alegação de que, ao ver uma pessoa tragando, outra pode se sentir confortável para acender um cigarro de verdade.
- Detesto cigarro e fiquei muito feliz quando o prefeito proibiu o fumo em bares. Mas esses não me incomodam em nada, não tem fumaça alguma - disse o o escritor Jerry Saltzberg na tal casa de shows do Brooklyn que abre este texto.
Ao seu lado, e-cigarette entre os dedos, a designer Hannah Morgan defendeu-se:
- Agora posso fumar onde quiser, quando quiser. Não paro mais de trabalhar para fumar um cigarro. E não cheiro mais como um cinzeiro.




Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir