Categoria Economia  Noticia Atualizada em 03-01-2014

2º maior PIB industrial do país, Campos, RJ, "importa" trabalhadores
Indústria do petróleo aumentou renda e busca por novas habitações. Mão de obra, porém, é insuficiente e pouco qualificada.
2º maior PIB industrial do país, Campos, RJ,
Foto: g1.globo.com

Luiz Ribeiro Nascimento Júnior, de 34, servente de pedreiro, diz que nunca ficou sem trabalho. "Aqui tem muito emprego, vagas não faltam. Falta gente para trabalhar", diz ele, que ganha em torno de R$ 900 por mês.
Nascimento Júnior trabalha na construção de um condomínio residencial na área nobre de Pelinca, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, onde a construção civil vem puxando para cima os indicadores da indústria – e tornando a mão de obra qualificada um item escasso.
O setor industrial de Campos é o segundo maior do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2011, a indústria da cidade gerou R$ 28,6 bilhões em PIB, ultrapassando o Rio de Janeiro, com R$ 23,6 bilhões. À frente, ficou apenas São Paulo, com R$ 76,9 bilhões.
A atual riqueza da cidade vem da produção do petróleo, que elevou a massa salarial dos moradores e incentivou a migração, fazendo explodir a demanda por novas habitações, segundo a Firjan.
Obras de prédios residenciais, muitos de alto padrão, de prédios corporativos e hotéis "pipocam" pela cidade, e engenheiros e mestres de obras sofrem com a falta de mão de obra. Motivos: a falta de qualificação dos candidatos e a concorrência com obras de grande porte como o superporto do Açu, megaempreendimento do empresário Eike Batista que, com a crise nas empresas do grupo EBX, reduziu o ritmo das obras, mas não chegou a parar.
"É o ingrediente novo. A indústria do petróleo gera uma massa salarial muito significativa na região, sem medo de errar, afirmo que são R$ 8 bilhões por ano só a partir de Macaé e essa massa salarial é aplicada em comércio, serviços. E resulta num PIB significativo para a região", diz Luiz Mário Concedida, gerente regional da Firjan.
A cidade hoje emprega 11,4 mil trabalhadores com carteira assinada na construção civil, segundo o presidente do sindicato do setor, José Carlos Eulálio. Dez anos atrás, diz ele, eram 7,2 mil.
Escassez
Mas a oferta de mão de obra é insuficiente e, em boa parte, com baixa qualificação.
"As obras não param. O problema é a mão de obra. Estamos importando trabalhadores de vários estados, do Nordeste, até paraguaios e uruguaios. Isso nos preocupa. Estamos tentando corrigir isso oferecendo cursos de qualificação em parceria com institutos técnicos, com a Secretaria de Trabalho e Renda e com as próprias empresas", diz Eulálio.
"Hoje um pedreiro, no porto ou no prédio, não chapa mais massa com a colher. Hoje tem máquina para injetar a massa, mas os trabalhadores não sabem manejar o maquinário. Estão adquirindo essa atualização aos poucos", disse.
Qualificar a mão de obra é um desafio e uma meta da Secretaria de Trabalho e Renda de Campos, segundo a diretora-geral, Andrea Soares Manhães. Segundo explica, a herança e as tradições da época dos grandes canaviais deixou a população rural sem muito estímulo para modernizar-se.
"Estamos tentando implantar nessa população o sonho de poder evoluir para além da agricultura primitiva", explica. "A demanda por mão de obra para offshore e construção é absurda. Mas também qualificamos aqueles que buscam o primeiro emprego, as donas de casa que cuidam de filhos e netos".
O engenheiro de obra Silvio Araújo confirma que a demanda por mão de obra é grande. "Além da falta de qualificação, há a concorrência com o Porto do Açu. Os mestres de obras e engenheiros trazemos do Rio de Janeiro", disse.
Salários
A alta demanda eleva os salários: um servente começa com cerca de R$ 900 na carteira, mas com horas extras pode chegar a ganhar R$ 2 mil, afirma o sindicalista. O salário de um pedreiro começa em R$ 1.600, o de um soldador simples, R$ 2.300, e o soldador mais qualificado, R$ 4 mil.
Segundo Eulálio, o sindicato recebe por dia de 70 a 80 currículos e os candidatos em geral conseguem o emprego.
"Estou em Campos há dois anos, nunca fiquei sem emprego nem tive dificuldade de achar trabalho. Não fiz curso, aprendi carpintaria na obra mesmo", diz o pernambucano Thiago da Silva Santos, de 24 anos, que trabalha nas obras de um hotel no centro da cidade. Ele diz que seu salário registrado é de cerca de R$ 1,2 mil, mas os trabalhos extras que faz elevam a renda a até R$ 4 mil por mês.
Luiz Maurício Campos, de 31, anos, é gancheiro (maneja elevadores), função para a qual fez curso, e ganha R$ 1,130. "Mas com hora extra chega a R$ 1.300. Nunca teve dificuldade em achar emprego", disse.
Já o colega Jociano da Conceição Cispim, de 37, sempre foi servente, nunca teve problema para achar emprego e espera a promoção a carpinteiro para ganhar mais. "Sou servente e me especializei em carpintaria. Estou apenas aguardando um certificado para assumir uma nova função", contou.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir