|
ITAIPAVA, MINHA PRAIA.
|
|
A netinha de doze anos n�o precisou insistir muito. Uma bola meio murcha, uma breve caminhada e l� vamos n�s rumo �s areias de Itaipava. A bem da verdade, a mente e o corpo j� pediam isso h� dias... Em l� chegando, a primeira coisa que a pequena estudante, antenada com a preserva��o do meio ambiente observou foi o inc�modo imposto aos caranguejos eremitas em consequ�ncia do trabalho intenso que est� sendo feito na Praia de Itaipava, com uso de modernas e potentes dragas. Ela me disse que estivera ali na semana do Carnaval com sua priminha, vinda de Colatina, tamb�m estudante, e as duas comentaram a quest�o. Argumentei, usando a velha e batida explica��o do omelete em rela��o aos ovos... Ou seja, aquela m�xima, por vezes inaceit�vel, de que os fins justificam os meios... Na verdade, eu n�o tinha pensado na situa��o daqueles pequenos seres aqu�ticos. Admito. Por isso, fingi que n�o notei o seu ar de quem n�o concordava muito comigo. Preferi ensaiar um discurso meio bairrista destacando a antevis�o de uma praia que ficar� linda, ampla e convidativa. Uma vez que ela mora em Marataizes, lembrei-lhe de como l�, a praia tinha sido recuperada, deixando para tr�s aquela vis�o terr�vel de invas�o do mar, eros�o destruindo assustadoramente at� a pista de rolagem de ve�culos, moradores e turistas j� ficando meio desiludidos... L� o problema demorou, segundo alguns boquirrotos, mas foi resolvido. "- Aguardamos os mesmos resultados para a Praia de Itaipava. Voc� vai ver!". De soslaio, percebi que ela n�o embarcou muito no meio entusiasmo... Deixa pra l�. No fundo, no fundo... e no raso tamb�m, eu fiquei pensando nos caranguejos eremitas. E entre um golzinho e outro (Jogando com ela eu sou o "Messi".),eu ficava pensando onde havia lido alguma coisa sobre os tais crust�ceos que ela mencionou. "Gola�o!! Gol do caranguejo eremita!!" "Outra vez. Dominou, passou com extrema facilidade. De perna esquerda, agora, chuta e � gol!...Goool do caranguejo eremitaaaaa!!! Por fim, depois de muitos gols marcados e sofridos eu estava extenuado, pedindo �gua. Falei que estava muito escuro e que o vov� n�o estava enxergando mais as traves improvisadas com sand�lias, mas a "Magricelinha" queria mais. N�o sei, ao certo, quanto tempo brincamos. Embora me considere um sexagen�rio atleta, o leitor h� de convir que a disputa era meio desproporcional. Minha advers�ria tem apenas um quinto da minha idade! E nem todo atleta � o Z� Roberto do Gr�mio. � ou n�o �? Voltei pra casa um baga�o, amigo. Mas se o leitor quer saber, (E acho que j� est� adivinhando), o que esse baga�o logo procurou fazer ao chegar em casa foi visitar o "Grande S�bio Google". "- Dizei-me, oh Profundo Guru, o que vem a ser caranguejo eremita?" E solid�rio , como s� os s�bios o s�o, ele me disse: " - Como � que um homem desta idade n�o sabe isso?" Respondi, envergonhado, que na minha �poca n�o havia tanta preocupa��o com o ecossistema. Dizimava-se a fauna, destru�a-se irresponsavelmente a flora, entregava-se aos gringos nossa Floresta Amaz�nica por interesses puramente pessoais, polu�a-se rios e mares sem a menor cerim�nia... E que hoje, as crian�as est�o recebendo uma no��o nova, tendo mais consci�ncia ecol�gica... O s�bio interrompe-me no meu bl�-bl�-bl� e, com autoridade, ordena: "-Anote, pasc�cio ignorante!: Caranguejo eremita faz parte da esp�cie dos crust�ceos "coenobita brevimanus", s�o naturais das Ilhas Cara�bas e do M�xico, t�m expectativa de vida de 30 anos, chegam a atingir entre 05 a 30 cm; seu habitat s�o as praias arenosas a uma temperatura de 26�. T�m o abd�men mole e por isso se protegem morando em conchas de carac�is abandonadas, eles pr�prios abandonam essas conchas e pegam outras quando ficam muito grandes para elas. S�o esp�cimes muito procurados, cultivados que s�o como animais de estima��o. Os entendidos aconselham: nunca se deve comprar um s� caranguejo eremita, pois estes s�o muito soci�veis, podendo morrer de stress. Alimentam-se de frutas e vegetais. Deve-se manter o substrato (areia para cultiv�-lo) sempre �mido para que, mesmo os maiores possam se enterrar completamente e ficar no escuro, pois no seu habitat natural, os eremitas enterram-se, habitualmente..." Anotei, sim, mas n�o quis pensar mais nisso. Afinal, estamos - sim, estamos! - investindo milh�es nesta obra de recupera��o da nossa praia: vinte milh�es e meio!! se, contrariando a todos os progn�sticos, ficarmos dentro do or�amento divulgado. Amenizemos: afinal, a netinha deve ter exagerado um pouco nas suas preocupa��es ecol�gicas... Minha praia est� ficando linda! P�er longo, sinuoso, dando destaque ao Porto, com os seus barcos de pesca, ancorados, conferindo um tom rom�ntico ao cen�rio. "A mais!!", como dizem os meus vizinhos... Sem querer ser exacerbadamente bairrista, a Praia de Itaipava ser� o nosso perfeito cart�o postal. Quem viver ver�! Viveremos e veremos!! Fonte: Reda��o Maratimba.com
|
| Por: Silvio Gomes Silva | Imprimir |
|
|
 |
