Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-12-2013

Na Terra Santa, a paz definitiva ainda é um sonho...
... mas iniciativas de coexistência e diálogo são realidade
Na Terra Santa, a paz definitiva ainda é um sonho...
Foto: g1.globo.com

O escritório de Rami Elhanan, de 63 anos, é tudo o que se espera do espaço de trabalho de um designer gráfico. Localizado no 1º andar de um prédio baixo e charmoso em Jerusalém Ocidental, o pequeno apartamento abriga dezenas de livros. Extensas bancadas estão abarrotadas de projetos. No chão, encostado à parede, um clássico pôster da propaganda sionista, com tons de realismo soviético, ilustra um casal jovem com enxadas na mão. A estrela de Davi azul da bandeira de Israel aparece logo atrás. "O bairro chama-se Gonen Katamon. Aqui houve uma batalha sangrenta em 1948, a maioria das famílias palestinas que viviam aqui abandonou suas casas por medo da violência", diz Elhanan, ao apresentar o local. Nascido em Jerusalém, ele representa a sétima geração de judeus hierosolimitas de sua família por parte de mãe. Seu pai nasceu na Hungria e sobreviveu ao campo de extermínio de Auschwitz. Se Elhanan já nasceu como sobrevivente de uma história de drama e sofrimento familiar, mais difícil ainda foi vivenciar sua própria. Em 1997, perdeu a filha, Smadar, morta num atentado palestino na histórica cidade, coração da Terra Santa. "Perder uma filha é a pior dor que um pai pode sentir. Não quero que ninguém mais sinta isso", diz Elhanan. Ele luta por esse objetivo. No ano seguinte à morte de Smadar, entrou para a organização Círculo de Pais – Famílias em Luto pela Paz. O fórum reúne cerca de 500 famílias palestinas e israelenses que perderam parentes próximos – pais, filhos, filhas, maridos, mulheres, irmãos e irmãs – no conflito entre os dois povos que se arrasta por mais de seis décadas. "Somos a única organização do mundo que não deseja novos integrantes."
Pai de outros três rapazes, Elhanan descreve a vida da família antes da tragédia como uma espécie de bolha. "Fui soldado durante a guerra de 1973. Perdi muitos amigos, me desiludi, fiquei com raiva. Tinha decidido ficar longe da política ou de qualquer discussão sobre o tema. Vivíamos felizes, isolados de qualquer discussão." Antes de morrer, Smadar, de 14 anos, caminhava pela Rua Ben Yehuda, um dos principais centros comerciais de Jerusalém, em busca de material escolar com duas outras amigas. Era início do ano letivo. Dois homens-bomba palestinos detonaram seus explosivos – e mataram, com eles, cinco israelenses, incluindo Smadar. As bombas que levaram a filha de Elhanan estouraram a bolha em que sua família vivia. Levaram-no a se engajar no projeto de diálogo e convivência com palestinos. "A violência não vai parar enquanto não conversarmos."

Iniciativas de coexistência e diálogo entre israelenses e palestinos, como o Círculo, proliferaram em Israel na década de 1990, como parte do otimismo gerado pelos Acordos de Oslo, assinados em 1993. A imagem histórica em que o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, aceita o aperto de mão de Yasser Arafat, líder da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), em Washington, até hoje é vista como o momento em que uma resolução do conflito parecia próxima. Na época, muitos autoexilados de ambas as nações retornaram a sua terra, com esperança renovada. Dezenas de ONGs foram criadas, com o objetivo de construir bases de diálogo entre as duas sociedades, ansiosas pelo fim do conflito. Que não veio. O assassinato de Rabin por um radical de direita israelense, em 1995, o extremismo dos grupos Hamas e Jihad Islâmica, responsáveis por diversos atentatos suicidas contra civis, e o distanciamento das lideranças levaram ao agravamento do conflito. Uma segunda intifada – rebelião palestina contra a ocupação israelense –, logo no início do milênio, calou as esperanças de pacificação.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir